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Perfil jovem e apartidário

Boa parte dos milhares de participantes do ato realizado na Esplanada tem menos de 20 anos, nunca se filiou a partido político e mora tanto nas áreas nobres quanto na periferia do DF. Parte da ação começou na internet

postado em 18/06/2013 17:43

De playboys a punks. De ciclistas a skatistas. De moradores do Lago Sul a habitantes das cidades goianas vizinhas do DF. De estudantes do ensino fundamental a universitários. Gente com e sem tatuagem. Alguns com dreadlocks, outros com mechas vermelhas ou loiro platinado. Uns de chinelo, outros de tênis. O perfil dos integrantes dos protestos que tomaram as ruas de Brasília é tão plural quanto as causas que levaram milhares às ruas.O tom pacífico também ficou marcado pela cor branca durante o ato na área central de Brasília
Pessoas insatisfeitas com o transporte público, com a qualidade dos hospitais, com os gastos nas Copas, contra a corrupção e a PEC 37 (que pretende tirar do Ministério Público o poder de conduzir investigações criminais). A maioria absoluta antipática a qualquer partido político. Tanto que um grupo de 10 pessoas com camisetas e bandeiras do PSTU acabou expulso pela multidão. Em meio a ela, havia até criança, idoso e cadeirante. Todos com cartazes e frases de protesto pintados à mão nas vestimentas e no corpo. E nenhum líder de destaque.

A manifestação de ontem surgiu no Facebook, em um evento criado de forma despretensiosa por Jimmy Lima, 17 anos, estudante do Setor Leste. Ela ganhou o nome de Marcha do Vinagre para ironizar a prisão de um repórter durante a cobertura dos protestos de sexta-feira na capital paulista por levar o produto na mochila. Jimmy nunca havia participado da preparação de nenhum ato. ;Acompanhei o que aconteceu em São Paulo, aqui e em outras cidades e fiquei indignado.[SAIBAMAIS] Conversei com amigos e percebemos que não é mais possível assistir a tudo parado. Precisávamos nos manifestar se queremos um país melhor;, disse. O jovem acompanhou de perto cada passo da manifestação, pedindo sempre aos presentes para manter a calma e a passeata, pacífica.

Grande parte dos manifestantes tinha menos de 20 anos. Entre eles, Samuel Rios. Morador do Lago Norte e estudante da 8; série do Centro de Ensino Fundamental 410, o menino de 15 anos carregava uma mochila da marca Vans sobre uma camiseta da banda de punk rock Ramones. Era a sua segunda manifestação. Havia participado do ato de sábado. ;O povo tem que acordar. Os políticos exploram todo mundo. Quero um futuro melhor para mim, quero mais investimento em educação;, afirmou.

Os amigos Breno Barros e Ariel Amaral, ambos de 16 anos, trocaram as aulas no Marista da Asa Norte pelas ruas. E tomaram a decisão depois de acompanhar, pela tevê e pela internet, imagens de policiais jogando bombas e gás de pimenta nos manifestantes, em frente ao Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, na tarde de sábado. ;Sou totalmente apartidário e quase não uso transporte público, mas sei o quanto sofre quem usa. Estou aqui pelo Brasil;, ressaltou Breno. ;Participo porque os políticos gastam muito com o que não devem;, completou o colega.

Estilosas, loiras e moradoras do Lago Sul, três amigas decidiram responder à convocação feita pelas redes sociais, porque, apesar do que dita o senso comum sobre o bairro e os moradores de um dos pontos mais nobres do DF, elas também sabem o que é esperar horas para pegar um ônibus. ;Você fica 40 minutos e não passa. Isso porque tenho que pegar dois, três ônibus para ir à faculdade;, conta a aluna de direito do UniCeub, de 20 anos, que pediu para não ser identificada. ;Estou aqui contra a gastança da Copa. Tudo feito sem a menor transparência;, emendou outra moradora, ainda no ensino médio, também anônima.

;Zonas de conforto;
De boina, calça jeans e camisa branca, uma estudante de música da Universidade de Brasília (UnB) não pôde ir ao Eixo Monumental no protesto de sábado, mas a violência que viu em vídeos não a intimidou para comparecer à manifestação de ontem. ;Você vem sabendo que pode apanhar da polícia. Mas, se não for isso, nada vai mudar. Fico feliz com o que está acontecendo, as pessoas deixando as suas zonas de conforto, indo para as ruas. Não esperava isso da minha geração;, reconheceu.

Há 30 anos sem participar de manifestações, um professor da UnB, de 57 anos, decidiu voltar à militância na Marcha dos Vinagres. Ele foi acompanhado da mulher, de 38, funcionária pública. ;Viemos em solidariedade ao movimento que está rolando no país e por indignação sobre as ações descabidas da polícia. Viemos também para conferir as atitudes dos policiais militares;, disse o educador. Para eles, a tendência é o movimento crescer. ;O povo vai começar a aparecer. É uma onda social;, avaliou a servidora.

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