Ensino_EducacaoBasica

Circuitos bons de bola

Competição internacional de times de futebol formados por robôs, a RoboCup começa na quarta-feira, na Holanda. O Brasil participa com 22 equipes

postado em 24/06/2013 18:00

Os robôs humanoides são a maior atração da competição: o objetivo dos organizadores é criar um time capaz de jogar contra atletas de carne e osso (Jens Wolf/AFP - 26/4/13)
Os robôs humanoides são a maior atração da competição: o objetivo dos organizadores é criar um time capaz de jogar contra atletas de carne e osso


Não são só os atletas das seleções que se prepararam para entrar em campo. Robôs também vão disputar um mundial. Depois de amanhã, começa a RoboCup 2013, realizada em Eindhoven, no sul da Holanda. O futebol também é o carro chefe do evento, mas o centro das atenções não são craques de carne e osso, mas máquinas que mostram surpreendente habilidade com a bola. A competição é realizada desde 1997 e, em 2014, vai ocorrer em João Pessoa, como parte do calendário oficial de eventos da Copa do Mundo.

A edição deste ano vai contar com a participação de mais de 200 grupos de universidades e instituições de ensino de 40 países. O Brasil será representado por 22 equipes, distribuídas por 13 categorias. Um dos destaques é o Bahia3D, da Universidade Estadual da Bahia (Uneb). Coordenado pelo professor de inteligência artificial Marco Simões, o time compete desde 2007 na categoria de simulação 3D e conquistou o primeiro título mundial para o país em 2009, na Áustria.

Apesar de a copa render disputas emocionantes, o principal objetivo é promover o desenvolvimento da robótica. O futebol foi escolhido como aliado por ser popular e chamar a atenção dos espectadores. Além disso, o desafio de criar um time capaz de vencer estimula os pesquisadores a se dedicarem ao máximo. ;A gente fica na ansiedade de resolver todos os problemas. Perto da competição, os alunos começam a trabalhar nas madrugadas e no fim de semana para tentar alcançar o melhor desempenho;, confirma Simões.

A ideia da iniciativa é alcançar um desenvolvimento tecnológico que permita a constituição, até 2050, de um time artificial que consiga jogar contra a seleção campeã da Fifa naquele ano. Esther Columbini, presidente da RoboCup no Brasil, acredita que a meta seja possível. ;Quando se compara o que acontecia há 16 anos, quando a copa surgiu, e o que se vê agora, dá para acreditar que seja factível. Não sei se a gente vai ganhar, mas vai jogar;, ressalta.

Equipes iniciantes costumam participar com máquinas mais simples, algumas medindo menos de 10cm (Max Rossi/Reuters)
Equipes iniciantes costumam participar com máquinas mais simples, algumas medindo menos de 10cm


Humanoides
A Equipe de Desenvolvimento em Robótica Móvel (Edrom), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), representa o Brasil nas categorias de robôs humanoides nos tamanhos infantil e adulto. Dessa última, apenas quatro times, em todo o mundo, estão habilitados a participar. ;Quanto maior o robô, maior o desafio para controlá-lo. Mais bateria e motores potentes são necessários. É a categoria premium da RoboCup;, explica Esther.

A Edrom começou em 2010 e, no ano seguinte, venceu na categoria de tamanho infantil durante a Competição Brasileira de Robótica (CBR), evento classificatório para a competição internacional. O time é formado pelas robôs Lena, Hope e Kate. ;Estamos nos preparativos finais, visando ganhar experiência internacional, pois, no ano que vem, a RoboCup será no Brasil;, diz Rogério Gonçalves, professor tutor do grupo, formado por 13 alunos de graduação da UFU.

Para os brasileiros, participar das categorias de humanoides é um grande desafio, pois são máquinas maiores e que exigem grandes investimentos. ;Os robôs são caros, ainda mais no Brasil, por conta das altas taxas de importação dos equipamentos. Sem contar na demora para chegar a peça. É uma tarefa árdua;, afirma Esther. Cada humanoide custa em torno de R$ 50 mil no Brasil. Na Europa, esse valor é bem menor, segundo ela, aproximadamente R$ 28.500.

Além disso, os times nacionais sofrem com a falta de patrocínio. ;A gente não tem a cultura do patrocinador. As equipes que têm apoio conseguem levar umas 16 pessoas, e a gente só pode ir com três ou quatro;, conta Marco Simões. Com a realização da competição em João Pessoa, a situação pode mudar. ;A vinda da RoboCup estimula as agências de fomento, porque elas entendem que não é só competição por competição. É pesquisa;, destaca Esther. ;Os mesmos algoritmos e técnicas que a gente usa para resolver os problemas durante as disputas são depois transferidos para diversas outras áreas fora do campo;, completa. ;A RoboCup é, antes de tudo, ciência;, reforça Daniele Nardi, atual presidente da entidade internacional.

