Ensino_EducacaoBasica

Para respirar melhor

Alunos da UnB criam sistema que avalia a qualidade do ar pelo celular. O objetivo é monitorar a situação do DF com a ajuda da população

postado em 14/06/2013 19:00


A equipe envolvida no projeto: a partir da esquerda, Henrique Roig, Weeberb Requia, Luiz Filho, Erick Kill e Fernando Kill (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
A equipe envolvida no projeto: a partir da esquerda, Henrique Roig, Weeberb Requia, Luiz Filho, Erick Kill e Fernando Kill


Imagine que você está no trânsito e quer descobrir qual é a via menos poluída para trafegar e, assim, poupar sua saúde. Ou que, na hora de comprar uma casa, deseje verificar se a qualidade do ar naquele bairro é boa. Em breve, esse tipo de consulta poderá ser feito com a ajuda de um simples aplicativo de celular. A ferramenta, criada por estudantes da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com empresas privadas, permitirá não só o acesso à situação do ar em diferentes pontos da cidade como o compartilhamento a informação com outras pessoas. O invento, acreditam os autores, pode beneficiar ao mesmo tempo a natureza e a saúde da população.

A ideia de criar uma ferramenta que pudesse mostrar os níveis de gases nocivos no ambiente surgiu em 2008, quando o professor Paulo Saldiva, médico especialista em poluição atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), buscou parceiros no Distrito Federal para elaborar novas formas de analisar a qualidade do ar. Erick Kill aceitou o desafio. Durante o mestrado no Instituto de Geociências da UnB, ele desenvolveu um pequeno conjunto de sensores que mede a quantidade de gases prejudiciais à saúde em determinado lugar. ;O sistema faz a leitura dos gases previstos na Resolução Conama 3, que dita a regulação geral dos padrões de qualidade do ar. O aparelho mostra a quantidade de gases considerados nocivos. Esses dados são armazenados e transmitidos via smartphone, usando uma rede sem fio;, explica Erick Kill.

O aplicativo de celular, desenvolvido pelo irmão e sócio de Erick, Fernando Kill, permite que os dados sejam coletados por uma grande quantidade de pessoas e reunidos em um painel geral, que armazena as informações das regiões onde forem realizadas medições. ;O sensor é portátil e envia as informações para o celular via bluetooth. Já o aplicativo no telefone exibe a qualidade do ar no lugar em que você estiver e envia para o nosso painel geral. Podemos assim, com a ajuda dos usuários, expandir essa análise, aumentando o espaço e as informações. É algo totalmente novo nessa área de pesquisa;, destaca Fernando.

Um teste do funcionamento do sensor e do envio de informações para os celulares será realizado amanhã, durante o jogo entre Brasil e Japão na Copa das Confederações. Os pesquisadores vão avaliar a qualidade do ar dentro e nos arredores do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Por enquanto, poucos equipamentos foram construídos, mas a ideia do grupo é viabilizar o projeto para que sensores sejam fixados em vários pontos da cidade. Assim, os usuários do aplicativo poderão ter acesso aos dados constantemente. E cada vez que o celular de alguém receber dados, eles serão automaticamente enviados ao painel central. A ideia é um monitoramento totalmente participativo e colaborativo. As pessoas poderão fazer a medição do ar em casa, no carro;, diz Erick.

O projeto também inclui a construção de uma página na internet, na qual as informações coletadas via celulares poderão ser unidas a outros dados do DF, por exemplo, o índice de pessoas com doenças respiratórias em determinada localidade. Encontrar uma forma de aliar informações foi a tarefa à qual Weeberb Requia, um dos membros da equipe responsável, se dedicou durante o doutorado na UnB. ;Quando cruzamos esses dados, conseguimos informações importantes, como qual a região com o maior número de idosos, ou quais os problemas mais frequentes de saúde de quem vive em determinada região. Esses resultados poderão auxiliar os órgãos gestores, responsáveis pelo meio ambiente e pela saúde;, explica.

Coordenador dos trabalhos de Erick e Weeberb, o professor do Departamento de Geociências da UnB Henrique Roig avalia que, apesar de o sistema permitir a disponibilização das informações para qualquer pessoa, ele será de maior valor para órgãos especializados. ;Estamos construindo uma parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) e com o Ministério da Saúde. Essas informações poderão ser usadas em diferentes projetos, já que não existe um aparelho que disponibilize tantas informações de maneira tão rápida e barata, e com o uso de uma plataforma móvel;, destaca.

O projeto de monitoramento pretende expandir o número de equipamentos e criar um maior detalhamento da qualidade do ar. ;Um segundo produto, em desenvolvimento, é um analisador de PM10, que são partículas inaláveis, de diâmetro inferior a 10 micrômetros, que podem provocar inúmeras doenças respiratórias; explica Erick. O grupo planeja ainda uma Estação Meteorológica portátil, que utilizaria a tecnologia de transmissão de dados. ;Essa estação vai medir velocidade e direção do vento, pluviometria, temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica e umidade do solo, para que possamos ter uma visão muito mais completa de como esses gases se movimentam;, acrescenta.

O objetivo da equipe agora é buscar parceiros para o desenvolvimento desses aparelhos e levá-los para outras regiões. ;Trabalhamos em parceria com a equipe do professor Saldívia na USP. Lá, eles farão a coleta no trânsito, por conta da grande quantidade de táxis e ônibus na cidade;, complementa Erick.


Padrões
Conama 3 é uma resolução criada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em 28 de junho de 1990 que determina os padrões de qualidade do ar e as concentrações de poluentes atmosféricos que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, além de gerar danos ao meio ambiente em geral.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação