Ela sabe de cor o nome dos alunos de pós-graduação que formou e cita onde eles trabalham. Atende ligações para resolver dúvidas em dissertações de mestrado, analisa amostras de pacientes para chegar aos diagnósticos de cromossomopatias. É impressionante a capacidade didática da professora cientista. Basta uma simples pergunta para ela transformar qualquer dúvida em conhecimento. Ela simplifica por meio de exemplos práticos o que é uma cromossopatia. ;Se nasce uma criança com problema intelectual, por exemplo, e a família quer entender o porquê, fazemos toda uma análise para saber a origem disso. Com isso, ainda podemos fazer o diagnóstico de probabilidade de um próximo filho nascer com a doença;, esclarece.
A facilidade em falar sobre o assunto não é à toa. Ela dedicou a vida à pesquisa. Natural de Jaú (SP), começou a vida acadêmica na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), em 1951. Graduou-se em clínica médica na primeira turma da instituição. Nessa época, fazia hematologia. Trabalhou na área, mas um professor da época a apresentou à citologia.
;Comecei nessa área e depois fiz especialização nos Estados Unidos. Passei dois anos lá com bolsa de estudos. Trabalhei com dois citogeneticistas e desenvolvi muito o assunto;, contou. Isso foi entre 1963 e 1965, na University of Wisconsin Madison. De volta ao Brasil, fez o doutorado na USP de Ribeirão Preto, com o tema Estudo de Aberrações Cromossômicas em Pacientes com Malformações Físicas Múltiplas e Retardo Mental.
Concluiu o pós-doutorado na University of Leiden, na Holanda. Aposentou-se como docente da USP e recebeu um convite do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) para desenvolver a citogenética na UnB. ;Tinha 54 anos. Topei o desafio. Saí de São Paulo, vim para Brasília. Nunca senti solidão aqui, como muitos relataram. Pelo contrário, fui muito bem recebida;, disse a professora.
Continuidade
Ela implantou o programa de atendimento gratuito no HUB na área da citogenética e ajudou cerca de 8 mil famílias a descobrirem por que o filho, a mãe, o pai ou algum parente tem deficiência intelectual, má-formação física e abortos de repetição, entre outros. Durante anos, Íris se dividiu entre as aulas no laboratório para pós-graduação e o diagnóstico. As análises são demoradas. É necessário conhecer todo o histórico da pessoa, além dos exames, para ter um veredicto.
Nos 26 anos de UnB, ela atendeu duas vezes na semana casos novos no HUB e continuava a pesquisar os antigos. Porém, há dois teve uma pneumonia diagnosticada tardiamente e chegou a ficar em coma. Foram 20 dias em uma cama de hospital, desta vez, não como doutora. ;Depois disso, tive que reduzir o ritmo. Foi em 2011. Só agora estou voltando à ativa mesmo. Trabalho meio período, mas continuo pesquisando. A aposentadoria não significa descanso. Descanso quando vejo as pessoas serem atendidas, quando descubro novas coisas. Quero dar continuidade ao que iniciei quando vim para cá ;, relatou.
Em um armário cheio de casos, ela selecionou um para mostrar à reportagem do Correio como é o trabalho realizado no HUB. Escolheu uma ficha qualquer. Olhou o histórico da paciente. A análise começou em 2008 e terminou três anos depois. Por meio das pesquisas de cromossomos, descobriram que uma menina de 11 anos tinha uma síndrome que atrasa o desenvolvimento intelectual, a X frágil. ;Hoje, o estudo por técnicas moleculares possibilita um diagnóstico rápido, mas analisamos tudo. Pedimos para a paciente fazer um desenho com objetivo de analisar a coordenação motora, entre outros.;
Solteira, a professora não teve filhos, mas o telefone não para. Ex-alunos, amigos, professores, todos têm um cuidado especial com Íris. Aos 82 anos quando questionada quando pretende parar de trabalhar, ela não sabe precisar. ;Vou parar um dia e sei que vou me adaptar bem. Gosto de ler jornal, livros, descobrir coisas novas todos os dias. Mas quando? Ainda não parei para pensar nisso;, concluiu.
Prêmios e homenagens
2006 Prêmio Cláudia ; Mulher do Ano 2006 na Categoria Ciência (revista Cláudia)
2003 Um ideal no Sangue: Ensinar, Instituto de Ciências Biológicas (UnB)
2002 Professora Emérita, Universidade de Brasília
2001 Homenagem e reconhecimento pela contribuição ao desenvolvimento da pesquisa em mutagênese no Brasil, Sociedade Brasileira de Mutagênese, Carcinogênese e Teratogênese Ambiental.
2001 Homenagem ; Sucesso dos cursos de pós-graduação da FMRP, Comissão de Pós-Graduação da USP de Ribeirão Preto (SP)