Paloma Oliveto
postado em 27/03/2014 18:00
Paquistanês perto de forno a carvão: a poluição em casa mata mais que a externa |
Vista através da janela, a névoa de partículas poluentes assusta. Mas o perigo maior está dentro de casa. Em 2012, 4,3 milhões de pessoas morreram, em todo o mundo, de doenças associadas à má qualidade do ar que circula no ambiente doméstico. É mais do que o número de óbitos decorrentes da poluição externa: 3,7 milhões, segundo um levantamento divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Os grandes vilões são os combustíveis usados nos fogões. Lenha, carvão e esterco, presentes principalmente nas cozinhas de países pobres e em desenvolvimento, estão por trás de doenças cardiovasculares, respiratórias e cânceres.
;Mulheres e crianças de baixa renda pagam um preço alto, já que passam mais tempo em casa, aspirando a fumaça e a fuligem;, observou, em um comunicado, Flavia Bustreo, diretora-geral assistente da Área de Saúde da Família, da Mulher e da Criança da OMS. Contudo, a letalidade é maior entre os homens: do total de mortes relacionadas à baixa qualidade do ar doméstico ocorridas em 2012, 53% foram de indivíduos com mais de 25 anos, do sexo masculino. Mulheres adultas responderam a 44% dos óbitos e crianças somaram 3%. De acordo com a OMS, isso se deve ao fato de homens apresentarem, no geral, um índice maior de comorbidades.
O derrame foi a principal causa de óbito associada à poluição dentro de casa (34%), seguida por doença pulmonar obstrutiva crônica (22%), isquemia cardíaca (26%), doença aguda do trato respiratório inferior (12%) e câncer de pulmão (6%). As regiões com maior incidência de mortes por má qualidade do ar doméstico são o sudeste asiático e o Pacífico, com 1,69 milhão e 1,62 milhão de óbitos, respectivamente. Quase 600 mil mortes ocorreram na África, 200 mil no leste do Mediterrâneo, 99 mil na Europa e 81 mil nas Américas. Os outros 19 mil casos foram identificados em países de renda alta. Os dados por nação devem ser divulgados nos próximos meses.
;A exposição à fumaça que vem dos fogões é um problema sério de saúde pública mundial, que afeta quase metade da população, contribuindo para um número muito grande de mortes;, diz Kirk Smith, pesquisador de saúde ambiental global da Universidade da Califórnia em Berkeley. ;É preciso investir em intervenções que promovam o acesso a melhores combustíveis para a cozinha. É vital que os cientistas busquem essas tecnologias e que os governos financiem essas buscas. Por exemplo: não adianta muito vacinar e distribuir suplementos alimentares para as crianças se elas continuam expostas a uma qualidade de ar que as fará adoecer;, lembra.
O estudo da OMS mostrou que, considerando o ar que circula dentro de casa e a poluição externa, houve 7 milhões de óbitos associados ao problema em 2012. O número pode ser ainda maior, pois os sistemas de notificações em países mais pobres ainda são muito falhos.