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Pressão estudantil cria impasse político

Lideranças do movimento pela reforma da educação protestam contra a indicação de subsecretária, e economista rejeita vaga. Manobra aponta força da categoria

postado em 05/02/2014 14:00

Estudantes protestam, em Santiago do Chile, por uma educação pública gratuita e de qualidade (Martin Bernetti/AFP - 5/9/13)
Estudantes protestam, em Santiago do Chile, por uma educação pública gratuita e de qualidade


A pouco mais de 30 dias de ser empossada presidente do Chile, Michelle Bachelet enfrenta o primeiro impasse na instalação da equipe de governo. Uma semana depois de ter sido indicada para o cargo de subsecretária do Ministério da Educação, o segundo posto mais importante da pasta, a economista Claudia Peirano desistiu, ontem, de aceitar a vaga, diante da pressão de representantes do movimento estudantil no país. ;Sei que minha designação foi polêmica. Entrei em contato com a presidente eleita para expressar-lhe meu agradecimento e sinalizei que, dadas as condições, resolvi me afastar e não assumir o posto;, declarou Peirano. Horas mais tarde, a equipe de Bachelet designou para a posição a também economista Valentina Quiroga, cujo nome foi recebido com cautela pelos líderes estudantis.

A indicação de Peirano recebeu críticas pelo fato de a economista ter ajudado a escrever um manifesto contra a gratuidade do sistema de ensino chileno. Além de ser uma das principais reformas propostas pela campanha de Bachelet, a questão motivou intensos protestos, que começaram em 2011 e derrubaram a popularidade do atual presidente, Sebastián Piñera. A nomeação de Nicolás Eyzaguirre para o comando da pasta não foi bem recebida pelos estudantes, devido ao seu envolvimento com o setor privado de ensino e com a política de financiamento estudantil, duramente criticada pelos chilenos.

Durante o último fim de semana, ex-líderes estudantis que foram eleitos para o parlamento chileno nas eleições do ano passado se reuniram e discutiram os nomes apresentados por Bachelet para o Ministério da Educação. Em seu perfil no microblog Twitter, Camila Vallejo, eleita deputada pelo Partido Comunista, duvidou do comprometimento de Peirano com a reforma educacional. Ela considerou ser ;vital para o futuro governo; que os integrantes do projeto de Bachelet tenham ;compromisso verdadeiro com o programa;. Diante da desistência da economista em assumir o cargo, a futura deputada avaliou a decisão como um ;gesto correto;.

Bachelet chegou a defender a escolha para a pasta ao declarar à imprensa local que Peirano participou da elaboração do programa de governo, o qual prevê a gratuidade do ensino básico da rede pública em até dois anos e em até seis anos no caso do ensino superior. A retirada da economista, no entanto, evidencia a força conquistada pelo movimento estudantil nos últimos anos. ;A renúncia de Peirano é significativa. Indica que a reforma educacional será fundamental para o movimento social;, avaliou Gabriel Boric, ex-líder estudantil e deputado eleito.

A indicação de Valentina Quiroga, que participou da elaboração do programa educacional de Bachelet e fez parte da organização Educação 2020 (em defesa de escolas e universidades públicas gratuitas), foi recebida com cautela pelos universitários. Em entrevista ao jornal La Tercera, Naschla Aburman, presidente da Federação de Estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Chile (Feuc), afirmou que ;a nomeação de Quiroga não assegura nada; e exortou a futura subsecretária a esclarecer seus planos e prioridades. Melissa Sepúlveda, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech), ponderou que Quiroga tem uma visão ;mais progressista;, mas salientou que existem dúvidas sobre as ;reais vontades políticas; do governo Bachelet na área da educação.

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