postado em 06/03/2014 16:00
Fernando Nogueira de Araújo. Sargento, 29 anos. O ano é 1973. Um convite: alguns dias no Paraguai. Passagens e hospedagem pagas por Haroldo Ernest, filho de um nazista brasileiro. O evento: funeral de Adolf Hilter. Fernando ainda vive.
Assim consta no livro Tras los pasos de Hitler, do argentino Abel Basti. Desde 1994, o jornalista e pesquisador se dedica ao führer. Ao longo dos anos, escreveu respeitados artigos e livros sobre o tema, alguns traduzidos para o alemão, inclusive. Na pesquisa, Abel reuniu documentos do FBI e da CIA, além dos depoimentos de testemunhas oculares, que conviveram com os nazistas refugiados na América do Sul. Evidências que, segundo ele, confirmam as andanças do ditador pela Argentina.
Novos elementos, reunidos no recém-lançado livro, indicam ainda o suposto local de morte do líder alemão. A conclusão de que Hilter teria sido enterrado no Paraguai chamou a atenção da imprensa internacional. A CNN, por exemplo, logo procurou Abel e exibiu longa entrevista com o escritor.
Documento de comunicação interna do FBI que reporta sobre uma testemunha que teria "cumprimentado Hitler e seu grupo, quando eles desembarcaram na Argentina, duas semanas e meia depois da queda de Berlim" |
Apesar de todo esforço despendido em torno da trajetória de Hitler, a descoberta de Fernando de Araújo não foi fruto da pesquisa de Abel, mas do jornalista independente Marcelo Netto, de São Paulo. O próprio Abel, ao mencionar Fernando no livro, credita o achado ao brasileiro. O Correio localizou o militar e pediu esclarecimentos sobre as alegações do livro. A imagem que estampa esta reportagem, cedida com exclusividade pelo sargento reformado, jamais fora publicada. Nem Abel conhecia o rosto de Fernando. Até agora.
Depoimento
Como no livro, Fernando preferiu fornecer as devidas explanações por meio do mesmo Marcelo Netto, que passou, de certa forma, a representá-lo. Isso porque Netto trabalha, desde 2007, em prol da publicação dos resultados da investigação sobre a presença nazista no Brasil. Fernando é peça fundamental nas pesquisas de Netto.
De acordo com Abel Basti, Hitler teria supostamente morrido em fevereiro de 1971, em local desconhecido. Dois anos depois, o corpo teria sido, então, desenterrado e preparado para um ;funeral definitivo;. O sargento brasileiro confirmou que esteve lá. ;Quando ele (Fernando) foi convidado para participar da cerimônia, não sabia do que se tratava. Imaginava apenas que iria encontrar o amigo Haroldo;, afirmou Netto, prestando depoimento em nome do militar.
;A certeza de que era Hitler começou a tomar forma durante a própria cerimônia;, completou. Segundo o relato, o funeral se deu em um bunker, nos fundos de um terreno, no qual foi erguido um hotel alemão. O cadáver foi posto em uma cripta cuja entrada foi devidamente cimentada, em seguida. ;Qualquer dúvida foi dissipada quando ele retornou ao Brasil e encontrou outras duas pessoas, entre as 40 que tinham participado do evento;, sentenciou Netto.
Carta em nome de Hitler enviada ao Paraguai, em 1939, na qual se nega um pedido a uma senhora de nome Felícia, cuja petição é desconhecida. A carta atesta a comunicação entre Hitler e o país latino. |
Conspiração
O trabalho de Marcelo Netto, assim como o depoimento de Fernando, esbarra em uma série de dificuldades. A principal delas sendo ;o deboche, acompanhado do senso comum;. Mas, como ele próprio admitiu, houve época ainda pior. ;Com o exame de DNA (que determinou como falso, em 2009, o suposto crânio de Hitler apreendido pelos soviéticos) e os livros do Abel, parece que a discussão já não é se ele morreu ou não no bunker. A discussão já é sobre onde e quando ele morreu, após fugir;, sugeriu.
Netto lembra que a imprensa na época ;deu como certa a fuga e que o próprio Stálin assumiu que ele escapou.; Por enquanto, ele ainda encara forte resistência para concluir os trabalhos. Um panorama pouco otimista, vide a aceitação majoritária de que Hitler, de fato, se matou em 1945. Como consta na história oficial. Pelo menos, até provarem o contrário. E há quem esteja disposto a tal.
Kubitschek
De acordo com o sargento Fernando, e como mencionado no livro de Abel, Hilter passou pelo Brasil e chegou a morar, rapidamente, em uma colônia alemã, na companhia de outros nazistas que aqui estavam. O então candidato à Presidência Juscelino Kubistchek fez questão de dissipá-los. Kubitschek teria dito, segundo o relato, que no caso de se tornar presidente, expulsaria-os do país e os denunciaria às Nações Unidas. A ameaça forçou a emigração de 400 nazistas rumo ao Paraguai. Outros poucos foram para São Paulo, onde acabaram empregados por empresas alemãs.