Ensino_EducacaoBasica

A doutora natureza

Pesquisadores de São Paulo e Minas Gerais se unem na busca de plantas capazes de tratar úlcera, colite, inflamações, dores crônicas, câncer e diabetes. Estudo compreende 30 espécies de vegetais

postado em 29/07/2013 18:00
A Solanum paniculatum, popularmente conhecida como jurubeba, apresentou resultados animadores no tratamento de úlceras e inflamações em testes com camundongosBelo Horizonte ; O chá da avó para combater problemas digestivos e a garrafada de ervas indicada pelo amigo do interior para curar a dor de cabeça estão na lâmina do microscópio. Um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) para comprovar a capacidade terapêutica das plantas se baseou em consultas à população do interior sobre o que os moradores usam para tratar algumas doenças. Iniciado há dois anos e fruto de uma parceria com a Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais, o levantamento compreendeu o estudo de 30 plantas e pretende identificar medicamentos para o tratamento de úlcera, colite, inflamações, dores crônicas, câncer e diabetes. ;Temos espécimes de Minas, São Paulo, Mato Grosso e outros estados;, afirma o professor Wagner Vilegas, responsável pelo estudo. ;Fazemos um levantamento farmacológico nas regiões. Perguntamos quais planta as pessoas usam para tratar determinada doença. Se a mesma informação é encontrada em vários pontos do país, o vegetal passa a ser pesquisado;, explica o professor.

Com o encerramento da primeira fase do levantamento, o grupo pesquisado foi reduzido para seis plantas. ;São as que apresentaram características mais promissoras;, pontua Vilegas. Uma é a Bauhinia holophylla, ;parente; da Bauhinia foticata, a árvore conhecida como pata-de-vaca, cujas folhas são utilizadas no tratamento da diabetes. A doença surge da incapacidade do pâncreas de produzir insulina, o que provoca a elevação das taxas de açúcar no sangue. A pata-de-vaca é comum na Mata Atlântica, e seu tronco espinhoso chega a medir entre 8m e 9m de altura.

A Solanum paniculatum, popularmente conhecida como jurubeba, também está no grupo sob análise. A planta apresentou resultados animadores para o tratamento de úlceras e alguns tipos de inflamação. Comum em todo o território brasileiro, é usada como digestivo e para o tratamento de doenças do fígado. O estudo também levou para o laboratório a Terminalia catappa, ou chapéu-de-sol, que poderia ser usada contra doenças do estômago. No entanto, os estudos acusaram a existência de substâncias capazes de provocar mutação nas células.

;Induzimos uma úlcera, por exemplo, em camundongos e aplicamos as plantas como tratamento;, relata o professor. A próxima fase do estudo prevê a utilização de cobaias humanas. Conforme Vilegas, um dos objetivos do estudo é tentar reproduzir, em laboratório, as substâncias terapêuticas encontradas nas plantas, o que possibilitaria a produção em larga escala de medicamentos e, ao mesmo tempo, contribuiria para a preservação do meio ambiente.

O professor admite a possibilidade de novas plantas serem introduzidas no levantamento. Depois de conduzir a pesquisa a partir de Araraquara (SP), Vilegas foi transferido para o câmpus da faculdade em São Vicente, no litoral do estado. ;A pesquisa agora envolverá animais invertebrados e algas marinhas;, acrescenta. O estudo conduzido por Vilegas recebe recursos dos governos federal e estadual. O custo é estimado entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. A pesquisa deverá ser concluída em 2020.

Economia
De acordo com Alex Botsaris, presidente da Associação Brasileira de Fitoterapia, a estratégia de coletar dados nas comunidades para encontrar plantas que possam ser transformadas em remédios é a mais eficiente no mundo. ;Tentaram coletar aleatoriamente, nos Estados Unidos, ativos na natureza que pudessem ser utilizados no tratamento do câncer. Cerca de 7 mil amostras foram levadas para o laboratório e apenas seis tinham potencial para uso, o que significa, entre outros pontos, que esse tipo de busca causa redução de investimentos para se encontrar uma molécula ativa;, defende Botsaris.

Ele cita como exemplo um dos remédios mais usados no mundo, o ácido acetilsalicílico, empregado no combate a dores e à febre. A droga é produzida a partir da casca do salgueiro-branco. A árvore, encontrada em regiões de clima temperado (como o centro e sul da Europa, norte da África e oeste da Ásia), era usada por indígenas para o tratamento dos mesmos sintomas. O controle das pesquisas para o desenvolvimento de medicamentos a partir de substâncias encontradas em plantas e animais é feito no Brasil pelo Conselho de Gestão de Patrimônio Genético (Cgen), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, do qual participam representantes de outras pastas, como Ciência e Tecnologia; Saúde; Justiça; Agricultura; Pecuária e Abastecimento; Defesa; e Cultura. Integrantes da Associação Brasileira das Empresas de Biotecnologia, e de ONGs também têm assento no conselho.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação