O estudante Lucas Paz, 13 anos, morador do Recanto das Emas, jamais imaginou que o seu destino se entrelaçaria com a música. Se há pouco menos de dois anos o talento ainda estava adormecido, hoje, ele sonha alto. Quer conhecer o mundo fazendo o que mais gosta: tocando instrumentos. Há cinco meses, entrou para o Música para Crianças (MPC), projeto de extensão da Universidade de Brasília (UnB).
Como Lucas, centenas de meninos e meninas encontraram no projeto uma oportunidade de desenvolver o gosto pela música. Atualmente, 900 crianças e jovens fazem parte dele. Além das aulas de musicalização, pré-instrumental, de violino, de clarineta, de piano, entre tantas outras, o maestro e professor da UnB Ricardo Dourado Freire montou duas orquestras, a Infantil MPC, para crianças entre 8 e 12 anos, e a de Cordas MPC, entre 10 e 17 anos. O único critério para participar, segundo ele, é o interesse. No entanto, a fila de espera para entrar no projeto é extensa. ;A procura é grande e a desistência, pequena;, orgulha-se.
Lucas entrou no grupo por meio de parceria com o MPC com projetos sociais. Ele faz parte do grupo Batucadeiros do Recanto das Emas ; grupo de percussão corporal ; e conheceu Freire durante uma apresentação. O maestro gostou da desenvoltura do jovem e o convidou para fazer parte do programa. Lucas começou a tocar violino e hoje se aventura no contrabaixo. ;Sempre fui fominha em relação aos instrumentos. Quis aprender o violoncelo, mas o professor falou que era para eu continuar com o contrabaixo;, brinca. Se antes o garoto não imaginava ser parte do mundo da música, agora pretende fazer faculdade de música e viajar pelo mundo. ;Quero isso para a minha vida. Tenho um sonho de tocar com o violinista russo Maxim Vengerov;, conta.
Enquanto Lucas teve o destino alterado há poucos anos, outros desenvolveram essa musicalidade desde bebês. O estudante Athos Schneider de Almeida Triana, 8 anos, morador da Asa Sul, entrou para o grupo aos seis meses de vida. Hoje, toca violoncelo e emociona os pais nas apresentações que faz com a Orquestra Infantil. Perguntado do que mais gosta no projeto do qual faz parte, não consegue escolher entre a música e os amigos. ;Gosto dos dois;, disse envergonhado. Apesar da pouca idade, Athos já sabe o que vai ser quando crescer: músico. Ele deseja ser solicista de uma orquestra.
Desenvolvimento
O professor e maestro do projeto de extensão desenvolveu o programa em 2002 para trabalhar a musicalização de crianças entre os seis meses e os 4 anos e meio. Depois disso, os meninos e as meninas sairiam para dar lugar a outras pessoas, mas o sucesso foi tamanho que os pais insistiram para manter os filhos nas aulas. Hoje, tem garotos de todas as idades. De acordo com Freire, as aulas do MPC ajudam no desenvolvimento da criança. ;A música exige concentração, dedicação e disciplina. Esses elementos são fundamentais para o sucesso, têm efeitos muitos benéficos. Normalmente, as nossas crianças são as que se destacam na sala de aula;, completa.
A estudante Luiza Bessa, 10 anos, também faz parte do grupo desde os seis meses de vida. Aprendeu a tocar violino e hoje se apresenta com a Orquestra Infantil. Ela faz as aulas com o grupo aos sábados e, individualmente, às quartas-feiras. ;Vejo as orquestras e as pessoas me inspiram, adoro tocar violino e quero ser um profissional;, diz. Além desse instrumento, ela quer aprender a tocar violão.
As orquestras do projeto fazem várias apresentações pela cidade. Além da UnB, já tocaram no Teatro Nacional e no Senado. Ontem, foi na Câmara Legislativa do Distrito Federal, no projeto Portas Abertas da Casa.
Personagem da notícia
Doutor em clarineta
O professor e maestro Ricardo Dourado Freire conseguiu reunir um grupo de quase mil alunos em torno da música. Ele atua como professor de musicalização para crianças de até 4 anos e meio, com o intuito de formar os futuros músicos do país, além de ser o regente das orquestras Infantil e de Cordas. Há ainda uma extensa lista de outros candidatos a artistas que aguardam para entrar no projeto Música para Crianças, desenvolvido por ele.
Freire é bacharel em clarineta pela Universidade de Brasília (UnB). Tornou-se doutor em clarineta em 2000 pela Michigan State University. Atualmente, dá aulas na UnB como professor associado. Também é presidente da Associação Brasileira de Clarinetistas e faz parte da revista The Clarinet, na qual escreve desde 2010 a coluna News from Latin America.
Inscrições
Os interessados em inscrever os filhos no projeto podem mandar um e-mail para listadeespera.mpc.unb@gmail.com
900
Quantidade de crianças e jovens inscritos no projeto de extensão da Universidade de Brasília