postado em 10/06/2014 09:56
O corpo do militante político Stuart Angel Jones estaria enterrado na base da Aeronáutica em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na cabeceira de uma pista aérea. A informação foi fornecida pelo capitão reformado da Aeronáutica Álvaro Moreira de Oliveira Filho à Comissão Nacional da Verdade (CNV). O primeiro depoimento de Moreira Filho à CNV ocorreu em setembro passado, mas o teor das declarações só foi tornado público ontem. De acordo com Moreira, o sargento da Aeronáutica José do Nascimento Cabral, já morto, teria dito a ele a localização. ;Ele (Nascimento) estava de serviço na Torre, porque ele era controlador de voo, quando chegou o coronel (João Paulo) Burnier, que era o comandante da base de Santa Cruz, com um grupo de oficiais, e pediu que interditasse a pista. Se eu não me engano foi a pista 10. Foi interditada e ele viu, porque ele era obrigado a ver lá da torre, um movimento suspeito, durante a noite. Depois ficou-se sabendo que ele estava enterrando um corpo de um (...) subversivo;, afirmou o militar reformado.Stuart Angel era militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR8, e desapareceu em maio de 1971. Ainda segundo o depoimento, o sargento José do Nascimento teria sido informado depois de que a pessoa morta na Base Aérea do Galeão se tratava do filho da estilista Zuzu Angel. ;Aí vieram os detalhes, de que foi o coronel Cabral, que era comandante do Galeão, que era o filho de Zuzu Angel. Foi esse o tipo de conversa que nós tivemos. Ele afirmou porque via da torre. (...) Na conversa, ele não deixou dúvidas de que estava se enterrando um corpo na cabeceira da pista;, acrescentou Moreira.
Segundo o coordenador da CNV, Pedro Dallari, o colegiado verificou em registros do Ministério da Defesa que de fato José do Nascimento era um dos militares de plantão no dia. ;Como trata-se de testemunho indireto, a CNV teve o cuidado de checar a presença do oficial José do Nascimento na base aérea de Santa Cruz à época;, disse ele. ;O depoimento é bastante verossímil e condizente com o padrão do que se fazia à época, de utilizar locais onde não fosse possível fazer uma checagem;, comentou Dallari.
Luta por informações
Zuzu Angel foi uma estilista brasileira com forte projeção no exterior. Após a morte do filho, no começo dos anos 1970, Zuzu iniciou uma saga em busca de informações sobre o paradeiro do corpo. Em setembro de 1971, Zuzu organizou um desfile-protesto no consulado brasileiro em Nova York. O evento repercutiu nos principais jornais daquele país, contribuindo para desgastar a imagem do regime militar no exterior. Zuzu morreu em 1976 em um acidente de carro. Suspeita-se que a morte dela tenha sido provocada por agentes da repressão.