Além do esporte
A competição não fica só no futebol. A RoboCup conta com diversas categorias, como a de resgate, que estimula o desenvolvimento de tecnologias para serem usadas em situações de risco. ;Os robôs utilizados em tragédias como as de 11 de Setembro, nos Estados Unidos, e de Fukushima, no Japão, são de universidades que fazem parte da RoboCup;, exemplifica Esther Columbini

Ivan Seidel, 18 anos, coordena a Emerotecos, de Vitória. A equipe, completada por André Seidel, 18, Matheus Canejo, 17, e Abílio Azevedo, 18, começou em 2009 e, desde então, reúne-se em casa para construir robôs e participar de competições. ;Eu montei um escritório na minha casa para mexer com robótica, mas a gente começou como uma equipe de garagem;, conta o estudante.

O time participa na categoria Rescue B, com uma máquina capaz de encontrar pessoas pelo calor. No campeonato, os equipamentos precisam identificar as ;vítimas; de um desastre simulado. ;É como um labirinto. A gente não sabe a quantidade de pessoas identificadas nem a posição delas. É tudo aleatório;, explica Seidel. A equipe foi campeã no mundial na Turquia, em 2011, e no México, em 2012. ;Estamos confiantes. A gente está bem em relação ao robô e temos novidades este ano. Deu bastante trabalho;, completa.

A RoboCupJunior é uma iniciativa educacional voltada para estudantes do ensino fundamental e médio. ;O foco da liga júnior é a educação. O torneio oferece aos participantes a chance de conhecer pessoas de todo o mundo e trocar experiências;, explica Daniele Nardi, presidente da RoboCup. Os times brasileiros que disputam as categorias juniores também costumam ter bons resultados. ;Os mais novos têm um excelente desempenho. Eles passam por uma seleção concorrida no Brasil e, no mundial, têm prêmios de mérito em praticamente todas as categorias;, conta Esther Columbini. Esses jovens pesquisadores costumam abraçar a causa da robótica e a carreira científica. Ivan é um desses casos. Descobriu o gosto pela robótica aos 12 anos e pretende continuar na área. ;É o que eu quero fazer pelo resto da vida.;



Em casa

Outras categorias que costumam chamar a atenção são a Robo@Home e a Robo@Work, voltadas para a criação de máquinas capazes de realizar tarefas em casa e no trabalho. ;O objetivo é desenvolver serviços e tecnologia assistiva de robótica com alta relevância para aplicações futuras;, explica Tijn van der Zant, da Universidade de Groningen, na Holanda. Os robôs são colocados em diversos ambientes que oferecem problemas e eles precisam resolvê-los da melhor maneira possível. Nesse processo, surgem máquinas que fazem serviços de limpeza, servem bebidas e cozinham.



Uma equipe brasiliense

Marcos Pereira (C) e integrantes da Unball: o objetivo é chegar à RoboCup (Edilson Rodrigues/CB/D.A Press)
Marcos Pereira (C) e integrantes da Unball: o objetivo é chegar à RoboCup


Brasília também tem um time de futebol de robôs. O Unball começou em 2009 e participou da primeira competição em outubro do ano passado. Os estudantes disputaram com outros 12 times a categoria IEE Very-Small na Competição Brasileira de Robótica (CBR), em Fortaleza, e conquistaram o quarto lugar. Depois da estreia em campo, o time da UnB já sonha em participar do mundial. ;Nosso objetivo este ano é competir novamente na CBR. E, se tivermos um excelente desempenho, tentar a RoboCup;, explica o coordenador da equipe, Marcos Pereira, aluno do 6; semestre de mecatrônica da Universidade de Brasília. Ele acrescenta que, por ser um evento internacional, a RoboCup é formada por equipes de alto nível. ;Por isso, precisamos de mais pessoas envolvidas no projeto e patrocínio para comprar materiais melhores.;

Integrada por 12 estudantes, a Unball joga com três robôs pequenos, em formato de cubo. Eles são equipados com duas rodas e medem 7,5 cm. ;É consideravelmente mais viável começar com robôs pequenos. Enquanto um humanoide começa custando R$ 15 mil, o preço de um pequeno é, em média, R$ 300;, compara Pereira.

O futuro engenheiro explica que fazer o trabalho é mais complicado do que parece. Uma câmera é colocada em cima do campo de futebol e captura imagens que são enviadas para um computador, que, por sua vez, pode avaliar a posição de cada máquina e tomar decisões sobre o que ela deve fazer. ;Ele é como se fosse o técnico em um jogo de futebol de verdade;, exemplifica. ;É muito mais complicado do que apenas levar o robô até o gol. Por trás disso, há muitas tarefas de desenvolvimento de software. Além dos desafios de gerenciar o grupo e conciliar as atividades do Unball com o curso;, acrescenta o estudante.
Os integrantes do time planejam entrar em uma nova categoria, agora com robôs um pouco maiores, de 15cm e três rodas. ;Assim, temos condições de fazer mais movimentos. Além disso, vamos incluir um mecanismo de chute, o que torna possível desenvolver estratégias mais interessantes, usando cruzamento e cobrança de falta;, explica Pereira. A participação no UnBall pode ajudar os alunos a entender melhor as aplicações dos conteúdos aprendidos na mecatrônica. ;As pessoas entram no curso sem saber o que é isso. E quando você participa de um desses projetos, tem uma ideia do que é o curso, porque, dentro de um robô, você vê todos os sistemas estudados durante a graduação. É bom para integrar os conhecimentos;, afirma o coordenador do Unball.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação