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Tribuna jovem

Respeito às diferenças, segurança, educação, saúde e alimentação são prioridades apontadas por estudantes na Comissão de Direitos Humanos do Senado. A audiência contribuirá para os Objetivos do Milênio da ONU

postado em 05/04/2013 19:00
À mesa, Mário Volpi (E), do Unicef, e Corinne Woods, da ONU (terceira à esquerda): atentos à reivindicação juvenilQuarenta e dois adolescentes de escolas públicas do Distrito Federal e de Goiás participaram ontem de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal (CDH). O evento faz parte da Campanha Meu Mundo ; iniciativa com objetivo de escutar os jovens de todos os países por meio do site (veja Como participar).

Os depoimentos contribuirão para a construção dos próximos Objetivos do Milênio ; metas traçadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estarão na agenda do órgão a partir de 2015. Telefone e internet foram as prioridades elencadas por Paula Castilho, de 17 anos, enquanto alimentação e água potável são as necessidades apontadas por Beatriz Neri, de 14 anos.

Os integrantes do grupo foram os primeiros jovens do mundo a serem ouvidos pela organização. Os presentes na audiência fazem parte do Projeto Onda, da Ong Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), e foram convidados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para representar os estudantes brasileiros.

;Ninguém melhor do que eles mesmos para falar sobre as dificuldades e os sonhos. Ameaças, preconceitos, dificuldade de ter acesso à educação;, comemora a coordenadora do projeto, Márcia Acioli. Para ela, o mais importante é os jovens saberem que há pessoas e instituições dispostas a ouvi-los. ;É emocionante. Esses meninos vivem em uma realidade precária, possuem diversos direitos negados. Mas com experiências assim, eles sabem que possuem direitos e que podem falar e ter um papel na sociedade;, imagina.

Corinne Woods, representante da ONU e diretora da Campanha do Milênio, explicou que diferentemente do que ocorreu quando a organização estipulou os primeiros Objetivos do Milênio, em 2000, elaborados por especialistas, desta vez será priorizada a participação das pessoas, principalmente dos jovens. ;Nossa intenção agora é entender o que é importante para eles dentro da realidade vivida;, frisou. No site da campanha, a ONU reuniu 16 temas nos quais pessoas de todo o mundo podem votar.

Meio ambiente

;Nós já conseguimos agrupar o que é importante para 250 mil jovens em todo o mundo. Os temas mais relevantes no Brasil, por enquanto, são educação de qualidade, governo honesto, saúde e proteção de rios e florestas;, informou a representante da ONU.

Cerca de 12 mil brasileiros já participaram da enquete. O representante do Unicef no Brasil, Mário Volpi, também ressaltou a necessidade do protagonismo dos jovens. ;Hoje, temos 21 milhões de adolescentes no Brasil e precisamos escutá-los;, acrescentou.

Após ouvir os jovens, Corinne agradeceu a participação dos estudantes e garantiu que os assuntos levantados por eles serão discutidos em reuniões no Brasil e no mundo. ;Anotei o nome de vocês e o que vocês disseram. As falas foram extremamente inspiradoras;, afirmou.

Os deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Érika Kokay (PT-DF) também participaram da audiência. ;É fundamental transformar em ação o que foi dito;, disse Wyllys. Kokay acrescentou que ficou emocionada diversas vezes ao ouvir os jovens. ;Eu me identifiquei com o que vocês falaram e lembrei-me da minha juventude;, disse.

A realização da reunião foi requerida pela senadora Lídice da Mata (PSB-BA), que coordena, no Senado, a Frente em Defesa da Infância e do Adolescência do Congresso Nacional. A audiência foi presidida pela senadora Ana Rita (PT-ES).

Como participar

No site www.myworld2015.org é possível participar da decisão dos principais objetivos para o milênio, escolhendo até 6 dos 16 pontos selecionados pela ONU. Também é possível sugerir outras prioridades.

Votação virtual

Quais pontos são importantes para você e sua família?

