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Natureza intocada no fundo do mar

Ao explorar o Atlântico Sul, pesquisadores brasileiros e japoneses encontram ecossistemas complexos e espécies de características únicas

postado em 29/05/2013 18:00


 (Jamstec/Dvulgação)

O submarino japonês usado na exploração (no alto) e uma das espécies encontradas (ao lado): informações sobre uma região até agora praticamente desconhecida   (Jamstec/Dvulgação)
O submarino japonês usado na exploração (no alto) e uma das espécies encontradas (ao lado): informações sobre uma região até agora praticamente desconhecida


No começo deste mês, pesquisadores envolvidos na expedição Iatá-piuna ; uma parceria dos governos do Brasil e do Japão para estudar em detalhes as profundezas do Atlântico Sul ; anunciaram que os estudos geraram fortes indícios de que a Elevação do Rio Grande, imenso planalto submerso a 1.300km da costa brasileira, é, na verdade, um pedaço do continente que, há aproximadamente 100 milhões de anos, se desprendeu e afundou no oceano. A incrível constatação, que rendeu à região o apelido de ;Atlântida Brasileira;, contudo, não é o único resultado da empreitada científica. Como mostrado ontem, em seminário realizado no Ministério das Relações Exteriores, a exploração submarina revelou um universo vivo não imaginado pelos cientistas. Novos ecossistemas e animais marinhos de características únicas habitam as regiões visitadas e devem ser alvo de mais estudos nos próximos anos e podem ajudar a compreender melhor o processo de formação da Terra.

Com a ajuda do submarino japonês Shinkai 6500, capaz de levar três pessoas a até 6.500m de profundidade, especialistas dos dois países conseguiram avistar, filmar, fotografar e colher amostras de sedimentos e de espécies que habitam, além da Elevação do Rio Grande, outras duas regiões submersas: o Dorsal de São Paulo (um grande paredão na borda da plataforma continental do Sudeste) e o Platô de São Paulo (veja mapa).

;Realizamos mergulhos profundos, de baixo para cima, fazendo uma grande curva. Neles, encontramos animais como esponjas e pepinos-do-mar com características diferentes das espécies já conhecidas. Acreditamos que, com as fotos retiradas e as coletas de materiais, podemos compreender o desenvolvimento da formação desses ecossistemas;, destacou Hiroshi Kitazato, diretor de pesquisa do Instituto de Biociências da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar (Jamstec).

A Iatá-piuna, palavra que significa ;navegando em águas profundas e escuras; na língua tupi-guarani, teve início em 13 de abril e foi dividida em duas partes. Na primeira etapa, os cientistas exploraram a Elevação do Rio Grande, onde encontraram e coletaram corais, novas enzimas, animais marinhos e sedimentos do solo ; foram essas últimas que ajudaram a reforçar a tese de que a formação é um antigo pedaço continental.

Plânctons
A segunda parte da pesquisa explorou a Cordilheira de São Paulo e o Platô de São Paulo. Nessas áreas, os cientistas também coletaram sedimentos do solo, que descobriram ser constituído de plânctons (algas microscópicas) em uma mistura que forma lama. ;Notamos que esse solo é formado por compostos dos seres vivos do próprio oceano, o que é muito intrigante. Além disso, descobrimos substâncias como manganês (em pedras), granito e rochas vulcânicas, o que não imaginávamos existir naquela região;, destacou Kitazato.

O pesquisador comemora as descobertas e acredita que um pedaço perdido da história foi encontrado na pesquisa. ;Com as amostras que possuímos, de solos diferentes, um de cada profundidade, podemos analisar e montar peças que faltavam dessa grande incógnita;, acrescentou, destacando a importância do trabalho conjunto de Brasil e Japão. ;Ao trabalhar em parceria com os brasileiros, tivemos essa vontade de descobrir juntos e desvendar todas essas lacunas, descobertas que farão diferença por anos.;

Os achados feitos durante a expedição trazem ganhos principalmente para a área acadêmica, na avaliação de José Angel Perez, um dos participantes brasileiros da empreitada e professor do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade do Vale do Itajaí (Univale). ;O conhecimento que esse trabalho vai gerar, principalmente para a área acadêmica, é enorme. O Brasil está se voltando para explorar uma região nunca vista tão a fundo. Podemos analisar os ambientes que geraram condições para que essas formas de vida específicas se desenvolvessem, e isso é de interesse não só nosso mas de pesquisadores do mundo todo;, destacou. Perez também frisa a importância dos ganhos econômicos. ;Podemos seguir com a exploração e ter a esperança de encontrar minerais ricos, apesar de já termos constatado que os recursos pesqueiros dessa região são fracos;, complementou.

A expedição vai continuar com a análise das amostras coletadas e pretende contribuir com novos horizontes na área de pesquisa marinha. Os pesquisadores acreditam que a exploração começou a revelar segredos da região e deve contribuir para a preservação dos ecossitstemas ali existentes. ;Conseguimos, com essa expedição, dar novos rumos a pesquisas científicas, mostrar mais a fundo detalhes antes não observados em uma região totalmente nova. Pretendemos continuar com a exploração dessa região e temos a certeza da importância dela para o nosso país. O quintal do Brasil é o Atlântico Sul;, destaca Perez.

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