postado em 28/05/2013 13:05
Alan já foi mais engajado nas redes sociais: "(As pessoas) compartilham a imagem de um protesto ou assinam uma petição on-line e sentem como se tivessem cumprido seu dever" |
O comportamento por vezes despretensioso faz com que a geração Y seja caracterizada por meio de estereótipos nada positivos. Considerados individualistas, descompromissados e ansiosos, os nascidos entre o início de 1980 e o fim de 1990 têm a inovação como símbolo. Com efeitos nem sempre entendidos ou admirados pelos mais velhos. Por isso, entender a influência das novas tecnologias em atitudes individuais e em situações coletivas é fundamental para a boa convivência.
É o caso das mobilizações virtuais. ;Os jovens estão ignorando a representação política, cortando o caminho e fazendo eles mesmos o que precisam. Pessoas que não se conhecem podem se unir em torno de uma ideia que, por meio da internet, tem a possibilidade de ganhar adesão;, explica Melissa de Miranda, autora do livro Geração Y ; No limite do tédio.
Rômulo José Alves, de 24 anos, é estudante de medicina na Universidade de Brasília (UnB) e divide o tempo entre as atividades acadêmicas e as causas sociais. O jovem nascido em Tocantins, mas ;maranhense de coração;, veio para Brasília ;para estudar e lutar; em 2004. É membro do Centro Acadêmico de Medicina (Camed) e faz parte de grupos que atuam no combate à homofobia, ao machismo e ao racismo. Para ele, a internet tem sido uma importante ferramenta nas lutas sociais da atualidade, sendo responsável pela promoção do diálogo entre movimentos do Brasil e do mundo.
;Ela ajuda muito e funciona muito bem em alguns casos. Como na Marcha contra a
Corrupção, quando foi sensacional a mobilização pelo Facebook. A Marcha das Vadias é outro exemplo, pois é um movimento feminista que veio do Canadá e hoje tem uma boa proporção, principalmente em Brasília;, explica o estudante, que também participa de um projeto de pesquisa relacionado às questões indígenas e atua como voluntário no Bula do Riso, projeto do Hospital Universitário de Brasília que usa a graça dos palhaços para atenuar o sofrimento de pacientes internados.
Uma outra leitura sobre o engajamento virtual dos jovens também tem a agilidade do compartilhamento de ideias como base. A possibilidade de comentar os assuntos em tempo real, criar blogs para expressar opiniões e divulgar imagens faz com que a geração Y seja taxada de reclamona. ;Eles não estão acostumados a só receber as informações. Eles opinam, são mais questionadores;, pondera Melissa de Miranda.
Sinara Gumieri, de 23 anos, é pesquisadora na Anis ; Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero e conta que a experiência de graduação, na Faculdade de Direito da UnB, foi importante para ela assumir uma posição mais crítica no dia a dia. ;Eu preciso estar ciente da necessidade de refletir. Por que eu faço? Pra que eu faço? Com quem eu faço? E para onde eu vou? Estar no mundo e não se questionar não é um caminho interessante;, afirma.
As descobertas políticas de Sinara na universidade deram-se, principalmente, por meio do envolvimento com projetos de extensão, como o Universitários vão à Escola (UVE), voltado para educação popular de crianças e adolescentes, além da atuação no Centro Acadêmico de Direito (CaDir). Durante a gestão no CaDir, em 2010, ela e outras colegas de curso começaram a observar aspectos da convivência entre homens e mulheres, e criaram o Agrupa. ;Foi uma brincadeira com a expressão ;O grupo;. Temos um grupo de e-mails que usamos para divulgar iniciativas, discutir e combinar atividades;, explica.
Sinara e o grupo de pesquisadores sobre bioética, direitos humanos e gênero: discussões coletivas desde a época da faculdade |
Rômulo concilia o curso de medicina com várias atividades sociais. Para ele, a internet facilita a troca de ideias com jovens de todo o mundo |
Pouca prática
Conhecedores a fundo dos recursos tecnológicos, a geração Y ainda precisa entender melhor os mecanismos que envolvem as questões sociais. Muitas vezes, a força das manifestações nas redes sociais é muito grande, mas sem efeito prático. ;O que a gente acaba vendo é muita manifestação virtual ; fora isso e fora aquilo ; e pouca mobilização real. O jovem ainda precisa entender melhor o que é a manifestação política e fazer dela algo efetivo;, acrescenta Sidnei de Oliveira, consultor e especialista em gerações X e Y.
Alan Renner, de 25 anos, formou-se em direito pela Universidade Federal de Londrina (UEL) e veio para Brasília em 2011 com o objetivo de ingressar no Instituto Rio Branco. Com o tempo, foi amadurecendo seu posicionamento político e analisando mais a fundo os efeitos das redes sociais. ;Eu já fui mais engajado quando estava na faculdade, mas acomodei um pouco agora;, explica. Alan acha a internet interessante como um lugar de organização social, mas tem ressalvas com relação a essa prática. ;O que acho ruim é que fico com a impressão de que as pessoas entram no Facebook e compartilham a imagem de um protesto ou assinam uma petição on-line e sentem como se tivessem cumprido seu dever;, ressalta o paranaense.
Segundo o consultor Sidnei de Oliveira, as gerações anteriores tiveram um movimento político mais acentuado em razão da ditadura e do cenário econômico e social da época. Quem nasceu entre 1980 e 1990 cresceu em um ambiente democrático, com maior acesso à educação e à informação, e melhores condições financeiras. ;Por conta desses privilégios, é evidente que eles têm um comportamento diferente e que, aos olhos dos mais veteranos, parecem mais descolados e sem compromisso;, explica.
Regina Novaes, antropóloga e especialista em juventude, observa que os jovens mobilizados, independemente de qual geração fazem parte, estão sempre contra a corrente. ;Não acho que a chamada geração Y esteja deixando um vácuo na questão da mobilização. Como a marca dela é combinar o presencial e o virtual, o engajamento político tem que ser pensado também nesses termos.; As novas tecnologias de informação e comunicação transformaram-se em meios para divulgar, convocar e participar, o que ;cria tipos de engajamento que precisam ser estudados, compreendidos e avaliados;, reflete a antropóloga.
"Não acho que a chamada geração Y esteja deixando um vácuo na questão da mobilização. Como a marca dela é combinar o presencial e o virtual, o engajamento político tem que ser pensado também nesses termos;
Regina Novaes,
antropóloga