postado em 22/02/2013 11:49
Carlos Martins: primeiro banco de células de animais silvestres |
O acordo está firmado e em fase de discussão. Falta definir diretrizes e escolher as espécies a serem desenvolvidas. A opção mais fácil seria a de um canídeo, como o lobo-guará. O animal, símbolo do cerrado brasileiro, pode ser um dos primeiros a serem estudados e, se possível, clonados. Outro exemplar sondado para a inauguração do projeto é o cachorro-do-mato, que também se encontra quase em risco de extinção.
Dois estudos bem-sucedidos na Coreia do Sul, ambos em 2007, fazem parte da literatura para a pesquisa de Carlos Frederico Martins. Mostram o processo realizado em canídeos (gênero animal), com o núcleo de animais silvestres em óvulos de cadelas. O primeiro, com lobos-cinzentos, resultou no nascimento de dois clones em outubro de 2005. O outro rendeu oito clones de coiote com saúde de um total de 320 embriões reconstruídos.
Amostras congeladas
O centro da Embrapa Cerrados tem, atualmente, amostras das espécies reservadas para os estudos. ;Esse trabalho surgiu da recuperação do material genético de animais mortos. Vimos que era possível resgatar esses genes e formamos um banco. É o primeiro criobanco de células de animais silvestres do Brasil;, explica Martins. Atualmente, há mais de 450 amostras congeladas (veja Preservação).
O veterinário aproveita para derrubar um mito (veja Memória). ;Eles não terão vida curta, isso não acontece na clonagem, ainda não é confirmado;, garante. ;A velhice precoce da ovelha Dolly foi um caso isolado.;
A pesquisa envolve não só a clonagem de espécies silvestres, mas outros procedimentos, como inseminação artificial, congelamento de sêmen, maturação ovocitária ; preparação dos óvulos para a fecundação ; e sincronização de cios. Dois funcionários do Zoo serão treinados para fazer a coleta de DNA tanto de gametas (óvulo e espermatozoide) quanto de outras partes do corpo dos animais, como a pele.
Negociação
No Zoológico de Brasília, os animais têm diversas procedências. Alguns são encontrados em situação ilegal e outros, salvos de maus-tratos em circos. Poucos nasceram ali mesmo. A presença de exemplares criados em laboratório é algo inédito no local. ;A ideia é produzir para a visitação interna; não pensamos em soltá-los em seu hábitat;, explica Martins.
A escolha dos animais está em negociação entre a Embrapa Cerrados e o Zoológico. A princípio, não será um número elevado. ;Como ainda não começamos a estudar as possíveis espécies, fica difícil determinar qual experiência vamos começar primeiro;, alertou a diretora de pesquisa do Zoológico, Luciana Borges. Além do lobo-guará e do cachorro-do-mato, a onça-pintada também está cogitada.
Preservação
O banco de material genético da Embrapa CTZL armazena 450 amostras de nove espécies do cerrado, coletadas tanto em animais vivos quanto em indivíduos mortos em estradas. São elas:
; Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus);
; Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous);
; Veado-catingueiro (Mazama gouazoupira)
; Onça-pintada (Panthera onca)
; Gato-maracajá (Leopardus wiedii)
; Mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus)
; Quati (Nasua nasua)
; Furão (Mustela putorius)
; Macaco-da-noite (Aotus nigriceps)
Memória
Embalsamada
Primeiro mamífero a ser clonado com sucesso, a ovelha Dolly nasceu em julho de 1996, como resultado de pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Roslin, da Universidade de Edimburgo, na Escócia. Com o núcleo de uma célula das glândulas mamárias de uma ovelha adulta transferido para um óvulo, era idêntica ao animal que forneceu o material genético. Em janeiro de 2002, recebeu o diagnóstico de artrite e, um ano depois, foi sacrificada. A espécie de Dolly vive cerca de 12 anos, e sua morte precoce esteve associada ao fato de ela ser um clone ; hipótese descartada pelos cientistas. O corpo está embalsamado no Museu Nacional da Escócia.