postado em 30/09/2013 16:00
Desde que surgiu na internet, a rede social de microblog Twitter desenvolveu uma forte relação com os meios de comunicação tradicionais, especialmente os jornais. Com frequência, os usuários da ferramenta publicam mensagens com links para notícias e artigos, recomendando a leitura para sua rede de contatos. Um estudo feito por uma dupla de brasileiros, publicado recentemente no jornal especializado Sage, mostra que uma análise desses tuítes pode ajudar a descobrir quais são os assuntos que mais interessam os leitores de cada país. E mais: revela que os brasileiros têm especial interesse por esportes e artes.
No trabalho, Marco Toledo Bastos e Gabriela Zago computaram os links postados no Twitter (incluindo os retuítes) para os sites de oito jornais de cada um dos países analisados: Alemanha, Brasil, Espanha, Estados Unidos e Reino Unido. O período de análise foram as duas primeiras semanas de 2012, o que gerou um banco de dados de milhares de tuítes com links de notícias para os 40 veículos incluídos na análise. Os resultados mostraram uma clara diferença de interesses entre os leitores de cada país.
Se no Brasil a maior parte dos links são para notícias de esportes e artes, nos Estados Unidos e no Reino Unido o interesse parece ser maior para artigos de opinião e notícias do mundo. Na Alemanha, por sua vez, matérias publicadas nas editorias de política e economia são as mais recomendadas, enquanto os espanhóis demonstram interesse maior no noticiário local e nacional.
;Já esperávamos uma semelhança entre Reino Unido e Estados Unidos, por conta das questões políticas importantes para as duas nações e que envolvem opinião;, diz Bastos, pós-doutorando pela Universidade de São Paulo e pesquisador visitante da London School of Economics and Political Science. ;Mas acreditávamos que a diferença entre todos os países não fosse tão discrepante. Achávamos que política predominaria em boa parte dos países, mas os dados apontaram que existem padrões culturais e hábitos distintos. Cada público nacional tem um interesse específico;, detalha.
O coautor da análise conta que, em relação ao Brasil, os termos mais acessados o surpreenderam em parte. ;Já imaginávamos que esporte seria um tema que se destacaria, pelo fato de o futebol chamar bastante a atenção dos brasileiros;, destaca. Quanto ao assunto ;arte;, Bastos acredita que a maneira como os jornais brasileiros pautam suas editorias de cultura pode ter influenciado no resultado. ;Arte foi algo não muito esperado, apesar de termos de levar em conta que alguns jornais incluem outros tipos de notícia nessa editoria, como eventos de lazer;, destaca. ;Também analisamos a categoria de entretenimento, de forma separada, em que entram notícias de celebridades, mas esse tema não teve grandes números no Brasil;, completa.
Bastos revela que uma grande dificuldade do estudo foi lidar com os links curtos comuns na rede de microblogs, sistema que não dá dicas sobre o conteúdo ao qual o internauta será direcionado caso clique no atalho. ;Isso dificultou a identificação dos temas. Para resolver isso, usamos um sistema que extraiu o endereço da notícia, mostrando o nome da editoria no fim do link;, explica.
Cultural
Vilso Junior Santi, professor do curso de comunicação social da Universidade Federal de Roraima (UFRR), acredita que os resultados mostram uma semelhança com o perfil brasileiro. ;Podemos dizer que a pesquisa é um indicativo do modo brasileiro de ser e tem a ver, sim, com o perfil do nosso povo. Afinal, é quase consenso que arte e esporte, notadamente o futebol, são dois insumos importantíssimos na composição da matriz cultural que nos constitui;, avalia.
;É importante frisar, contudo, que os resultados só assumem relevância se não esquecermos que tais indicativos estão inseridos em um ecossistema cultural no qual esses leitores do jornalismo via Twitter estão inseridos, ecossistema esse que, no Brasil, tem a arte e o esporte como importantes componentes. Convém também lembrar que esses temas, assim como política, economia etc., tratam de duas grandes generalizações de duas amplas categorias;, detalha.
Marcelo Minutti, coordenador da pós-graduação em marketing e comunicação digital do Centro Universitário Iesb, em Brasília, acredita que o estudo revela um perfil semelhante às características dos brasileiros. ;Em relação ao futebol, temos um alto interesse, mas acho que, quando falamos de arte, podemos incluir um conteúdo bastante diverso.;
De acordo com Minutti, no Brasil, se publica menos notícias em tuítes do que em outros países. Outro ponto importante mostrado pela pesquisa, segundo ele, é a distinção dos horários em que as notícias costumam ser tuitadas. No Brasil, o pico de postagem dessas notícias é no horário do almoço, por volta do meio-dia. Já nos EUA, eles publicam mais de manhã cedo. ;São perfis distintos, que mostram hábitos opostos.;
Aliado
Marco Toledo Bastos acredita que seu trabalho pode ajudar os jornais a direcionarem as notícias para atender melhor o interesse do público. ;Nesse caso específico, não temos uma medida de controle com o impresso, mas, ainda assim, nosso trabalho funciona como um bom indicativo, que mostra quais são os assuntos de maior repercussão;, explica. Minutti também acredita que o trabalho auxilia a visão dos jornais, e que a rede social pode ajudar a mídia impressa. ;Acho que o Twitter é, hoje, o aliado mais significativo para a propagação de notícias, mais que o Facebook;, aponta.
Santi, no entanto, destaca que a leitura, muitas vezes, não pode ser comparada com a repercussão do assunto no Twitter. ;É importante lembrar que retuitar uma notícia não significa ler uma notícia. Em muitos casos, os leitores olham somente a manchete. Quem de nós nunca retuitou algo sem ler seu conteúdo, só porque achou ;interessante; ou até mesmo ;esdrúxula; uma manchete? É por isso que devemos ter cuidado ao analisar esses comparativos;, destaca.
Diferenças
Temas com mais links no Twitter de acordo com cada país estudado:
Brasil
Esportes e arte
Estados Unidos
Opinião e mundo
Reino Unido
Opinião e mundo
Espanha
Local e nacional
Alemanha
Política e economia