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ONGs e jornalistas discutem como a primeira infância é vista no Brasil

Workshop reuniu profissionais interessados no tema para avaliar contribuição da imprensa no fornecimento de informações sobre o desenvolvimento de crianças entre 0 e 6 anos

Gustavo Aguiar
postado em 14/03/2013 16:57
Para discutir a percepção da sociedade e da imprensa no que diz respeito à primeira infância no Brasil, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) promoveu na última terça-feira (12), em São Paulo, um encontro entre especialistas, jornalistas e profissionais da mídia interessados no tema. O workshop teve como objetivo apresentar e relacionar os levantamentos mais recentes sobre o assunto e avaliar a contribuição dos meios de comunicação como ferramenta para pais e mães de crianças com idades entre 0 e 6 anos.

Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Instituto Ibope e Andi apresentaram estudos sobre a percepção da sociedade e da mídia a respeito da primeira infância no Brasil.Um levantamento recente do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) mostra que os pais brasileiros tendem a priorizar os cuidados com a saúde em detrimento à garantia de lazer, carinho e atenção dedicados à criança. Ao mesmo tempo, a imprensa reflete e reforça os valores da sociedade quando aborda assuntos ligados à primeira infância, segundo revela um levantamento realizado pela Agência de Notícias de Direitos da Criança (Andi). O estudo assinala que os veículos de comunicação valorizam mais reportagens que visam divulgar os cuidados médicos que os pais devem ter durante esse período de desenvolvimento dos filhos, e dão menor atenção aos aspectos que estimulam o desenvolvimento cognitivo, cultural e emocional das crianças.

;Ninguém está errado. Manter a saúde da criança em dia é altamente recomendado. Mas brincar, dar carinho e conversar com a criança é tão importante para o seu desenvolvimento saudável quanto vaciná-las, por exemplo;, explica a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, referência no estudo do cérebro humano que apresentou, durante o encontro, algumas das descobertas mais recentes sobre o desenvolvimento do órgão durante a infância.

De acordo com a especialista, a ciência conseguiu provar o que o conhecimento popular já sabia há muito tempo: ;Para crescer com saúde, toda criança precisa se sentir amada;, resume. Para Suzana, o desafio é que, durante essa etapa da vida, as crianças possam ser estimuladas da forma mais adequada. ;Se você trata uma criança como um problema, um prejuízo, ela vai se comportar assim. A expectativa que os adultos põem sobre a criança molda o comportamento delas diante dos desafios da vida;, destaca.

Famílias afetuosas geram crianças saudáveis
Com base em avaliações realizadas com mamíferos em centros de estudos ao redor do mundo em diversas épocas diferentes, a pesquisadora é categórica ao afirmar que crianças criadas por famílias afetuosas, que dão conforto e expectativas positivas são mais saudáveis e se tornam indivíduos mais seguros e menos propensos a desenvolver problemas emocionais. ;Biologicamente falando, o que torna as pessoas mães e pais de verdade é o fato de poderem oferecer carinho. Não basta só prover carinho e garantir saúde;, argumenta.

A pesquisa realizada pelo Ibope identificou que as brincadeiras não são valorizadas espontaneamente em casa, e isso pode ser uma fonte de culpa para as mães. Uma das reclamações delas é de que, por causa das tarefas domésticas, dispõem de pouco tempo para brincar com os filhos. Algumas citam que seus maridos levam mais jeito com as brincadeiras, e acabam assumindo essa parte da educação.

Por outro lado, cabe às mães o envolvimento com assuntos ligados à saúde. O levantamento mostra que 72% das entrevistadas são responsáveis por levar os filhos ao médico, enquanto a tarefa fica à cargo dos maridos em apenas 29% dos casos. Esse índice sobe nas famílias das classes sociais C e D, mostrando a participação dos pais em 29% dos casos. ;Uma agradável surpresa, mas que levanta inúmeros questionamentos a respeito desse comportamento;, esclarece a gerente de comunicação da FMCSV, Andréa Wolffenbüttel.

Meninos e meninas
A neurocientista Suzana Herculano-Houzel garante que, durante a primeira infância, o ser humano pode aprender qualquer coisa, falar qualquer língua e se especializar em uma infinidade muito grande de assuntos. Esse é o momento de expor a criança a experiências que lhe permitam explorar o ambiente e as infinitas possibilidades. Para o desenvolvimento da fala, quanto mais rico for o vocabulário dos pais, mais vasto vai ser o dos filhos.

A especialista ressalta que a ideia que o desenvolvimento do cérebro feminino ocorre diferentemente do cérebro masculino está ultrapassada. ;Esse preconceito vem de uma época em que não se sabia nada sobre o cérebro humano. Não dá para dizer se há habilidades que só meninos podem fazer, e atividades que são coisa de menina. Isso é imposto pelos pais, e deve ser desconstruído da mesma forma;, avalia.

Ela destaca que a única diferença que a ciência conseguiu mostrar foi que, para escolha de brinquedos, meninos preferem objetos que se movem, enquanto as meninas têm mais apego por coisas que se assemelham ao formato humano. ;Isso não quer dizer que meninos só podem brincar de carrinho, e meninas, só de boneca. Há uma infinidade de possibilidades a serem exploradas.;

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