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Sinal de alerta

A dor é um importante mecanismo de defesa que pode denunciar ameaças ao organismo. Pesquisa mostra que grande parte dos brasileiros ignora o aviso do corpo e não procura orientação médica quando começa a sentir o desconforto

Augusto Pio - Especial para o Correio
postado em 26/03/2014 16:00

Télcia Magalhães: dores não tratadas podem evoluir para quadros mais graves (Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Télcia Magalhães: dores não tratadas podem evoluir para quadros mais graves


Belo Horizonte ; A dor pode ser entendida como um sintoma de que algo não está bem no corpo ou há alguma agressão potencialmente prejudicial. ;É muito importante como fator de proteção, como quando pisamos em uma pedra e retiramos o pé para não aumentar o ferimento. Ela também nos alerta no caso de uma doença. É o caso da dor torácica durante um infarto do miocárdio;, explica a coordenadora de Oncologia Clínica do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo, Maria Del Pilar. É importante ressaltar que a dor tem um grande impacto social, pois é debilitante e leva a diversos prejuízos sociais e econômicos.

Pesquisa encomendada pela empresa farmacêutica Mundipharma traçou um extenso mapa da dor no país. Os tipos mais comuns entre os brasileiros são as dores de cabeça, as abdominais e as musculares. O levantamento mostrou também que a população do Sudeste é a mais consciente sobre o tratamento do problema. Setenta e quatro por cento dos entrevistados na região disseram que procuram um médico ao sentir o primeiro sintoma. Esse dado contrasta com o de outras regiões, como a Sul e a Centro-Oeste, onde o índice não passa dos 7%.

De acordo com Maria Del Pilar, os dados da pesquisa demonstram como as pessoas do Sudeste estão mais conscientes da importância de buscar um médico logo no início do desconforto. ;A dor aguda e não tratada pode levar a outras complicações clínicas, dificultar um diagnóstico de algo mais sério ou mesmo se tornar uma situação crônica, podendo afetar drasticamente a qualidade de vida do indivíduo;, alerta.

Chefe de Serviço de Clínica Médica da Santa Casa de Belo Horizonte e professora de medicina da Unifenas, Télcia Vasconcelos Barros Magalhães esclarece que a dor é um sinal de alerta que ajuda proteger o corpo de danos maiores, sendo essencial à sobrevivência. ;A sensação tem origem na ativação de pequenos terminais nervosos localizados em vários tecidos corporais por estímulos térmicos, mecânicos ou químicos intensos. Se está ocorrendo algo, precisamos cuidar de nosso corpo;, diz a doutora em clínica médica.

Ela salienta que o problema tem um forte lado subjetivo. ;Está muito relacionada a experiências vividas pelo indivíduo, suas emoções, crenças, atitudes e valores. Por isso, o profissional é o mais credenciado para avaliar o paciente que vem se queixando de dor e fazer um diagnóstico do problema;, afirma Magalhães. Por isso, uma parte importante do atendimento é a conversa com o paciente. É comum que o médico peça que a pessoa classifique a sensação em uma escala de zero a 10. ;Sempre deve ser perguntado ao paciente que nota ele daria, pois, como o caráter da dor é subjetivo, só ele pode identificar corretamente o tipo de dor que o acomete;, acrescenta Maria Del Pilar.

Caso a caso

Para cada dor, um tratamento. Pelo menos é assim que a medicina tenta abordar o problema. ;Hoje, com o avanço da ciência médica, temos condição de atender qualquer pessoa com problemas de dor. Mas isso não é mágica. Não é comprar aquele remédio que tal amigo usou e foi ótimo, ou aquele novo maravilhoso mostrado no comercial da tevê. O médico tem de consultar o paciente, fazer a anamnese (entrevista médica) e exame clínico completos, pedir os exames necessários e depois analisá-los, refletir, pensar e estudar o caso do paciente, sabendo das suas dificuldades e ansiedades. Somente assim, com o diagnóstico certo, ele indicará o tratamento adequado;, esclarece Télcia Magalhães.

A oncologista Maria Del Pilar ressalta que, para tratar a dor, podem ser usados diversos medicamentos. ;Há os analgésicos opioides e os não opioides, os anti-inflamatórios, medicamentos que chamamos de adjuvantes, anticonvulsivantes e antidepressivos, que têm ação principalmente em quadros de dor neuropática, e, eventualmente, anestésicos. A fisioterapia e a acupuntura também são tratamentos que compõem o arsenal para dar fim à dor. Em casos específicos, em que não houve um bom controle com essas estratégias, podem ser utilizados procedimentos cirúrgicos. A abordagem psicológica também pode ajudar a controlar quadros de dor, particularmente em casos com maior tempo de doença;, acrescenta a especialista.

Dados do estudo

Brasileiros
; Mais de 80% sentem dor de cabeça
; 34% sentem dores psicológicas
; 54% sentem dores abdominais
; 39% sentem dores musculares
; 72% sofrem de dores nas mãos e nos braços
; 64% sofrem de dores nas costas
; 6% lembram-se da dor e ela é recente
; 70% dos entrevistados são sedentários
; 46% dizem que a dor atrapalha a vida social

Homens
; 58% dos homens sofrem de dores psicológicas

Mulheres
; 61% das mulheres sofrem de dores musculares

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