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Com desfile esvaziado, sobrou crítica ao Congresso

Cinco mil pessoas apareceram para ver a cerimônia - 3 mil eram convidadas do governo. Antes dos confrontos, manifestações lembraram o deputado presidiário e o mensalão. Presidentes da Câmara e do Senado faltaram ao evento

Paulo de Tarso Lyra
postado em 09/09/2013 10:00
Dilma desfila em carro aberto: reforço na segurança e receio de vandalismo contribuíram para afastar a plateia (Carlos Moura/CB/D.A Press)
Dilma desfila em carro aberto: reforço na segurança e receio de vandalismo contribuíram para afastar a plateia
Papuda móvel: atos dos parlamentares do Congresso e da Câmara Legislativa no centro das manifestações da Esplanada (Breno Fortes/CB/D.A Press)
Papuda móvel: atos dos parlamentares do Congresso e da Câmara Legislativa no centro das manifestações da Esplanada

O esquema de segurança reforçado e o medo das manifestações marcadas pela internet esvaziaram o Sete de Setembro em Brasília no ano em que o PT comemora 10 anos no poder. A estrutura preparada para comportar 25 mil pessoas recebeu apenas 5 mil, das quais 3 mil eram convidadas do governo federal. O desfile foi mais curto que os dos anos anteriores ; durou apenas uma hora ; e não teve a apresentação da Esquadrilha da Fumaça. Os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), optaram por ficar nos respectivos estados, protegidos das possíveis manifestações de rua. ;Quem não está com medo, não é mesmo?;, confirmou o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, primo de Henrique.

Um forte esquema de segurança foi montado em todos os lados da Esplanada dos Ministérios para evitar a presença de manifestantes. Os tapumes de metal que já haviam sido colocados nos últimos dois anos, após um grupo ter tentado invadir o desfile para protestar contra os atos secretos do Senado Federal, aumentaram de extensão neste ano. No palanque presidencial, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, recebia informações atualizadas das manifestações nos estados, principalmente o Rio de Janeiro, onde um grupo de pessoas entrou em confronto com a Polícia Militar ao tentar invadir o desfile na Avenida Presidente Vargas. Em Brasília, houve confrontos entre manifestantes e policiais durante todo o dia, principalmente à tarde, por conta do jogo da Seleção brasileira (leia mais nas páginas 3, 4 e 5 e em Cidades).

No horário do desfile, havia cerca de 30 manifestantes em frente ao espelho d;água do Congresso Nacional, usando narizes de palhaço, mas Dilma não conseguia visualizar o protesto. Ao passar em revista às tropas, próxima ao Palácio do Planalto, ela deparou-se com uma Esplanada vazia. Foi o primeiro grande evento público do qual participou após as traumáticas vaias na solenidade de abertura da Copa das Confederações, em 15 de junho.

A decisão do Ministério da Defesa de reduzir em 15 minutos o desfile oficial gerou algumas cenas curiosas. A pirâmide humana da Polícia do Exército, uma das principais atrações do desfile, com 17 militares equilibrados sobre uma única moto, cruzou a Esplanada antes mesmo de Dilma chegar ao palanque para abrir oficialmente o evento. Da mesma maneira, o Batalhão da Guarda Presidencial fez a apresentação artística com os fuzis, postado em frente ao palanque, sem a presença de Dilma.

O primeiro escalão do governo federal esteve presente efetivamente para prestigiar o desfile ; 25 dos 39 ministros foram à Esplanada. Desses, pelo menos quatro são candidatos aos governos estaduais no ano que vem e aproveitaram para atrelar ainda mais a própria imagem à da presidente, especialmente após as pesquisas que mostram uma melhora nos índices de avaliação do governo. São eles: Alexandre Padilha (ministro da Saúde e pré-candidato ao governo de São Paulo); Fernando Pimentel (ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e pré-candidato ao governo de Minas Gerais); Gleisi Hoffmann (ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata ao governo do Paraná) e Edison Lobão (ministro de Minas e Energia e pré-candidato ao governo do Maranhão).

Um dos principais alvos das últimas manifestações, o Congresso ficou sem nenhum representante de peso no palanque. O receio de críticas, especialmente após a sessão que manteve o mandato do deputado Natan Donadon (sem partido-RO), espantou os presidentes Henrique Alves e Renan Calheiros de Brasília. De acordo com Garibaldi, Henrique teve um evento na sexta-feira no Rio Grande do Norte de ;aftosa zero; ao lado do ministro da Agricultura, Antonio Andrade. Renan estava em Alagoas. O Poder Judiciário foi representado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa.

;Papuda móvel;
De fora do desfile, além das já tradicionais faixas e palavras de ordem, não faltou criatividade para demonstrar indignação. A Papuda Móvel, espécie de carro alegórico feito de madeira e que simulava um ônibus, foi a forma encontrada por um grupo de manifestantes para chamar a atenção para uma das principais pautas levantadas desde junho, o combate à corrupção. O itinerário: Papuda/Congresso via Câmara Legislativa. O coordenador do Movimento Adote um Distrital, Ykaro Sims, 28 anos, revelou que a ideia foi baseada na decisão de não cassar o mandato de Natan Donadon.

;É uma vergonha os nossos parlamentares agirem assim, então, fizemos uma brincadeira para alertar o Congresso;, explica Ykaro. O assistente de projetos acrescenta que o ônibus criado pelos ativistas também critica os parlamentares locais. ;O trajeto também passa pela Câmara Legislativa, por causa da impunidade dos deputados envolvidos na Caixa de Pandora.; Ao longo do trajeto do Papuda Móvel, manifestantes aplaudiam a iniciativa e pediam que também se reservassem vagas no ;veículo; para os deputados condenados no mensalão.

Gilberto Carvalho negou que o desfile tenha sido mais curto pelo receio das manifestações. ;Fizemos algo menor porque a presidente Dilma chegou muito cansada da viagem que fez à Rússia (São Petersburgo, para participar da reunião do G20);, justificou. Ele reconheceu que muitas pessoas podem terem evitado a Esplanada por temer confrontos entre policiais e manifestantes. ;Eu insisti com alguns conhecidos que viessem, que trouxessem os filhos para celebrar o dia de hoje em família;, disse.

;É uma vergonha os nossos parlamentares agirem assim (livrar Natan Donadon);
Ykaro Sims, coordenador do Movimento Adote um Distrital

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