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Planta indiana contra a tuberculose

Pesquisa internacional feita com participação de brasileiros comprova que trepadeira usada na medicina tradicional do país asiático tem compostos capazes de combater a doença e outras infecções causadas por bactérias

Ludymilla Sá
postado em 05/06/2013 18:00


Vasco Azevedo, ao lado do pesquisador indiano Sandeep Tiwari: grupo multidisciplinar para avaliar a planta (Arquivo pessoal)
Vasco Azevedo, ao lado do pesquisador indiano Sandeep Tiwari: grupo multidisciplinar para avaliar a planta


Belo Horizonte ; A tuberculose não para de crescer no mundo e mata, por ano, cerca de 1,4 milhão de pessoas. Agora, a doença pode ganhar um forte adversário, graças a um estudo internacional conduzido com a participação de brasileiros. O grupo de cientistas comprovou a eficácia de uma planta originária da Índia no combate à enfermidade e a outras infecções causadas por bactérias.

Muito usada no país asiático, a folha da trepadeira betel, também conhecida por piper betle, já tinha suas funções terapêuticas conhecidas pela medicina ayurvédica, ciência milenar indiana cujos princípios deram origem às medicinas chinesa, árabe, romana e grega. A planta era indicada no tratamento de inflamações, dores de cabeça e problemas respiratórios, e o povo indiano, especificamente o do norte do país, sempre usou as folhas como forma de também auxiliar na digestão e na limpeza bucal.

Agora, ela teve a eficácia comprovada cientificamente por uma equipe internacional de pesquisadores da Índia, do Brasil, do México, dos Estados Unidos e da Dinamarca liderada pelo indiano Debmalya Barh, do Instituto de Omics Integrativas e Biotecnologia Aplicada (IIOAB), em Nonakuri, na Índia. ;Realizamos testes in vitro em duas bactérias, a Corynebacterium pseudotuberculosis, que causa uma falsa tuberculose em caprinos e ovinos, e a Vibrio cholerae, causadora da cólera. E, pela primeira vez, destrinchamos os compostos isolados das folhas da betel;, conta Vasco Azevedo, líder da equipe brasileira.

Segundo o biólogo, integrante do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG) e residente do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat), os pesquisadores observaram que a betel teve efeito superior a certos antibióticos como penicilina, ampicilina e cloranfenicol. Dessa forma, ela pode ser usada na fabricação de novos medicamentos que combaterão, além da tuberculose, as bactérias causadoras de diarreia, cólera e peste bubônica. ;A identificação das metas comuns e dos compostos de segmentação de tantos patógenos mortais é uma grande conquista, considerada um progresso para o combate às doenças causadas por esses agentes patogênicos;, diz Azevedo.

Compostos de ouro
Devido às propriedades da planta, a doutora Nidia Leon Sicairos, da Faculdade de Medicina da Universidade Autônoma de Sinaloa, no México, definiu os componentes da planta como ;compostos de ouro;. Comprovada a eficácia da betel, os pesquisadores precisam agora testar os compostos in vivo. E torcem pelo interesse de grandes laboratórios para dar continuidade ao trabalho e, consequentemente, desenvolver remédios.

;Se as empresas quiserem nos contratar, ótimo. Se não quiserem, também ótimo, porque fizemos o nosso dever social, afinal, esse é o objetivo das pesquisas. Tornamos público nosso conhecimento, mas o grande problema no Brasil é que não achamos empresas dispostas a investir num projeto desde o início. O país precisa investir nas pesquisas para dar um salto tecnológico;, avalia o professor da UFMG, destacando que o trabalho foi publicado na Europa antes mesmo de ser patenteado, para chamar a atenção de empresários do ramo de medicamentos.

;Sem patentear, você perde a primazia, mas foi a forma que encontramos para tentar despertar o interesse para a causa. Mas os empresários no Brasil querem sempre pagar menos. Na Europa, por exemplo, você tem 400 pesquisadores, hipoteticamente, trabalhando, enquanto no nosso país, não fazem pesquisa de desenvolvimento;, desabafa.

Azevedo espera que os grandes laboratórios se interessem pela pesquisa, levando em consideração o aumento significativo dos casos de tuberculose no país. ;A doença já foi considerada um mal de países em desenvolvimento, mas, com a epidemia de HIV, ressurgiu com força total em nações consideradas de primeiro mundo. Ficamos quase 40 anos sem a fabricação de um novo medicamento para a tuberculose porque não era interessante para países ricos. Mas, com a Aids, começaram-se a desenvolver novas drogas. Esperamos ganhar com isso.;


Para saber mais

Números alarmantes
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2011, 8,7 milhões de pessoas foram infectadas com a tuberculose e 1,4 milhão morreram em decorrência da doença. As estatísticas no Brasil também não são animadoras. Segundo o Ministério da Saúde, o país ocupa o 15; lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos da enfermidade no mundo. No território nacional, são notificados, anualmente, 85 mil casos novos. Além disso, são registradas cerca de 6 mil mortes por ano.

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