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A cara da juventude

postado em 24/06/2013 12:37

Hanna e Maurício (d) no quarto de Patrick, montado na sala do apartamento: a cozinha é o único espaço comumA grande jaqueira que fica na janela do universitário Maurício Campos, 24 anos, foi indiretamente responsável pelo batismo da república, da qual ele foi o primeiro morador. Um dia, ao voltar para o quarto, viu em cima da sua cama um pequeno mico, que usou os galhos para chegar até lá e só saiu depois de muito esforço. Da situação inusitada, veio a ideia para o nome: República do Macaco Louco. Surgida em 2009, ela já viu passar mais de 10 pessoas desde que Maurício resolveu colocar seu nome na papelada necessária ao aluguel.

;Sou de Goiânia. Vim para a Brasília por conta da faculdade e estou nesta república desde o primeiro dia. Sou o único desde o início, tanto que tudo está em meu nome. Eu sou o maioral;, brinca ele. O apartamento, que hoje conta com cinco moradores, é todo adaptado à vida em república. Apenas a cozinha é de convívio coletivo: a sala foi ajustada para se tornar um quarto e a dependência de empregada só mantém esse nome porque é assim chamada em bom português.

É na sala/quarto que vive o também universitário Patrick Cassimiro, 23 anos. Seu quarto é a cara de quem está nessa transição entre a vida na faculdade e o mundo pós-diploma. A parede é repleta de colagens, que vão desde de cartazes de festas alternativas a imagens de moças em poses de modelo, passando por referências cinematográficas e musicais. ;Vim de Luziânia quando passei na UnB porque ficaria mais fácil. Desde que cheguei, sempre vivi em repúblicas. A primeira foi com evangélicos, o que dificultou a convivência. Depois, passei um tempo em Porto Alegre e, quando retornei em 2011, o Maurício me avisou da vaga e, desde então, estou aqui.;

Para ele, o aspecto financeiro não pode ser deixado de lado, já que a vida de estudante não é fácil para (quase) ninguém que sai da própria cidade. ;Mas Brasília causa muito essa sensação de solidão. A ideia de morar em repúblicas também vem muito disso: é divertido ter pessoas que você gosta por perto e assim não se sentir sozinho. Há essa troca de conhecer outros que estão numa situação parecida com a sua.; Maurício, que quase sempre se responsabiliza em conhecer os candidatos, explica que é muito difícil, para ele, saber mais sobre alguém somente com uma conversa.

;Você só conhece a pessoa mesmo depois de um tempo que mora com ela. O que perguntamos sempre é o curso. Aqui, por exemplo, só tem gente da área de humanas. Veio antes um cara de engenharia e, quando ele disse isso, já vi que estava fora. Algo em comum é preciso ter.; Estudante de ciências sociais no Rio de Janeiro, Hanna Waisman, 22 anos, está há cerca de um mês em Brasília para fazer um estágio. A sua futura formação definiu a escolha para a república. ;Essa é a primeira que participo na vida, já que morava no Rio com a minha mãe. Mas me senti muito à vontade desde que cheguei e já me considero de casa. Eu não tinha outra opção e foi bem difícil encontrar enquanto estava no Rio.; Apesar do pouco tempo, já vem se adaptando à regra de poucas regras da casa. ;As dinâmicas de divisão de tarefas são sempre falhas. Não tem como sistematizar isso. Uma hora vai dar errado;, acredita Maurício. Por isso, ele sempre deixa para as diaristas o trabalho de organizar o que eles fazem com o apartamento.

Para os problemas que surgem entre os moradores, a parede da cozinha se torna o muro das lamentações: é nela, com pincéis, que eles colocam os recados a quem não se comportou direito, seja por um barulho excessivo, seja por não assumir que comeu o iogurte do colega, seja para externar uma epifania poética. ;As discussões se resolvem quando aparecem. Mas todos sabem o que é seu e não há problemas maiores com isso;, garante Hanna. De resto, tudo liberado, desde que respeitando o espaço. Nenhuma limitação para quem leva visitas. ;Quando vejo alguém que não conheço, cumprimento normalmente e penso: ;Ela deve saber o que está fazendo aqui;;, brinca Patrick. As festinhas, quando ocorrem, sempre integram os outros moradores. Assim, até o fim do curso, eles seguem se divertindo.

República do Macaco Louco
Moradores: cinco pessoas
Regra maior: escreva suas reclamações na parede da cozinha
Tempo de existência: desde 2009


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