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Jovens apartidários e sem lideranças

Os manifestantes deram o recado nas ruas ao mostrarem a insatisfação com a classe política, mas, pelo menos por enquanto, rechaçam o apoio de partidos e deixam claro que os protestos são uma mobilização da sociedade civil

Adriana Bernardes, Renato Alves
postado em 24/06/2013 08:00

Na manifestação da última quinta-feira, jovens e adultos levaram faixas e cartazes que expressam inconformismo com a situação do paísDificilmente sairão lideranças políticas, opções de voto para o ano que vem, das manifestações desencadeadas em Brasília há uma semana. Justamente, porque os organizadores dos protestos se recusam a integrar o modelo político atual, filiando-se a partidos, por exemplo. A conclusão vem de especialistas entrevistados pelo Correio. No entanto, cientistas políticos, sociólogos e historiadores não minimizam a força do movimento, nem dizem que não terão algum resultado. Para eles, a redução de tarifas de ônibus em várias cidades e o congelamento da passagem no Distrito Federal já são uma grande vitória. E outras poderão vir, como maior abertura de diálogo dos cidadãos com os seus representantes.

A possibilidade de o governo adotar o sistema da tarifa zero em todos os meios de transporte público do DF, no entanto, não será simples. Na última quarta-feira, o governo anunciou que vai criar um grupo para analisar a viabilidade do passe livre na capital. A medida foi anunciada após uma reunião com militantes que lutam pela criação de um sistema gratuito de transporte. Segundo o governo, a medida teria um custo de R$ 130 milhões por mês, o equivalente a R$ 1,5 bilhão por ano. Mas os estudiosos consideram um grande avanço o fato de o governo ter recebido os representantes do Movimento Passe Livre, que se declara apartidário, mas não contrapartidário.

A bandeiras de luta são muitas: primeiros resultados começam a aparecer, como a discussão sobre o passe livreFormado essencialmente por jovens, incluindo alunos da Universidade de Brasília (UnB), o MPL candango faz parte de um movimento nacional, que rejeita a eleição de lideranças. Mas, apesar de os manifestantes negarem, elas existem, afirma José Álvaro Moisés, professor de ciência política da Universidade de São Paulo (USP) e diretor científico do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs/USP). ;É evidente que já há liderança, caso contrário, eles (protestos) não teriam continuidade. O MPL paulista tem conexões em outras cidades. Embora falem de uma organização horizontal, alguns já se experimentaram líderes, tomaram decisões, participaram de negociações;, cita Moisés.

Consequências
A questão agora, para o professor, é saber se esse movimento vai querer se converter e entrar em partidos políticos. ;É muito cedo para dizer. A tendência é que eles se fortaleçam como líderes da sociedade civil;, aposta. No caso de Brasília, quem mais apareceu na imprensa, até agora, é Jimmy Lima, organizador da Marcha do Vinagre, que reuniu 10 mil na Esplanada, na última segunda-feira.

O adolescente de 17 anos é estudante do Centro de Ensino Médio Setor Leste, onde começou a se interessar por questões sociais e a conviver com pessoas de perfis variados. Da militância, Jimmy deve se aproximar cada vez mais após o resultado que considerou ;maravilhoso; na segunda. Já da política, ele quer distância. Se considera, no máximo, um pacifista praticante, que quer estudar psicologia na UnB.


35 mil
Total de pessoas que foram à Esplanada durante o Acorda, Brasília, na última quinta-feira


"Não se esperava uma manifestação pública tão constrangedora para a classe política que, agora, tem a certeza de que haverá reação quando tomarem decisões contrárias à opinião pública;
Pedro Santos Mundin, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás

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