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Só morto deixo o Brasil

No retorno do exílio,em abril de 1967,o ex-presidente disse que nunca mais sairia do País

postado em 24/03/2014 16:53

JK:caneta e tinta para se corresponder com parentes e amigosAo lado de familiares, amigos e aliados, Juscelino Kubitschek esperou, em 8 de junho de 1964, em seu apartamento na Vieira Souto, no Rio de Janeiro, o anúncio da cassação de seus direitos políticos.
Amargurado confidenciou à filha,Maria Estela, diante dos convites dos embaixadores da Espanha,do Paraguai e de Portugal:;Eu, um democrata, recebo a oferta de asilo político de Francisco Franco,
Salazar e de Alfredo Stroessner;.Maria Estela estava grávida de três meses.;Naquele dia, fumei o meu primeiro cigarro;,conta ela.Para deixar o país, JK optou pelo salvo-conduto espanhol, mas se fixaria em Paris.
Em 13 de junho, o ex-presidente e a esposa,Sarah, chegaram ao aeroporto acompanhados do embaixador da Espanha, Jaime Alba Delibes, e do coronel Affonso Heliodoro.
Ambos abriam caminho em meio a uma multidão que o saudava com o Hino Nacional e o Peixe vivo.Tumulto. Oficiais da Aeronáutica arrancaram as armas.;Querem matar JK;, gritaram alguns.Um militar encostou o cano do
revólver na barriga de Maria Estela.Sarah, que subia as escadas do avião, viu a cena. Deu meia volta,dedo em riste, avisou:;Tire essa arma da barriga da minha filha.Ela está grávida!”.Foi obedecida.
O relato é de Maria Estela.;Meu pai só conheceu o neto, João César, que nasceu em dezembro,quando ele já estava com seis meses.
Eu o levei a Paris. Foi batizadolá;, conta. A notícia do nascimento do neto, que recebeu o nome do pai de JK,chegou a ele e a Sarah por telegrama enviado pelo genro,Rodrigo, em 6 de dezembro de 1964. O ex-presidente e a esposa estavam em Lisboa.

[SAIBAMAIS]
Caneta tinteiro à mão,JK escreveu à filha e ao genro:;Adistância,a saudade e a solidão agravam qualquer estado de espírito e nos torna muito emotivos.Ao recebermos em Lisboa o telegrama do Rodrigo não dissemos uma palavra. A garganta secou e só o silêncio permitiu que a emoção não transbordasse em outras manifestações;. Nessa carta, publicada por Maria Estela na obra Simples e princesa, JK agradeceu, sensibilizado, a homenagem prestada ao seu pai:;Sei que você e Rodrigo quiseram me dar nesta hora uma prova excepcional de amizade.Assim a recebi. Por isso mesmo mais sensível fiquei ao gesto de ambos. Não sei se chegamos ao fim das provações;.Juscelino pretendia retornar ao Brasil em 22 de dezembro de 1964,para passar o Natal com a família.Ele explicou à filha, Maria Estela,por que desistira.;Sua mãe pediu à Senhora de Fátima que mandasse um aviso sobre se estava certa a data escolhida. Ao voltar a Lisboa,surgiu a história dos astrólogos.Foram tão persuasivos que a eles se renderam todos (...) Fizeram um cerco em torno de mim;, escreveu. Além da;astrologia;, JK havia tido informações, dias antes, de que nem ele nem Juan Domingos Péron,presidente argentino exilado em 1955,também afastado por golpe militar, entrariam na América Latina.;A notícia provinha de fontes muito seguras. A questão com o ditador argentino explodiu exatamente no instante em que os astrólogos sustentavam a tese do adiamento. Consequência: sua mãe meteu os pés no chão e não aceitou mais conversa.; JK prosseguiu na carta ironizando a interferência;esotérica;na decisão de adiar o retorno ao país:;Demos um rápido recuo para alguns milênios atrás, à época em que Alexandre deixava a Macedônia e por mares incertos efrágeis embarcações ia ouvir o oráculo de Delfos. Concordei, agora.É a última transigência;.

ACUSAÇÕES

JK ainda precisava se defender das acusações de Carlos Lacerda de que seria;a sétima fortuna; do mundo. Levava vida modesta em Paris, instalado num pequeno apartamento de dois quartos no Boulevard Lannes,n;65.Em cartas confidenciais dirigidas aos deputados Carlos Murilo e Renato Azeredo naquele ano, publicadas por Serafim Jardim na obra JK, onde está a verdade?,o ex-presidente tentava articular um movimento dereparação histórica, tentando restaurar a verdade sobre a sua situação financeira e sua conduta como homem público.Os tempos, entretanto, cada vez se tornariam mais difíceis. A expectativa manifestada por JK em carta só agora publicada aos seus compadres Joaquim e Bertha Mendes de Sousa,;de que o Natal de 1964 seria o último longe do Brasil, encerrando o seu inferno astral;, não se concretizou. O exílio de JK terminou em 9 de abril de 1967, durante o governo de Costa e Silva.;Só morto deixo o Brasil outra vez;, afirmou, ao desembarcar no Rio. O ex-presidente morreu em agosto de 1976, num acidente de carro naVia Dutra, até hoje envolto em polêmica.

MARCHA FRACASSA NO PÁIS

No retorno do exílio,em abril de 1967,o ex-presidente disse que nunca mais sairia do PaísNo retorno do exílio,em abril de 1967,o ex-presidente disse que nunca mais sairia do PaísA Marcha da Família com Deus pela Liberdade, convocada como uma reedição da passeata que legitimou o golpe de Estado em 1964, dando
início ao regime militar, ocorreu de forma esvaziada em várias capitais do país. Em São Paulo (acima), com expectativa de reunir 5 mil pessoas, o ato na cidade de origem do movimento contou com 500 participantes. Um senhor chegou a usar uma bengala contra um fotógrafo que cobria o ato.Ao mesmo tempo, cerca de 800 pessoas se juntaram para a Marcha Antifascista, em oposição ao primeiro movimento. Em Brasília (abaixo), um grupo de 30 pessoas caminhou embaixo de chuva pelo Setor Militar Urbano cantando contra a ;ameaça comunista;. Para os presentes, a chuva justificou a baixa adesão. Na área da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, a Marcha da Família teve momentos de tensão, quando 150 pessoas que apoiam a intervenção militar no país se encontraram com 50 integrantes de movimentos sociais contrários.

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