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Reabilitação computadorizada

Engenheiro da Unicamp cria aparelho que, por meio de impulsos elétricos, provoca movimentos em pernas paralisadas devido a lesões medulares. A técnica também ajuda no desenvolvimento de terapias mais eficazes a partir da combinação das informações armazenadas

postado em 26/07/2013 18:00
Sofrer um acidente grave ou cair bruscamente pode provocar danos medulares irreversíveis. Para superar essas limitações, pesquisadores de todo o mundo seguem em busca de tratamentos. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o engenheiro de computação Guilherme Nogueira apostou em impulsos elétricos para estimular as pernas de vítimas de lesões gravíssimas. Testada em humanos, a máquina apresentou resultados animadores.

O aparelho é um estimulador neuromuscular. Por meio de dois sensores, induz sinais para excitar neurônios motores, que são os responsáveis pela contração muscular. ;A lesão medular parcial ou total compromete a passagem das informações de comando e controle voluntário do córtex motor para os músculos responsáveis pelos movimentos. Tudo isso acontece em decorrência da lesão. Portanto, com o emprego de um estimulador elétrico neuromuscular utilizado paralelamente, é possível obter uma via alternativa para a produção de movimentos em membros paralisados;, explica Nogueira.

Os sensores enviam informações sobre o estímulo e a movimentação das pernas a um computador. Assim, é possível antecipar o momento crítico da perda de desempenho, causado, por exemplo, pela fadiga muscular; e traçar objetivos mais claros para as sessões de treinamento. ;O sistema se responsabiliza, automaticamente, a saber até que ponto a perna precisa se mover, ir até determinado grau e depois diminuir. Com ele, também é possível desenvolver um programa de biofeedback, que forneceria informações importantes para que os próprios pacientes desenvolvam melhorias na terapia;, afirma Nogueira.

Segundo o engenheiro, a técnica de estimulação elétrica neuromuscular (EENM) é conhecida e praticada por grupos de pesquisa de vários países. No Brasil, existem iniciativas bastante expressivas em universidades de São Paulo, do Paraná, de Minas Gerais, do Distrito Federal e do Rio de Janeiro, entre outras unidades da Federação. ;O meu trabalho é uma contribuição aos estudos realizados anteriormente e foi concluído com o desenvolvimento de uma plataforma de EENM e aquisição de sinais multiparamétricos que possibilitarão dar sequência às pesquisas, ampliando as áreas de estudo com controle motor;, complementa.

Para Denise Xerez, médica do Serviço de Medicina Física do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o software desenvolvido por Nogueira mexe com uma tecnologia que é foco de pesquisas em todo o mundo e uma das esperanças da engenharia biomédica. Ela cita como exemplo os exoesqueletos fabricados em Israel, no Japão e nos Estados Unidos, que se baseiam em um sistema de controle que ;parece bem mais complexo do que o apresentado pelo pesquisador brasileiro;. ;A tecnologia no Brasil está muito defasada pela falta de investimentos em pesquisa nessa área;, lamenta.

Nogueira explica que ainda não é possível fazer uma avaliação dos custos específicos do sistema criado por ele, mas o engenheiro de computação ressalta que o desenvolvimento do EENM merece investimentos também por trazer outra série de benefícios a pacientes cadeirantes, prevenindo, por exemplo, outras complicações de saúde. ;Os problemas associados à lesão medular, além do comprometimento motor, envolvem o desenvolvimento de úlceras por pressão; alterações fisiológicas no sistema de esfíncteres, como a incontinência urinária e fecal; trombose e embolia pulmonar;, diz.

Apoio em barras
Guilherme adianta que já foi feito o pedido de patente do equipamento. O software está em fase de adaptações e há a perspectiva de associação com um hospital de reabilitações. ;Se tudo correr bem, poderemos realizar as nossas pesquisas em um número maior de voluntários. Desse modo, será possível realizar treinamento de longo prazo, condicionar a musculatura dos pacientes e repetir atividades previamente conseguidas, como a realização de marcha em barras paralelas e, futuramente, levar essas conquistas para fora dos laboratórios;, planeja o pesquisador.

Usando a mesma tecnologia, cientistas do Laboratório de Engenharia de Reabilitação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, conseguiram que pacientes ficassem de pé segurando em barras. De acordo com Xerez, a pesquisa com eletroestimulação neuromuscular começou em 1960 e ainda não há notícias de pessoas que tenham conseguido caminhar fora do ambiente terapêutico.

A pesquisadora alerta que o trabalho com esses pacientes exige bastante cuidado, tanto com os aspectos físicos quanto dos psicológicos. ;Envolve necessariamente uma equipe intermultidisciplinar e multifatorial. É preciso ter cautela para não dar às pessoas falsas esperanças;, acrescenta.

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