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Desafio do luto precoce

Colegas de Geovana Moraes, morta na semana passada aos 6 anos, voltaram às aulas ontem. Direção da Escola Classe 8 de Ceilândia preparou uma série de atividades para ajudar as crianças a lidarem com a perda da menina

Luiz Calcagno
postado em 17/10/2013 16:13
Com a ajuda de psicólogos, os professores foram orientados a discutir, em sala de aula, o sentimento de perda dos pequenos estudantesOito dias após a morte de Geovana Moraes Oliveira, 6 anos, os alunos da Escola Classe (EC) 8 de Ceilândia Norte, onde ela estudava, voltaram às aulas. Diante do trauma vivido pelo colegas da menina, a direção da unidade organizou discussões, reflexões e brincadeiras com o objetivo de ajudar os pequenos a lidarem com o sentimento de perda. Geovana morreu após o ônibus escolar em que estava ficar preso em um alagamento, no viaduto na EQNN 5/7 a poucos mais de 200 metros do colégio. Ela usava o cinto de segurança e não conseguiu sair. O sargento da Polícia Militar Etelmo Sousa Rodrigues chegou a resgatar a menina, mas, levada ao hospital, ela resistiu (veja Memória).

No início dos dois turnos na escola, os estudantes expuseram suas ideias a respeito da morte. De acordo com a vice-diretora da EC 8, Valdirene Reis, falar sobre o tema, principalmente quando se trata de uma perda inesperada, é fundamental. ;Se não as deixarmos colocar para fora o que estão sentindo, pode ser pior. A irreversibilidade da morte é algo que precisa ser conversado com as crianças, mas, muitas vezes, os adultos simplesmente ignoram o assunto por não saberem como abordá-lo;, disse.

Para facilitar a discussão, todas as turmas trabalharam, em sala, com um livro didático que descreve os ciclos da vida e apresenta, em linguagem leve, os casos de rupturas inesperadas, como a morte de Geovana. Professores também estimularam alunos a desenharem e escreverem mensagens de despedida para a colega. ;Os desenhos e as mensagens serão fixadas em um painel que montaremos no pátio amanhã (hoje). Faremos dois banners com os trabalhos, um para ficar na escola e outro para ser entregue aos pais dela;, contou Valdirene.

Professores e membros da comunidade escolar recebem auxílio psicológico para lidar com o assunto. Duas profissionais da Secretaria de Educação estão na EC 8 para ouvir pais e parentes dos estudantes que também sintam necessidade de falar ou que não souberem como abordar a morte de Geovana em casa. ;Nosso trabalho é na área de psicologia escolar. Nós fazemos a triagem e encaminhamos a atendimento os casos que necessitam de acompanhamento clínico;, explicou a psicóloga Vera Lúcia Cordeiro.

Outra preocupação das profissionais é com a exposição a que os alunos foram submetidos por causa da repercussão do caso. ;Sempre que eles veem as imagens do ônibus alagado ou escutam as pessoas perguntando sobre o ocorrido, revivem o trauma. É um processo de revitimização;, afirma a também psicóloga Rosemeire Dutra. A notícia da perda de Geovana impacta profundamente quem conviveu com a menina. A pequena Andressa Freire, 6 anos, não se recuperou da tragédia. A mãe, a diarista Cecília Freire, 36, não sabe se a filha terá condições de voltar às aulas esta semana. ;A Andressa está em casa, triste e chorando muito com a falta da coleguinha. Não sei o que fazer;, afirmou Cecília.

Investigações


Até agora, a Polícia Civil ouviu 10 pessoas no inquérito que investiga a morte de Geovana. De acordo com o delegado-chefe da 15; Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro), Mauro Leite, somente três estudantes prestaram depoimento, e a polícia pretende ouvir outras crianças. O motorista do ônibus, Francisco Alves, 37 anos, e a monitora que acompanhava as crianças, Léia da Silva Miranda, 32, prestarão novos depoimentos na semana que vem, para que, segundo o Leite, investigadores esclareçam ;algumas dúvidas; sobre a dinâmica do acontecimento. ;Entendemos que Francisco tentou enfrentar aquilo (o alagamento). Esqueceu que se tratava de um transporte de crianças. Mas ele não queria que isso acontecesse. Foi uma imprudência;, apontou Mauro. Francisco foi indiciado por homicídio culposo, em que não há intenção de matar.

Memória

Morte sob o viaduto

Geovana Moraes Oliveira morreu no início da noite de 8 de outubro, durante o temporal que atingiu Ceilândia Norte. O motorista do ônibus escolar em que a menina estava tentou passar por um viaduto alagado na EQNN 5/7. Rapidamente, o veículo foi tomado pela água. Um dos estudantes escapou e pediu ajuda em uma padaria, enquanto o condutor e uma monitora da Secretaria de Educação retiravam as crianças e as colocavam no teto do coletivo. Geovana estava presa ao cinto de segurança e ficou submersa. De folga, o sargento da Polícia Militar Etelmo Sousa Rodrigues entrou na água e conseguiu resgatá-la. A menina deu entrada no Hospital Regional de Ceilândia, mas não resistiu. A PM e os bombeiros levaram outras quatro crianças para o HRC. Todas passam bem.

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