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A promissora biotecnologia

O setor ganha força no país por meio dos esforços de pequenas e grandes empresas em busca de inovação. A criação de testes para o diagnóstico precoce de doenças, e o aperfeiçoamento de vacinas estão entre os destaques

Paula Carolina
postado em 05/08/2013 16:00
Pesquisador da Labtest, que produz e comercializa reagentes que auxiliam no diagnóstico de exames: novidade é um marcador que indica lesões renais precoces
Pesquisador da Labtest, que produz e comercializa reagentes que auxiliam no diagnóstico de exames: novidade é um marcador que indica lesões renais precoces


Belo Horizonte ; Da saúde humana à animal, passando pelo meio ambiente e pela agroindústria, a biotecnologia está mais presente em nossa vida do que normalmente se imagina. O setor vem se desenvolvendo a passos largos, e o Brasil, conseguindo destaque em algumas áreas. Fundamentado em pesquisa e carente de recursos, o segmento tem nas parcerias os maiores aliados. Grandes, médias e pequenas empresas do país, que atuam nos mais distintos ramos de atividade, compartilham os efeitos benéficos dessa força.

Em Minas Gerais, a Labtest, pertencente à Associação Mineira de Empresas de Biotecnologia e Ciências da Vida (Ambiotec), produz e comercializa reagentes e equipamentos para auxiliar no diagnóstico de exames. A mais recente e importante novidade da empresa ao segmento médico é o NGAL, um marcador que acusa lesões renais precocemente por meio de exame de sangue ou de urina, possibilitando o tratamento de doenças que, se descobertas tardiamente, têm o potencial de cura bastante comprometido. O desenvolvimento do marcador é fruto de parceria com uma empresa da Dinamarca, onde também é considerado uma novidade.

O NGAL, também chamado de lipocalina associada com gelatinase de neutrófilos humanos, é uma substância química sintetizada pelo organismo. ;A lipocalina é uma proteína que, se alterada, aparece no sangue quando há uma lesão renal;, explica o farmacêutico e bioquímico Fúlvio César Facco, gerente de inovação da Labtest. ;O processo acontece da seguinte forma: o rim tem células que fazem a filtração dos elementos químicos do sangue, mas essas células podem ir morrendo aos poucos e o rim vai perdendo a função. E, quando há lesão dessas células, existe a liberação do NGAL no sangue. Esse marcador que desenvolvemos tem a função de quantificar a quantidade de NGAL liberada, que é um indício de que o rim foi lesionado;, completa. ;E isso pode ser diagnosticado tanto pelo exame de sangue como pelo de urina.;

A revolução do NGAL está no fato de os marcadores existentes até hoje ; o mais comum é a creatinina ; somente conseguirem diagnosticar a doença quando ela está em estágio avançado. ;Se há uma alta concentração de creatinina, que também indica lesão renal, o problema já está agravado. Com o NGAL, é possível tomar conhecimento da situação quando há uma lesão mínima, em estágio bem inicial. O paciente pode ser tratado e deixar de ter o problema, ou seja, ficar curado;, compara Facco.

O problema é que o marcador tem o preço alto, comparado a exames comuns. Para exemplificar, o gerente de inovação da Labtest explica que o custo para o laboratório que vai fazer o exame é cerca de 50 vezes maior do que de um exame de glicose, o que dificulta o acesso do produto ao mercado como um todo. Segundo Facco, a empresa está em negociação para comercializar o produto com grandes hospitais do Brasil, como o Albert Einstein e o Hospital das Clínicas, ambos de São Paulo, além de algumas clínicas de nefrologia. Para o paciente, considerando que o NGAL ainda não foi assimilado pelos planos de saúde, ele estima que o exame custaria entre R$ 75 e R$ 100. Um exame simples de glicose custa em torno de R$ 20.

Para o presidente do Departamento de Nefrologia da Associação Médica de Minas Gerais, Fernando das Mercês de Lucas Júnior, o marcador é importante principalmente por abrir a possibilidade de evitar os casos de insuficiência renal. Ele avalia, porém, que o exame não é para todos os pacientes com problema renal. ;É uma técnica muito recente. Não é para ser usado indiscriminadamente. É mais para casos de insuficiência renal aguda e nesse cenário o custo-benefício vale a pena;, pondera. Fernando cita como exemplo um paciente idoso que acabou de sair de uma cirurgia cardíaca. ;Essa é uma doença que tem grandes chances de se desenvolver no pós-operatório. E, se você ficar esperando, perde a chance de um diagnóstico precoce. Então, é um caso em que esse exame se aplica.;

Sem sacrifício
A Bios também colhe os frutos da aposta em biotecnologia e conhecimento especializado. ;Somos uma empresa que surgiu da necessidade do mercado. Eu e uma amiga trabalhamos seis anos na indústria produtora de vacina e tínhamos o conhecimento amplo desde o desenvolvimento do produto na bancada ao registro no Ministério da Agricultura, o licenciamento e a comercialização. Quando saímos dessa empresa, o mercado nos procurou para a prestação de serviços de consultoria;, conta Luciana Aramuni Gonçalves, proprietária do investimento.

Mas a grande visibilidade da empresa veio depois de um trabalho desenvolvido por demanda da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), quando a Bios fez o desenho da cadeia de valor do setor de biotecnologia da Região Metropolitana de Belo Horizonte. ;Nosso trabalho virou um documento usado por todos os setores de negócio do país. Criamos uma cadeia de valor que divide os passos para a produção de cada tipo de produto relacionado ao setor de biotecnologia;, orgulha-se Luciana, também doutoranda em veterinária na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

É exatamente no doutorado da UFMG que deverá ser desenvolvido outro importante produto da área de biotecnologia. Em parceria com o Ministério da Agricultura, Luciana desenvolve um projeto cujo objetivo é ;substituir os testes de potência de vacina in vivo;. Ou seja, criar testes sorológicos in vitro que permitam acabar com o uso de cobaias (animais vivos) para a produção de vacinas veterinárias. Sem poder entrar em detalhes sobre o projeto, já que o doutorado está previsto para terminar em janeiro de 2016, a futura doutora exemplifica a possível aplicação do doutorado, previsto para ser finalizado em janeiro de 2016. ;Posso dar um exemplo que não faz parte do projeto. A vacina contra a raiva é testada em camundongos. É um teste muito cruel porque são usados bebês das cobaias e a inoculação é intracerebral. O projeto que desenvolvo é para que os testes sejam feitos sem que se usem animais para a análise dos resultados.;

;Nosso trabalho virou um documento usado por todos os setores de negócio do país. Criamos uma cadeia de valor divide os passos para a produção de cada tipo de produto relacionado ao setor de biotecnologia;
Luciana Aramuni Gonçalves, proprietária da Bios

Para saber mais

Visibilidade internacional
O intercâmbio de informações, além da possibilidade de convênios com especialistas de todo o mundo que atuam na área, é uma importante ferramenta de desenvolvimento quando se trata de tecnologia. A Associação Mineira de Empresas de Biotecnologia e Ciências da Vida (Ambiotec) planeja até o fim de setembro firmar um convênio de cooperação com a Associação das Empresas de Biotecnologia da Espanha (ACBio). A parceira vai permitir que empresas de ambos os países façam negócios entre si. ;Além disso, a Espanha é o portão de entrada da Europa para projetos da União Europeia;, lembra a coordenadora executiva da Ambiotec, Vanessa Silva da Silva. Para o fim deste ano, está prevista a participação da Ambiotec na Biolatin, um evento realizado em Bogotá voltado para a promoção de rodadas de negócios entre empresas da Europa e da América Latina.

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