postado em 06/11/2013 16:00
A sonda é lançada com o foguete PSLV XL e indianos comemoram o feito nas ruas: sucesso da missão pode reforçar reputação industrial da Índia |
;Decolou;, anunciou, às 9h08 de ontem (7h08 em Brasília), o apresentador da televisão pública indiana enquanto eram exibidas as imagens do lançamento do foguete PSLV XL da base de Sriharikota, na Baía de Bengala. Pessoas pararam em frente a televisores para acompanhar o momento, celebrado depois com cartazes nas ruas. O motivo da comemoração era a carga levada pelo lançador: uma sonda de 1,3 tonelada construída para orbitar e coletar dados de Marte.
Caso cumpra a jornada de 200 milhões de quilômetros e chegue ao seu destino, o satélite transformará a Índia no primeiro país asiático a enviar um equipamento científico ao Planeta Vermelho, feito alcançado até hoje apenas por Estados Unidos, Europa e Rússia. A previsão é que a sonda Mangalyaan entre na órbita marciana em setembro do ano que vem.
Concebida e construída em tempo recorde e com orçamento reduzido (US$ 73 milhões), a sonda é equipada com instrumentos que incluem um sensor de metano (considerado um importante sinal da presença de organismos vivos), uma câmera fotográfica e um espectrômetro de imagens em infravermelho. A ideia é mapear a superfície do planeta e analisar sua fina atmosfera.
O lançamento foi saudado como um passo importante do programa espacial indiano, iniciado em 1963 e que coleciona tanto fracassos como feitos notáveis. Há três anos, por exemplo, sofreu com a explosão de um foguete, e, um ano antes, os cientistas perderam o contato com a sonda espacial Chandrayan. No entanto, em 2008, uma missão não tripulada à Lua ajudou a comprovar definitivamente a presença de água no satélite natural.
Modéstia
O primeiro-ministro Manmohan Singh anunciou a missão há 15 meses, pouco depois do fracasso de uma tentativa chinesa, na qual a sonda russa que transportava o satélite Yinghuo-1, do gigante asiático, não seguiu a trajetória para Marte. O Japão foi outro que tentou alcançar o Planeta Vermelho e fracassou. ;Esse é o nosso início modesto para nossa missão interplanetária;, disse Deviprasad Karnik, porta-voz da Organização de Pesquisa Espacial Indiana.
O sucesso da missão será motivo de grande orgulho para o país de 1,2 bilhão de habitantes. E servirá para reforçar a reputação industrial e tecnológica da nação, que produz o carro mais barato do mundo e se impõe como líder mundial da inovação de baixo orçamento, sempre concebida com base no jugaad, um princípio que consiste em encontrar a solução menos cara possível.
Um exemplo dessa maneira de trabalhar é a forma achada pelos engenheiros indianos para cumprir a missão com um foguete sem potência suficiente para impulsionar a Mangalyaan até Marte. Logo após o lançamento, o equipamento entrou na órbita terrestre, onde ficará por um mês ganhando a velocidade necessária para escapar da força de gravidade.
Especialistas não consideram esses detalhes um sinal de precariedade, mas uma estratégia que pode contribuir para a conquista espacial. ;Não subestimem a missão;, advertiu recentemente o jornalista especializado em ciência Pallava Bagla. ;Tem a jugaad, a inovação. Todo mundo busca hoje em dia realizar projetos de baixo custo;, disse.
A Nasa lançará em 18 de novembro a sonda Maven com o objetivo de compreender melhor as razões do desaparecimento da maior parte da atmosfera de Marte. O orçamento dedicado à iniciativa é seis vezes superior ao do projeto indiano. ;Não pensávamos que eles seriam capazes de enviar (a sonda) tão rápido;, declarou Joe Grebowsky, cientista americano que trabalha na Maven. ;Se conseguirem, será fantástico.;
Sem sinal
Ao chegar ao planeta em 2012, o robô Curiosity, da Nasa, uma espécie de pequeno veículo com 10 instrumentos científicos para análises, não detectou metano, segundo um estudo publicado em setembro passado.