Adriana Bernardes, Renato Alves
postado em 24/06/2013 08:00
Por envolver grandes multidões e muitos jovens, a violência desencadeada na Esplanada dos Ministérios na noite de quinta-feira e em outras cidades do país é inerente a esse tipo de movimento, apesar de totalmente condenável. Os estudiosos que fazem tal avaliação ressaltam que a repressão policial, principalmente a abusiva, só alimenta a fúria dos vândalos e faz crescer a insatisfação dos demais manifestantes. Dessa forma, as cenas protagonizadas por policiais militares na frente do Estádio Mané Garrincha, na abertura da Copa das Confederações, contribuíram para a proliferação dos protestos no Distrito Federal.O sociólogo Elimar Pinheiro do Nascimento, professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), é um dos defensores de tal tese. ;As ações dos governantes de desclassificar as manifestações e orientar as polícias a reprimi-las, em vez de contribuir para arrefecer o movimento, tiveram efeito contrário. Com as insatisfações, a pauta reivindicativa e de protesto ampliou-se;, afirma.
Ele, no entanto, não tem opinião formada sobre o futuro das manifestações. ;A opção dos governantes de estigmatizá-las como ações de vândalos, de reprimi-las e de ameaçar os ;organizadores; de responsabilização jurídica pelas depredações poderá ou não surtir efeitos de acelerar o arrefecimento das manifestações. No entanto, se nada for feito e as insatisfações persistirem, um novo palco estará armado em 2014. E com riscos de os protestos serem ainda mais intensos;, alerta.
Individualismo
O também sociólogo Edmilson Lopes, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tem uma visão pessimista dos protestos e da consciência de boa parte de quem marchou nas ruas. Ele lembra que política pública para pobres historicamente tem abrangência menor e com fonte de recursos limitados. ;Duvido muito que parte dos mobilizados por tarifa zero no transporte público seja favorável à cobrança de estacionamento público e de pedágio urbano com restrição ao automóvel. Porque esse é o caminho para se conseguir recursos e investir no transporte público de qualidade, que beneficia toda a cidade;, destaca.
Além disso, Lopes destaca o tom ;individualista; do discurso que ganhou as ruas. ;É muito ;eu;. ;Eu; não fui consultado. ;Eu; pago impostos, ;eu; tenho direito. Essa é uma parcela de jovens educados sem ouvir ;não;. Os que depredam o patrimônio não são somente os marginais. Também é o mesmo jovem da academia, que sempre teve tudo e que, vez ou outra, agride pessoas e nada acontece;, diz. Na avaliação do especialista, a insatisfação da sociedade com os serviços públicos é um fato, mas lembra os riscos da negação dos partidos. ;Facismo é a rejeição dos partidos e instituições;, ressalta.
Marca histórica
Para o professor de Ciência Política José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP), os protestos entraram para a história por várias características. ;Não é como nas Diretas Já, em que as pessoas lutaram contra a proibição de eleições diretas imposta pelo regime militar. O alvo era específico e isso facilitou a unidade. Os caras-pintadas tinham uma conexão com o Congresso, para por meio dele conseguir o impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo. Esse movimento tem diversidade de temas que vão crescendo na pauta: começou com a redução da tarifa, os gastos com a construção das arenas para a Copa, questões relativas aos serviços de saúde;, observa.
Ele, porém, diz que o movimento tem um enorme desafio: ser capaz de transformar cada um dos temas em reivindicações específicas. ;O Ficha Limpa, por exemplo, tem um ponto concreto. Não aceitamos candidatos condenados pela Justiça. Se os manifestantes não encontrarem um foco para as bandeiras levantadas, vai ficar muito genérico e corre o risco de a mobilização perder pulso;, afirma.
"O Ficha Limpa, por exemplo, tem um ponto concreto. Não aceitamos candidatos condenados pela Justiça. Se os manifestantes não encontrarem um foco para as bandeiras levantadas, vai ficar muito genérico e corre o risco de a mobilização perder pulso;
José Álvaro Moisés, professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo
"É muito ;eu;. ;Eu; não fui consultado. ;Eu; pago impostos, ;eu; tenho direito. Essa é uma parcela de jovens educados sem ouvir ;não;. Os que depredam o patrimônio não são somente os marginais. Também é o mesmo jovem da academia, que sempre teve tudo e que, vez ou outra, agride pessoas e nada acontece;
Edmilson Lopes, sociólogo