; Ter uma boa educação
; Ser livre de discriminação e perseguição
; Proteger florestas, rios e oceanos
; Alimentação acessível e nutritiva
; Energia em casa ; Liberdade política
; Melhores oportunidades de trabalho
; Apoio para as pessoas que não podem trabalhar
; Igualdade entre homens e mulheres
; Acesso a água potável e saneamento básico
; Transportes e vias melhores
; Um governo honesto e responsável
; Serviço de saúde melhor
; Acesso a internet e telefone
; Medidas para evitar as mudanças climáticas
; Proteção contra o crime e a violência

Fonte: Campanha do Milênio promovida pela ONU

Depoimentos

;Um governo honesto e atuante, que se preocupe com as necessidades do povo. Assim seria possível a solução de problemas como educação, acesso a alimentação de qualidade e água potável. O governo realmente preocupado é capaz de mudar tudo que falta para a população, desde que eles se preocupem e observem o que falta;

Beatriz Neri, 14 anos, moradora de Samambaia, aluna do Centro de Ensino Médio Paulo Freire

;É preciso acolher as pessoas que não podem ou não conseguem trabalhar; lutar contra a fome e oferecer escolas de qualidade. Além disso, é necessário o combate à violência. Na minha escola, só este ano, dois alunos morreram. Moro em uma comunidade violenta e esquecida;

Walisson Lopes, 17 anos, morador da Estrutural, aluno do Centro de Ensino Médio 4 do Guará

;É necessário acabar com o preconceito e com a discriminação. Tenho muito orgulho de ser quilombola, da minha cultura, de onde nasci e moro. É difícil chegar a um lugar e ser chamado de macaco. Às vezes, o preconceito não é visível, mas fica marcado na gente.;

Walissis Braga da Costa, 16 anos, morador do Quilombo Mesquita, aluno do Centro de Ensino Médio da Asa Norte (Cean)

;Educação de qualidade e liberdade política. Um liga ao outro. Só com educação é possível que as pessoas dialoguem. A educação liberta, permite que as pessoas façam escolhas. Eu me desloco 40km para chegar à escola. Trazer o ensino para perto dos jovens também é importante;

Paulo Henrique Alves, 16 anos, morador do Jardim ABC, aluno do Centro de Ensino Médio Paulo Freire

;Comunicação é um direito. Na comunidade rural em que eu moro, não há telefone nem internet. Essa ausência tira a nossa voz. A violência sexual também precisa ser combatida. Tenho amigas que foram abusadas e, nas comunidades isoladas como a minha, o silêncio desses casos é ainda maior;

Paula Gabriela Castilho, 17 anos, moradora do Lago Oeste, aluna do Centro de Ensino Médio 1 de Sobradinho

;As escolas perto da minha casa são muito ruins. Quem quer estudar precisar encarar horas de ônibus. Além disso, a escola precisa ensinar mais do que português e matemática, tem que ensinar os nossos direitos e como podemos ser cidadãos;

Lucas Daniel, 17 anos, morador do Paranoá, aluno do Cean

;Minha comunidade é pequena e isolada. Só há médico duas vezes por semana. Você só pode passar mal nesses dias. É necessário oferecer saúde de qualidade e não esquecer as comunidades pequenas. Vivemos de lado, esquecidos. A minha escola fica a 36km da minha casa;

Daniele Cunha, 14 anos, moradora da comunidade São Bartolomeu, em Cristalina, aluna do Ensino Fundamental na cidade

;É difícil eleger um direito acima dos demais. Acredito que é necessária a plenitude dos direitos. Todos são importantes. Educação, saúde, cultura. Eles precisam ser preservados. Moro em uma comunidade que tem como base da economia o lixo. É violenta e ignorada pelo governo;

Israel Victor de Melo, 17 anos, morador da Estrutural, aluno da Universidade de Brasília, ex-aluno do Centro de Ensino Médio 4 do Guará

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