Yuri e Caio, ligados a partidos de esquerda, farão parte do rolê no Iguatemi para lutar contra o preconceito social |
Quem for ao Shopping Iguatemi amanhã à tarde provavelmente não ouvirá os refrões de MC Da Leste, Bonde do Sheik, Os Avassaladores e outras estrelas dos chamados ;funk da ostentação;, que marcaram os primeiros ;rolezinhos; em São Paulo. Os funkeiros não frequentam as playlists da maioria dos organizadores do evento. Provavelmente, também estarão ausentes os tênis coloridos e as roupas de grifes. A maioria dos participantes é de alunos e ex-alunos da Universidade de Brasília (UnB), e muitos deles são grupos militantes de esquerda. ;Mas temos estudantes de classe média e de baixa renda, pessoas que não cursam universidade;, diz o aluno de artes cênicas da UnB Caio Sigmaringa, 19.
;Fui muito ao shopping quando era mais novo. A gente ia para matar aula, passear, tentar entrar escondido no cinema, paquerar. Mas, como éramos gente branca e de classe média, nunca fomos repreendidos;, comenta Caio, que é militante do Juntos, organização da juventude do Partido Socialismo e Liberdade (PSol). ;É bem diferente do que observamos agora com os rolezinhos: a dita ;nova classe média; é bem-vinda para consumir, desde que fique quietinha e imite o comportamento dos frequentadores tradicionais dos shoppings. Cantar funk, expressar a cultura da periferia, aí não pode;, critica Caio.
O historiador e servidor público Yuri Soares Franco, 28, acredita que a maioria dos participantes do evento no Iguatemi entende a diferença entre o rolê de protesto e o rolezinho original. ;É um evento em solidariedade aos rolezeiros. O objetivo é protestar contra essa visão preconceituosa, cujo objetivo é segregar os jovens da periferia;, diz. ;Quando eu era mais novo, havia encontros de adolescentes roqueiros nas portas de shoppings. A gente ia para fazer barulho, zoar, se divertir. E, assim como os ;rolezistas; de São Paulo, acabávamos reprimidos;, lembra ele, que é militante da juventude do Partido dos Trabalhadores.
Repressão
Mesmo compreendendo essa diferença, os organizadores do evento no Iguatemi se esforçam para aproximar-se dos moradores de cidades de renda mais baixa. Na tarde de ontem, o estudante Franklin Rabelo, um dos idealizadores, afirma ter sido abordado por policiais militares enquanto distribuía panfletos no Varjão. ;Tomaram o meu material e me mandaram ir embora. Disseram que eu estava organizando uma baderna;, reclamou.
;A dita ;nova classe média; é bem-vinda para consumir, desde que fique quietinha. Expressar a cultura da periferia, aí não pode;
Caio Sigmaringa, estudante da UnB, 19 anos
Fãs do cantor Justin Bieber, Luís Fernando, Kauane, Kathleen e Evellyn se encontrarão em Taguatinga para se divertir |
;Cara, ser swag é ter estilo. Ter uma marra. Na verdade, é ;se achar;, porque assim as outras pessoas também vão ficar te admirando;, explica o estudante Luís Fernando Soares, 14 anos, ao ser questionado sobre o que significa a palavra usada por ele para definir a turma que irá ao Taguatinga Shopping no sábado. Já há mais de 1,5 mil participantes com presença confirmada no evento, marcado por uma rede social. Em bate-papo com o Correio, ele e outros três ;swagueiros; recriminam o termo ;rolezinho; para denominar o encontro deles. Dizem que o ;povo do rolê arruma confusão;, enquanto eles só vão se divertir.
Luís Fernando é um dos organizadores do encontro, junto da estudante Kauane Oliveira, 12. Eles dizem que, embora os rolezinhos tenham ganhado holofotes em dezembro, os encontros de jovens entre 11 e 16 anos nos centros comerciais e espaços públicos de Taguatinga já ocorrem desde o início do ano passado. ;A gente se encontra para conversar, tirar foto, paquerar;, relata Kauane. Segundo ela, nunca houve confusão nesses eventos. ;Não tem bebida ou droga. Não vamos para quebrar os shoppings ou parques;, garante.
O estilo dos swagueiros tem uma referência: o cantor canadense Justin Bieber. ;Ah, porque ele é tudo;, derrete-se Kauane, resumindo o amor pelo ídolo, que foi detido ontem depois de ser flagrado dirigindo em alta velocidade e bêbado em Miami. ;A mídia só mostra as imperfeições dele. Mas ele é um cara que é exemplo;, defende a estudante. Os encontros reúnem os garotos boylibers e as garotas belibers. São jovens que ganham fama na internet, multiplicando seguidores. Eles não cantam, não dançam, não escrevem; O sucesso deles é ser marrentos. ;Tem encontro que esses meninos ficam com uma mulher de um lado e outra do outro. Acabam ficando metidos;, diz Kauane.
Preocupação
As estudantes Kathleen Oliveira, 12, e Evellyn Brandão, 14, também marcarão presença no encontro. Elas dizem, porém, que, depois dos rolezinhos, os pais estão mais preocupados com os encontros. ;Eles perguntam como vai ser, o que vamos fazer, se não vai ter confusão;, afirma Kathleen. Os jovens temem que, agora, os shoppins proíbam as reuniões. ;Estamos achando ótimo que vai ter um rolezinho no Iguatemi Brasília (Lago Norte). Assim, reunimos só a nossa galera;, comenta Kauane.
;A gente se encontra para conversar, tirar foto, paquerar. Não tem bebida ou droga. Não vamos para quebrar os shoppings;
Kauane Oliveira, estudante, 12 anos