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O contador de histórias (do rock)

Pesquisador Mário Pazcheco abre acervo em livro que narra os bastidores do gênero que dominou Brasília na década de 1980

postado em 06/03/2014 16:00
"Estou no ápice da minha carreira", brinca o autor Mário Pazcheco:


Sting caminhava anonimamente pelas ruas do Guará 2, na segunda metade da década de 1980, quando foi percebido por um morador da cidade. ;Ele estava acompanhado por um séquito de funcionários da Funai e vestido como um alpinista, com camisa de gola e bota de militar;, detalha Mário Pazcheco, a tal testemunha da visita insólita.

O rapaz correu para casa, pegou o álbum duplo Bring on the night e levou para o astro inglês assinar. Com o autógrafo em mãos, levantou o disco e mostrou para os passantes. Logo, um formigueiro tomou conta da QE 32. ;Esse é o único da minha coleção que eu não empresto;, diz o sortudo admirador.

Uma conversa com Mário Pazcheco é certeza de bons causos, como este. Fanzineiro, pesquisador e roadie ; entre diversos outros ofícios exercidos ao longo dos anos ;, Pazcheco reuniu algumas das histórias que viveu em Brasília no livro 10.000 dias de rock, a ser lançado no próximo sábado, em uma festa com apresentação das bandas Kábula, Barbarella e Rebel Shot Party.

Paulista de Osasco, Pazcheco desembarcou na nova capital em 1975. Acompanhou de perto os bastidores do surgimento da cena roqueira na cidade e, com a verve de colecionador, guardou reportagens, fotos, manuscritos e cartazes sobre o assunto. Esse acervo ; encorpado com coleções recebidas também de outras pessoas ; é a base de seu livro, em que ele traça, dia após dia, ano a ano, a história do rock brasiliense.

;Eu era beatlemaníaco. Quando vi o Sepultura (a brasiliense) na quadra da Aruc, em 1981, me encantei com o rock em português e abandonei Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple;, lembra o autor, justificando o interesse pela versão abrasileirada do gênero.

Um dos manuscritos que Pazcheco guarda com mais cuidado é um texto escrito por Renato Russo, em um papel de embrulhar pão, para apresentar a recém-criada Legião Urbana. Foi em 1982. O ;release; seria publicado na fanzine Jornal do rock, mas acabou engavetado. ;Renato o fez no camarim do Teatro de Arena do Cave, no segundo show da banda;, diz.

Cidadão do Guará
Mário Pazcheco é autor de uma rara biografia sobre o mutante Arnaldo Baptista, lançada em 1991. Ele escreveu também a ficção Aventura sem dublê (1995). Apesar de toda a dedicação à cena roqueira, Pazcheco se considera um completo anônimo, e, às vezes, é até barrado em shows.
Menos no Guará, claro, onde tem status de celebridade. ;Todo mundo que chega lá eu tenho que receber. Minha casa é a embaixada da contracultura;, orgulha-se. A residência, inclusive, sedia o lançamento de 10.000 dias de r2ock, neste sábado. ;Estou no ápice da minha carreira;, brinca Pazcheco.


10.000 dias de rock
De Mário Pazcheco. Independente, 424 páginas. R$ 40.

LANÇAMENTO
Sábado, a partir das 16h, na QE 40 do Guará 2. Shows com Kábula, Barbarella e Rebel Shot Party. Entrada franca. Classificação indicativa livre. Informações: 8107-8902.

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