Se antigamente os trabalhadores eram obrigados a encarar problemas como falta de segurança, insalubridade e a ausência de direitos, hoje, convivem diariamente com o estresse e a pressão para atingir resultados. De acordo com pesquisa divulgada pelo site CareerBuilder, aproximadamente 70% dos trabalhadores dizem não apenas enfrentar um nervosismo comum ao cumprir as tarefas mas também operar sob altos níveis de tensão, quase ao ponto de um ataque de nervos. A situação é ainda mais preocupante quando analisados os dados da associação internacional voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de estresse no mundo Isma-BR, que diagnosticam 30% da população economicamente ativa do Brasil como vítima da chamada síndrome de Burnout.
Segundo Ana Merzel, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Albert Einstein, o cenário requer atenção. A especialista explica que a diferença do nervosismo comum para a síndrome aparece quando os malefícios saem do trabalho e alcançam a vida pessoal. ;Hoje em dia, o estresse localizado é inevitável, mas devemos conviver com ele sob controle. É do exagero que nasce a síndrome de Burnout, uma doença que, ao contrário da pressão cotidiana, não afeta apenas áreas específicas mas também a rotina das pessoas como um todo;, pondera.
Exemplo disso é a servidora pública Leila de Matos, 50 anos, afastada das funções desde 2010. Após um complicado histórico de assédios e perseguições no trabalho, Leila enfrentou momentos profundos de depressão. Devido ao esgotamento psicológico, qualidades até então marcantes de sua personalidade acabaram desaparecendo. ;Eu era uma pessoa feliz, disposta, organizada. De repente, não queria sair da cama nem fazer minhas atividades; tornei-me uma consumidora compulsiva, ao contrário da gestora que costumava ser;, conta.
Para superar o problema, Leila usou medicamentos em conjunto com a terapia. Mas, segundo ela, a força para melhorar veio de muitas outras fontes. ;Sem minha família, eu não teria resistido à pressão. Nos momentos de crise, é difícil encontrar apoio. Meus filhos e meu marido são, sem dúvida, os pilares que me mantêm de pé;, desabafa. Leila também encontra nos exercícios a válvula de escape para as tensões. Com uma pequena academia dentro de casa, tenta sempre se movimentar.
Caso a caso
Inevitavelmente, alguns profissionais estão mais expostos ao estresse e a situações de conflito. De acordo com especialistas, cargos que exigem tomadas de decisões constantes, que envolvem lidar diretamente com pessoas, além de prazos curtos e situações voláteis, tendem a ser os mais delicados. Porém, não existe uma regra geral, ressalta o consultor de RH Cássio Mendes, especialista em clima organizacional. Mendes explica que o bem-estar na profissão é um fator flexível, resultado de aspectos individuais de cada trabalhador. As atenções devem estar voltadas para as particularidades do perfil de cada um. ;Não podemos satanizar o estresse; para algumas pessoas, ele é indispensável. Se a pessoa é mais inquieta, não adianta querer exercer uma função tranquila, pois pode acabar se tornando prejudicial a ela. O importante é que cada um entenda seus limites e objetivos e procure aquilo que mais se aproxima da rotina desejada ; movimento, turnos, horários;, aconselha.
Além disso, outros aspectos contribuem para a construção de uma carreira menos maçante. Segundo Mendes, esforçar-se para promover um clima de trabalho mais amigável contribui bastante para a redução da carga de estresse ; e essa lição deve ser seguida tanto pelas organizações quanto pelos funcionários. ;É importante que as empresas se preocupem com a saúde dos colaboradores. Isso inclui políticas de valorização dos funcionários e o combate às cobranças em excesso, por exemplo. Já os trabalhadores devem estar atentos e evitar o assédio moral e a fofoca;, exemplifica.
Vida nova
Motivo de mais de 20% das licenças trabalhistas no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o estresse pode ser considerado o mal das novas gerações. Justamente por isso, combatê-lo se tornou uma missão difícil, com as mais variadas estratégias. Segundo a terapeuta Danielle Brum, assim como as causas para o esgotamento, os recursos para o tratamento também são muitos. ;Cada caso é um caso e não existe uma fórmula geral de intervenção. É preciso entender a situação do paciente para então determinar os procedimentos mais adequados;, justifica.
Métodos alternativos também ganham espaço na luta contra o estresse, como a tecnologia e a meditação. Marco Coghi, diretor da Neuropsicotronics, desenvolveu um equipamento que estimula a variabilidade da frequência cardíaca e diminui os impactos de situações de tensão no corpo humano ; o cardiomotion. Com o uso do aparelho, o profissional trabalha mais o coração e se torna mais resiliente às pressões cotidianas.
Para quem está à procura de uma vida mais zen como um todo, uma boa alternativa é a meditação. O fundador e presidente da Sociedade Vipassana, Régis Guimarães, explica que a técnica tranquiliza a mente dos praticantes e permite um controle maior sobre as emoções. ;Meditar acalma o corpo e torna as tensões mais evidentes. Com isso, a pessoa consegue se entender melhor e lidar de modo mais claro com seus sentimentos;, relata. Segundo ele, meditar é dar uma chance ao equilíbrio: a prática retira o profissional do ;piloto automático; e o torna um observador de si mesmo.
A produtora Beatriz Ferraz, 23 anos, procurou a meditação em busca de mais tranquilidade no dia a dia. ;Tenho a tendência de guardar coisas ruins comigo. Com a meditação canalizo as situações negativas e encontro tranquilidade na solução dos problemas;, explica. Em constante pressão e contato direto com fornecedores e o público, a produtora ressalta que o equilíbrio obtido nos momentos de reflexão é bastante útil para aumentar a concentração nas tomadas de decisão, além de trazer mais paciência em situações de conflito. Beatriz lembra também que a meditação não é a primeira técnica alternativa de relaxamento que já fez uso, e assegura que atividades do tipo são sempre benéficas, pois quebram a rotina e trazem novas perspectivas.
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Fonte: Isma-BR