Uma das principais medidas anunciadas pelo Planalto em meio à crise política desencadeada com as manifestações populares divide a população. Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes/Instituto MDA revela que 49,7% os brasileiros são a favor da importação de médicos estrangeiros, mas 47,4% estão contra ; a margem de erro do levantamento é de 2,2%. Ao todo, foram ouvidas 2.002 pessoas em 134 municípios entre 7 e 10 de julho. O levantamento também mostrou uma queda na avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff. O percentual de pessoas que avaliavam a gestão como boa ou ótima despencou de 54,2% em junho para 31,3%.
O resultado do levantamento reavivou as críticas feitas à importação de médicos, tanto por parte das organizações de classe quanto da oposição. Na avaliação do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto Luiz D;Avila, os números mostram que Dilma não atendeu os apelos das manifestações. ;Apesar de todo o apelo midiático do anúncio de importação dos médicos estrangeiros sem passar pelo Revalida, incluindo o investimento na divulgação da medida, a população permanece crítica e discorda que apenas isso resolverá a dificuldade de acesso à assistência;, pondera. ;Esse sentimento de rejeição ao pacote tende a aumentar à medida que os brasileiros perceberem os riscos envolvidos no Programa Mais Médicos, seja do ponto de vista pessoal ou legal;, acredita.
O ex-ministro da Saúde e ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) também não poupou o programa de críticas. Segundo ele, se a presidente estivesse mesmo interessada em resolver o problema da saúde, começaria a pagar os salários de R$ 10 mil mais ajuda de custo aos formandos imediatamente, e não só em 2018. ;A ideia não é fazer nada, é jogar no virtual, na propaganda;, alfineta.
A divisão na sociedade em relação a uma das principais respostas de Dilma à crise, a importação de médicos, não surpreendeu os petistas. O líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), acredita que o problema é a falta de compreensão a respeito da proposta. ;Se nós tivéssemos colocado de forma didática, correta, o entendimento seria maior;, afirma. Já o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou que essa é uma medida da qual o governo não abre mão e criticou a metodologia da pesquisa. ;Nossa proposta é oferecer aos médicos brasileiros a ida para o interior, onde falta médico, e, se não houver, contratar estrangeiros. A pergunta não foi feita assim, mas de qualquer forma, mesmo assim, a população apoia;, avaliou. O levantamento também mostrou que 24,6% dos entrevistas avaliaram a resposta de Dilma à crise como boa ou ótima, frente a 30,7% que acharam ruim ou péssima. Além da queda na avaliação do governo, foi verificada também uma redução na aprovação pessoal de Dilma Rousseff. Caiu de 73,7% para 49,3% o percentual dos que apoiam ; já a desaprovação está em 47,3%.
Disputa presidencial
A pesquisa de intenção de votos também mostrou um cenário de incerteza para Dilma. Na estimulada, a presidente aparece com 33,4%, seguida por Marina Silva com 20,7%, Aécio Neves com 15,2% e Eduardo Campos, 17,9%. Em todas as simulações, a presidente não escaparia de um segundo turno. Quando questionados sobre a presidente, 44,7% afirmaram que nunca votariam em Dilma, o maior percentual entre os presidenciáveis. Com relação a Aécio Neves, 36% responderam da mesma forma. Marina Silva e Eduardo Campos tiveram 12,7% e 31,9% de rejeição cada um, respectivamente.
Sem comentar a pesquisa, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem, em Ponta Grossa (PR), que o dinheiro arrecadado pelo governo tem de ser devolvido à população. Ela disse ainda que o Brasil é um país especial por dialogar com movimentos sociais e que manterá o Bolsa Família ;enquanto for necessário;. ;Eu sou presidenta de todos os brasileiros, mas sou presidenta com o olho voltado, muito, mas de forma muito intensa, para aqueles que mais precisam;, afirmou.
Protestos pelo país
Médicos brasilienses protestaram ontem contra as medidas anunciadas pelo governo federal para a área da saúde, como a vinda de profissionais estrangeiros para o Brasil e aos vetos da presidente Dilma Rousseff ao Ato Médico ; lei que regulamenta o exercício da medicina. Os cerca de 100 manifestantes chegaram a bloquear uma faixa na W3 Sul, enquanto exibiam faixas e panfletavam. Em São Paulo, cerca de 500 médicos protestaram na parte central da cidade, chegando a fechar a Avenida Paulista. No Rio, 200 se reuniram em frente à Câmara Municipal. Os grupos tinham as mesmas pautas dos profissionais candangos. Já os representantes de todas as universidades federais debateram ontem o Programa Mais Médicos com os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Saúde, Alexandre Padilha, e criaram um grupo de estudos que vai auxiliar o Conselho Nacional de Educação a regulamentar a proposta de incluir um segundo ciclo de estudos na formação médica. (Étore Medeiros e Julia Chaib)