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Asteroide passará "de raspão"

Rocha espacial de 45m de diâmetro ficará a 27 mil quilômetros da Terra nesta sexta-feira, uma distância 10 vezes menor da que separa o planeta da Lua. Especialistas da Nasa garantem que não há risco de choque

postado em 14/02/2013 08:00


Cena de vídeo produzido pela Nasa mostra a aproximação do 2012 DA14: próxima visita ocorrerá em 2046 (Fotos:Nasa/Divulgação )
Cena de vídeo produzido pela Nasa mostra a aproximação do 2012 DA14: próxima visita ocorrerá em 2046


Poucos devem notar, mas nesta sexta-feira um brilho discreto e incomum vai passar rapidamente pelos céus. O borrão luminoso será o sinal do maior asteroide a se aproximar do planeta desde que esses corpos se tornaram objeto de constante estudo e monitoramento, há 15 anos. Em termos espaciais, a rocha vai passar ;de raspão; na Terra, a 27 mil quilômetros. Para se ter uma ideia, o corpo transitará numa linha entre os satélites de comunicação e os de GPS, 10 vezes mais perto do planeta que a Lua. Mas astrônomos asseguram que ele só está de passagem e que não há riscos de choque.

A visita, na verdade, deve ser fugaz: o asteroide conhecido como 2012 DA14 viaja a 28 mil quilômetros por hora, deixando para trás um brilho mais fraco que o de Vênus. A distância pode torná-lo aparentemente insignificante, mas o corpo tem 45m de diâmetro (o equivalente à metade de um campo de futebol) e pesa 130 mil toneladas. Ele poderia causar um impacto equivalente a 2,4 milhões de toneladas de dinamite se atingisse a superfície terrestre. A última vez que um corpo dessa dimensão se chocou contra o planeta foi em 1908, sobre a Sibéria, derrubando milhões de árvores.

Estima-se que existam meio milhão de objetos espaciais do tamanho do DA14 nas proximidades da Terra, mas uma aproximação desse tipo só ocorre a cada 40 anos. E somente um deles chega a atravessar a atmosfera a cada 1.200 anos.

O vulto brilhante deixado pela rocha espacial será visível na Europa Oriental, na Ásia e na Austrália, onde a noite vai facilitar o registro da visita. O momento de maior aproximação deve ser às 17h24 (horário de Brasília), quando ele vai atravessar o céu da Indonésia. O DA14 vai levar 33 horas para transitar pelo espaço entre a Terra e a Lua. Mesmo com a proximidade notável, o objeto não deve ter qualquer influência sobre a gravidade terrestre, nem atingir os satélites que orbitam o planeta. ;Mesmo assim, estamos trabalhando com os gestores dos satélites para que estejam conscientes da passagem do asteroide. Eles podem usar essas informações para compará-las com as próprias previsões, e ver onde os satélites estarão naquele momento;, ressaltou Donald Yeomans, gerente do Programa de Observação de Objetos Próximos à Terra (NEO, na sigla em inglês), da Nasa. ;Ninguém levantou um alerta, eu certamente não antecipo nenhum problema.;

Embora o asteroide tenha uma órbita que coincide com a terrestre, os pesquisadores da Agência Espacial Norte-Americana, que estimaram o caminho da rocha pelo próximo século, asseguram que ela não deve se chocar contra o planeta no futuro. O retorno do asteroide está marcado para 2046, quando ele vai cruzar a órbita do planeta a uma distância de 1 milhão de quilômetros.

Descoberta

O 2012 DA14 foi descoberto em fevereiro do ano passado por pesquisadores de um pequeno observatório em Mallorca, na Espanha. A equipe do grupo de pesquisa espacial La Sagra só viu o objeto depois de ele ter passado pela Terra, quando os astrônomos estudaram os registros de áreas pouco exploradas e notaram uma deformação que indicava a passagem de alguma coisa a 4,3 milhões de quilômetros. ;Tivemos muita sorte em encontrá-lo. Passamos horas vendo as imagens, pois é muito difícil encontrar novos objetos próximos à Terra fora dos pontos pesquisados pelos EUA, que fazem isso muito bem;, comentou Jaime Nomen, astrônomo que encontrou o objeto.

O encontro só foi possível, de acordo com Nomen, porque ele e seus colegas haviam acabado de receber uma doação para a compra de uma câmera mais avançada do que o equipamento amador que usavam até então. ;No primeiro momento que vimos o objeto, era quase tão claro quanto o ar. Ele não é um ponto nas imagens, você vê que ele está se movendo depressa pela distorção da trilha. Com as câmeras antigas, não daria para vê-lo;, conta. O grupo já contabiliza 6 mil objetos encontrados nos últimos dois anos, 51 deles a distâncias relativamente próximas.

O DA14 está entre os 5% de asteroides de grande proporção que passaram desapercebidos pelo programa de observação da Nasa. ;Quando um objeto como esse faz uma aparição muito rápida, ele poderia ser encontrado por qualquer um que estivesse buscando no céu;, justifica Timoty Spahn, diretor do Centro Harvard Smithsonian de Astrofísica. A suspeita é que ele tenha transitado rapidamente por uma janela da varredura feita pela agência, num ponto próximo ao polo da Terra.

A Nasa chegou a receber críticas por ter ignorado um objeto com quase 50m de diâmetro, registrado por um pequeno grupo de astrônomos com um equipamento de nível amador. Mas para Spahn, o desencontro não é motivo para colocar em xeque o trabalho da agência americana. ;O La Sagra usa a palavra ;amador; de uma forma vaga. Esse é um bando de pessoas com habilidades profissionais, que estavam pagando para manter a pesquisa. Eles estão perfeitamente preparados para fazer esse tipo de trabalho. É absolutamente impressionante o que os chamados ;amadores; fazem;, argumenta.

A Nasa agora não pretende mais perder o notável asteroide de vista, e vai monitorar a passagem histórica pelo radar Goldstone do Sistema Solar, na Califórnia. A agência espera definir com mais precisão a trajetória do corpo celeste e simular as aproximações seguintes. A equipe também deve definir com mais precisão as características do DA14, como o seu tamanho e material. ;As imagens que vamos conseguir não serão tão detalhadas, pois o 2012 DA14 é um objeto muito pequeno. Não conseguiremos imagens lindas, mas o radar vai fazer um ótimo trabalho para nos ajudar a entender a trajetória dele;, adianta Amy Mainzer, pesquisadora do Centro de Observação em Infravermelho Neowise, também da Nasa.

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Estamos trabalhando com os gestores dos satélites para que estejam conscientes da passagem do asteroide. Eles podem usar essas informações para compará-las com as próprias previsões, e ver onde os satélites estarão naquele momento;
Donald Yeomans, gerente do Programa de Observação de Objetos Próximos à Terra, da Nasa

Trajetória a ser percorrida pela rocha espacial: mais perto que os satélites de comunicação

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