Paloma Oliveto
postado em 28/06/2013 18:00
Em 15 de dezembro de 2004, astrônomos do mundo todo ficaram alvoroçados com um boato que começou a circular timidamente, até virar manchete em sites, jornais e noticiários da tevê. A sonda Voyager 1, lançada pela Nasa em 1977, teria saído do Sistema Solar, chegando ao espaço interestelar, região jamais alcançada por um objeto terrestre. Há poucos meses, os rumores se reiniciaram, e a agência espacial americana tratou de desmenti-los. Agora, em três artigos publicados na revista Science desta semana, os responsáveis pela sonda: apesar de ainda estar na área de influência do Sol, a nave não tripulada atravessou a fronteira do desconhecido.;A Voyager 1 ainda está no Sistema Solar. Sabemos disso porque os dados que chegam à Terra mostram que o campo magnético não mudou de direção;, afirma Edward Stone, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Califórnia e um dos cientistas que integra o projeto da sonda espacial. Modelos teóricos indicam que, ao sair da heliosfera ; bolha de partículas carregadas, lançadas pelo Sol ;, a trajetória da sonda se inverterá. Contudo, ele conta que os cientistas estão intrigados. ;À medida que a nave se aproxima da fronteira da heliosfera, percebemos que alguma coisa dramática está acontecendo. Ela está em um território completamente estranho;, reconhece o principal autor de um dos artigos.
Até onde os astrônomos conseguiram captar, esse local foi alcançado cinco vezes no ano passado, desde 28 de julho. Pode ser que a Voyager 1 tenha feito outras incursões ao que os cientistas estão chamando de região de depleção, uma área em que os ventos solares, compostos pelas partículas elétricas, param de soprar abruptamente. Mas, como a nave está muito longe da Terra, demorando até 20 horas para que um sinal de rádio chegue ao planeta, é possível, de acordo com Stone, que a Voyager 1 tenha se aventurado por esse território misterioso em outras ocasiões. A falta de vento não significa calmaria: na região, fortes turbulências são provocadas pelo aumento da força do campo magnético ao redor da sonda espacial.
;Não culpamos quem achou que ela tinha chegado ao espaço interestelar, muitos de nós pensamos isso a princípio. Os dados demoram a chegar e, mesmo depois de processados, precisamos de tempo para analisá-los;, admite Stamatios Krimigis, pesquisador que também faz parte do projeto Voyager 1 e coautor de um dos artigos. De acordo com ele, se apenas as informações sobre a drástica diminuição de partículas carregadas fossem levadas em conta, seria admissível acreditar que a sonda havia saído do Sistema Solar, rumo a outros planetas e estrelas da Via Láctea. Krimigis afirma que não é possível dizer quando isso vai acontecer. Embora a Voyager 1 nunca tenha estado tão próxima de se despedir do Sol, os pesquisadores sabem que precisam de cautela. Em 2004, astrônomos chegaram a publicar textos em revistas científicas afirmando que a nave já havia saído da heliosfera. Krimigis prefere não falar em datas: ;Pode levar meses ou anos para que isso ocorra;, despista.
As medições feitas pela Nasa indicam que, em princípio, a última vez que a Voyager 1 entrou na região de depleção foi 25 de agosto. Desde então, os dados que chegam aos centros de processamento ligados à agência espacial indicam estabilidade. ;Estamos em uma nova região e não importa o nome que se dá a ela, o empolgante a respeito é que chegamos lá;, observa Bill Webber, professor de astronomia da Universidade Estadual do Novo México em Las Cruces, que assina o artigo com Edward Stone. O pesquisador foi um dos cientistas que afirmou, em março deste ano, que a sonda já poderia estar no espaço interestelar. Webber destaca que, na ocasião, apenas sugeriu essa possibilidade. Para ele, porém, mesmo que a Voyager 1 não tenha deixado o Sistema Solar, a nave realizou um feito histórico e, até o fim previsto da missão, ainda vai revelar muitas surpresas.
Estudo do Sol
Um pequeno telescópio da Nasa, com 2,1m de largura e pesando 204kg, será lançado hoje da base da Força Aérea de Vandenberg, na Califórnia, com a missão de investigar a atividade do Sol. Há muito tempo, os cientistas querem saber por que a atmosfera da estrela-mãe é mais quente que sua própria superfície. O instrumento, que ficará 640km acima da Terra, também deve fornecer mais informações sobre a forma de dispersão de calor das estrelas. ;Todas as vezes que olhamos para o Sol mais detalhadamente, uma nova janela é aberta para nós;, disse Jeffrey Newmark, cientista da Nasa.