postado em 04/06/2013 10:20
Em uma sociedade marcada pela intolerância, uma escola na Asa Norte deu exemplo de cidadania e respeito à diversidade ao servir de palco para o casamento de duas professoras nas dependências do colégio. Na ocasião, tratada com naturalidade entre a comunidade escolar, pouca diferença fez para crianças, pais e docentes se o casal era de homossexuais. A relação entre pessoas do mesmo sexo, que, para muitos ainda é um tabu, deve ser tratada como uma situação normal dentro do ambiente de aprendizagem e no contexto familiar, segundo especialistas ouvidos pelo Correio. Também não há uma idade certa para tocar no assunto com os pequenos e alguns defendem inclusive que a abordagem seja feita já nos primeiros seis anos de vida de meninos e meninas.Durante três meses, toda a comunidade da Vivendo e Aprendendo se envolveu com os preparativos para o casamento de Andressa Vieira de Oliveira, 24 anos, e Dianne Prestes, 26. ;Foi uma bonita oportunidade de trabalharmos valores como respeito e compromisso com a diversidade. Mais do que uma cerimônia, houve um processo de construção coletiva;, opinou a mãe de uma ex-aluna do colégio e psicóloga Carla Dozzi, 36, moradora do Lago Norte. Para ela, o tema deve ser tratado nas escolas como parte do cotidiano já na primeira infância, que vai até os 7 anos. ;Esse é um momento em que as crianças não trazem preconceito, o afeto vem em primeiro lugar;, completou.
Carla contou que o grupo de pais e alunos se reunia constantemente para decidir qual roupa usaria na cerimônia, qual música seria escolhida, além de detalhes da decoração da festa. Todos tocavam no assunto com muita naturalidade. ;Essa situação não causou estranhamento algum, pelo contrário, ser dois homens, duas mulheres ou um homem e uma mulher, não uma era uma questão para as crianças. O que tínhamos ali era a celebração de duas pessoas queridas que estavam se unindo, não houve constrangimento ou questionamento negativo;, afirmou a psicóloga.
A professora do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Grupo de Trabalho de Combate à Homofobia da instituição, Valdenizia Bento Peixoto, também defende que a questão seja tratada na tenra infância, levando em conta apenas o nível de cognição dos pequenos. ;Uma criança de 2 anos, por exemplo, ainda não vai entender muitos dos termos. Mas o debate deve ser inserido de forma natural e não pode ser encarado como estranho ou anormal e fora do padrão, mas como uma nova forma de sociabilidade e de família dentro da sociedade;, explica.
Sobre como abordar o tema, Valdenizia sugere que os pais esperem o filho perguntar e tirar dúvidas sobre o assunto. ;A resposta deve ser simples e natural, sem fantasias e, acima de tudo, combater preconceitos;, reforçou. Para ela, familiares e educadores devem trabalhar juntos nesse processo. ;A escola tem o papel da educação formal, mas é fundamental também na construção da personalidade das crianças, desse sujeito que está se formando;, completou.
Na casa da professora Adriana Tosta Mendes, 40 anos, moradora da Asa Norte, nunca foi preciso dar muitas explicações ao pequeno Tedros Tosta Mendes de Oliveira, 6, sobre o tema. ;Temos muitos amigos homossexuais e convivemos bastante com eles. Somente uma vez ele perguntou se existia casal de homens e nós dissemos que sim, foi o suficiente;, contou.
Para o presidente da Associação de Pais de Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), Luis Claudio Megiorin, o assunto pode ser tratado na escola desde que os pais sejam informados sobre como se dará a abordagem. ;Deve ser abordado do ponto de vista dos direitos humanos, do respeito às pessoas. Somos contra qualquer tipo de discriminação, social, racial ou de orientação sexual;, comentou.
;Foi uma bonita oportunidade de trabalharmos valores como respeito e compromisso com a diversidade;
Carla Dozzi, psicóloga