Luiz Calcagno
postado em 14/11/2013 14:00
Entre os vários portes físicos dos jogadores famintos pela bola, correndo com energia de uma ponta à outra do campo, destaca-se o tamanho único dos uniformes. Camisas azuis, amarelas ou pretas, justas para uns, e enormes para outros. Os craques, de diversas faixas etárias, dividem lugar nos times e sonham, a cada gol, com o vibrar da torcida, em um campo de terra batida, sem iluminação, a não ser a dos olhos dos adolescentes. São os integrantes da oficina de futebol do projeto social Casa de Marieta. O motivo da alegria: os uniformes e chuteiras doados pela Organização Não Governamental (ONG) Jovens em Expressão.Para que meninos e meninas carentes aprendessem a arte do futebol, precisaram vencer muitos desafios. Faltavam os uniformes e os calçados. Eles jogavam descalços em times confundidos pela pluralidade de cores, e participavam de campeonatos usando roupas velhas e tênis rasgados sob o olhar de competidores mais abastados. Mas nada parou a fome dos 40 integrantes da oficina, que treina, há seis anos, em um campo em uma invasão, na Avenida Central Chácara da Dora, no Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia.
Dona Marieta Soares da Silva, idealizadora do projeto Casa de Marieta, se inspirou na raça dos jogadores e jogadoras para conseguir as vestes. O tamanho não importou a ninguém. O essencial era vestir os pequenos e grandes craques. ;Eu tento fazer o melhor por eles. Pelo menos o melhor que a gente pode. Muitas vezes, eles se sentiram envergonhados em torneios. Fiquei muito feliz quando conseguimos as doações. Depois disso, mais jovens se interessaram. O bom é que, durante a tarde, eles praticam o esporte e ficam longe das ruas;, comemora.
Com exemplar domínio da bola, o pequeno Ismael de Araújo Sousa, 12 anos, veste orgulhoso a camisa amarela que leva, no lado esquerdo do peito, o emblema do time Projeto Social Casa de Marieta. Ele comemora a chegada do uniforme pelo ;profissionalismo; que empresta ao treino. Ele explica: ;Futebol é uma coisa importante. Gosto muito desse esporte. Nem sei dizer desde quando. Acho que desde que nasci. Precisamos dos uniformes para que os times não fiquem bagunçados e, agora, está tudo mais certo. Alguns ficaram grandes mas, para nós, não isso não é problema;.
Um dos mais novos jogadores João Gabriel, 9 anos, também comemora. Para ele, o uniforme significa estar no caminho certo. O pequeno sonha em ser jogador de futebol quando crescer. Ele fica empolgado ao falar sobre assunto, e ansioso para terminar a entrevista e voltar para o campo. ;As vezes, a gente jogava sem tênis e sem uniforme. Machucávamos o pé e tudo. O novo uniforme é bonito e as chuteiras também. Foi muito bom conseguirmos a doação;, festeja.
Trilha tortuosa
À frente, no caminho de Marieta e seus alunos, ainda existem muitos desafios. Com o aumento no número de alunos, os uniformes e calçados voltaram a faltar. Para compensar, eles se revezam. Usa a camisa quem está em campo. Os maiores obstáculos estão, no entanto, no lugar onde treinam. O campo de terra batida é bem-cuidado pelos garotos, mas há muito lixo nos arredores. Quando a aula termina, por volta de 18h, grandes e pequenos ficam no local jogando bola um pouco mais. Mas, sem iluminação, o espaço vira reduto do tráfico, e os esportistas acabam dividindo, algumas vezes, o espaço com usuários de drogas. ;Seria bom ter mais qualidade no lugar onde eles treinam, como iluminação, mas é uma coisa bem mais difícil;, comenta Marieta.
Conhecido pelos alunos como Saulo, o pedreiro Paulo Martins doa suas tardes para o futebol. É o instrutor voluntário da oficina. Todos os dias, das 15h às 18h, organiza jogadores e jogadoras e passa os exercícios e orienta as partidas. Para ele, o uniforme deixou os meninos mais confiantes. ;Mas ainda faltam muitas coisas. Precisamos, por exemplo, de cones para fazermos os exercícios e redes entre as traves. Mas os uniformes representam um grande avanço. Foi uma alegria contar para eles sobre a doação. Ajudas são sempre bem-vindas. O melhor é que eles não param diante das dificuldades. Do jeito que for, eles vêm jogar;, conclui.
Como ajudar
Interessados em ser voluntários ou fazer doações para a Casa da Marieta podem contatar a idealizadora do projeto pelo número 9187-0204. Eles precisam das seguintes doações: materiais esportivos e escolares
(para o início do ano letivo de 2014), livros de literatura infantil e infantojuvenil, material de construção, cestas básicas e instrumentos musicais.