Ensino_EducacaoBasica

De olho no céu

Pesquisadores de São Paulo desenvolvem métodos computacionais para a avaliação de dados complexos sobre o clima. Informações captadas por satélites e por estações meteorológicas podem ajudar a aprimorar a colheita

Paulo Lima
postado em 02/08/2013 16:00
Cientista testa as funcionalidades do projeto AgroDataMine, considerado de excelência na área da pesquisa (Nadir Rodrigues/Divulgação)
Cientista testa as funcionalidades do projeto AgroDataMine, considerado de excelência na área da pesquisa

A melhora na produção das lavouras por meio da tecnologia não se restringe apenas ao uso de equipamentos agrários de última geração. Como o bom clima influi no sucesso da colheita, é exatamente do céu que se podem ter informações importantes para o cultivo. Com o objetivo de ajudar os agrometeorologistas a preverem os eventos climáticos, de forma precisa, pesquisadores do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC/USP), em São Carlos (SP), e da Embrapa Informática Agropecuária (em Campinas) desenvolveram um projeto chamado AgroDataMine. A ferramenta consiste em métodos computacionais que decifram conjuntos de dados complexos.

De acordo com os cientistas, as tecnologias inovadoras ajudam na análise sobre o clima. Para tanto, os estudiosos recorreram à mineração de dados ; um aglomerado de métodos e técnicas, cujo objetivo é explorar as informações em busca de regularidades. Outra metodologia empregada foi a teoria de fractais, uma área da matemática que mede e classifica situações complexas não baseadas na geometria tradicional. No projeto, ela ajuda a mapear a distribuição de grandes volumes de dados.

Os especialistas inventaram três softwares. O primeiro deles, o programa SatImagExplorer, é uma ferramenta que utiliza imagens de satélite para medir e analisar os acontecimentos de uma região monitorada. Desenvolvido durante a tese de doutorado de Luciana Romani, pesquisadora da Embrapa Informática Agropecuária de Campinas (SP), ele extrai informações do satélite captadas por um antena e os processa em milhões de bytes, por meio da mineração de dados. ;Esse programa permite, por exemplo, a análise de uma série de imagens entre 2000 e 2012, possibilitando a percepção dos acontecimentos ao longo de cada ano, o que identifica as diferenças ocorridas nas safras agrícolas;, afirma a pesquisadora.

O desafio do projeto, segundo Romani, foi selecionar informações relevantes em meio a uma quantidade significativa de dados. Assim, os pesquisadores optaram por manter o foco nas regiões produtoras de cana-de-açúcar do estado de São Paulo, a fim de testar os métodos computacionais. Os resultados mostram que os softwares auxiliam positivamente a precisão dos dados das tecnologias usadas na previsão do clima.

Outro programa utilizado é o ClimFractal Analyzer, que serve para análises dinâmicas, baseadas em dados do clima de estações meteorológicas reais ou gerados por modelos climáticos. A terceira ferramenta, um software chamado TerrainViewer, possibilita apresentar e manipular modelos tridimensionais de dados. Para Luciana Romani, as informações disponibilizadas pelos sistemas ajudam o especialista a melhorar o modelo usado, a fim de que se tenham dados cada vez mais exatos.

A opinião é compartilhada pelo meteorologista e chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Inmet de Brasília, Luiz Cavalcanti. Ele acredita que o projeto AgroDataMine é um trabalho de excelência no campo da pesquisa científica. Segundo Cavalcanti, as atuais tecnologias para a previsão do tempo utilizam imagens e informações captadas por satélites, pelas estações de coleta de dados, pelas boias oceânicas e por outras fontes, que medem temperatura, umidade e ventos. ;Ainda temos uma dependência em satélites meteorológicos americanos, europeus e chineses, mas os modelos matemáticos de previsão do clima são muito similares. Mas alguns têm menos informações que outros e requerem sistemas computacionais poderosos, com grandes capacidades de cálculos. Possivelmente os softwares desenvolvidos pelos pesquisadores de São Paulo servirão de auxílio no processo;, afirma.

Especialista em sistemas distribuídos em Brasília, Waelson Nunes, é entusiasta do uso das ferramentas fornecidas pelo projeto AgroDataMine. De acordo com ele, os agricultores poderão ter à disposição informações para evitar perdas no cultivo. ;Por se tratar de um projeto de mineração de dados, ele está em constante evolução e aprimoramento. À medida que novas informações são adicionadas, mais precisa a ferramenta ficará;, afirma.

Movimento do corpo
No projeto dos pesquisadores de São Paulo, também pode ser usada a plataforma Kinect, da Microsoft. Segundo Luciana Romani, da Embrapa Informática, o objetivo é promover a interação dos usuários com os sistemas desenvolvidos, sem a necessidade de dispositivos, como mouses. Para Waelson Nunes, trata-se de uma importante iniciativa, já que os sensores do Kinect, ao detectarem os movimentos, podem ser uma alternativa para a avaliação diferenciada dos dados climáticos. ;Projetadas e com boa resolução, as imagens são semelhantes às vistas na tela do computador;, finaliza.

Previsões brasileiras

De acordo com o Inmet, o Brasil está preparado para prever os eventos climáticos. Já estão em operação modelos de previsão com índices de acerto consideráveis em relação à distribuição de chuvas nas regiões brasileiras, com até três meses de antecedência. Os softwares do projeto AgroDataMine ajudarão a certificar a precisão dos dados obtidos via satélite, a fim de evitar perdas agrícolas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação