Ensino_EducacaoBasica

Lelé um arquiteto para todos

postado em 22/05/2014 14:00

Não uma estrela, mas um planeta; não apenas um arquiteto, mas um inventor de tecnologias, um construtor, um ativista da arquitetura social; um ex-comunista, um utopista e, ao mesmo tempo, um pragmático e um artista. Lelé nasceu no Encantado, subúrbio da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Era um encantador de arquiteturas e de pessoas. João da Gama Filgueiras Lima morreu ontem, aos 82 anos, vítima de câncer de próstata, em Salvador, numa das 10 unidades da Rede Sarah por ele projetadas.

O corpo de Lelé está sendo velado, nesta manhã, no Centro Administrativo da Bahia, em Salvador, e depois virá para Brasília, onde receberá as homenagens no Salão Nobre da Câmara dos Deputados a partir das 17h (com entrada pela rampa principal do Congresso Nacional). O sepultamento está marcado para as 10h de amanhã na Ala dos Pioneiros do Campo da Esperança. A capital reúne o maior conjunto de suas obras, desde os blocos da SQS 109, erguidos durante a construção da cidade, até o Beijódromo, projeto de 2010.

Nos últimos anos de vida, Oscar Niemeyer dizia aos amigos: Lelé é o maior arquiteto brasileiro vivo. Lucio Costa não deixou barato: ;O construtor, no mais amplo e criativo sentido da palavra;. Outro nome consagrado, Paulo Mendes da Rocha já havia estabelecido, no fim dos anos 1990: ;Lelé é um paradigma da arquitetura do Brasil;. O diplomata e crítico de arquitetura André Correa do Lago foi mais preciso: ;Ele inventou um high-tech essencialmente brasileiro;.

Lelé respondia com um traço de modéstia e elegância: ;Um arquiteto pode sobreviver dignamente sem precisar se transformar num Le Corbusier ou num Oscar Niemeyer. Eles são únicos;.

Sempre Lelé, raramente João. ;Ninguém me chama pelo nome, inclusive profissionalmente, é uma coisa terrível. Quando telefono, digo: ;Aqui é o Lelé;;. O apelido vem dos tempos de ensino médio. João Filgueiras Lima jogava na mesma posição de um ídolo do Vasco da Gama (Manuel Pessanha, o Lelé, meia-direita entre 1943 e 1948). Cada jogador do time do colégio era chamado pelo nome de algum atleta famoso que atuava na mesma posição. João Filgueiras Lima nunca mais deixou de ser Lelé. A expressão do rosto, quase infantil, talvez tenha ajudado a manter o apelido, mesmo depois de consagrado arquiteto. Continua na página 2

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação