A manipulação de genes ampliará o uso da planta pela indústria |
Os eucaliptos costumam ser associados aos coalas, animais típicos da Austrália que comem as folhas e os cascos da árvore. Mas não servem apenas de comida para os bichos. Também são fonte global de combustíveis, celulose e fibras. Cientistas de diversos países reuniram-se e conseguiram sequenciar o genoma da planta, abrindo, dessa forma, as portas para novas formas de exploração do recurso natural. Detalhada na edição de hoje da Nature, a pesquisa começou com uma parceria entre o brasileiro Dario Grattapaglia (da Embrapa), o americano Jerry Tuskan (do Laboratório Nacional Oak Ridge) e o sul-africano Zander Myburg (da Universidade de Pretória).
;Ter acesso ao genoma do eucalipto vai tornar possível a identificação de genes que permitirão uma produção em grande escala de madeira rica em celulose, que pode ser processada para uma variedade enorme de produtos, desde o papel até os biocombustíveis;, explica Myburg. Ele conta que, com o genoma da planta sequenciado, fica mais fácil cultivar árvores mais produtivas e resistentes a problemas como seca, frio, ataques de fungos e insetos.
Grattapaglia destaca a importância dos resultados alcançados para os brasileiros. ;Quase toda a nossa indústria de base florestal é produzida em cima do eucalipto, responsável por cerca de 6% do PIB do país nesse setor;, explica. ;Além disso, esse é o primeiro projeto de sequenciamento de genoma de planta que conta com o Brasil como um dos líderes.;
Grupo diverso
A pesquisa só foi possível, de acordo com o brasileiro, pela existência de estudos anteriores envolvendo o eucalipto. ;Trabalhamos com pesquisas desse tipo há mais de 20 anos na Embrapa;, diz. Segundo ele, a participação de países tropicais no grupo de estudo ajudou que cientistas de outras nações pudessem se envolver na análise genética da planta. ;Por mais que seja difundido no mundo, o eucalipto não é encontrado em grandes quantidades em lugares como os Estados Unidos;, exemplifica.
A diversidade de integrantes ajudou Pankaj Jaiswal, da Universidade de Oregon (EUA) e integrante do consórcio. ;Além de criar as referências, explorando a diversidade de eucalipto nativo na região da Oceania, principalmente na Austrália, será possível explorar a adaptação das plantas a diferentes habitats da região geográfica e o impacto sobre outras espécies, como os coalas;, analisa.
O consórcio é formado por cientistas de 34 instituições. Eles produziram recursos como mapas genéticos e sequências de genes expressos para a montagem e a anotação do genoma da planta. ;O primeiro rascunho do sequenciamento foi concluído e anotado no início de 2012;, afirma Myburg. O projeto começou em 2008.
Além de mapear os caminhos bioquímicos e regulatórios envolvidos na formação da madeira, a equipe mostrou que o genoma da planta codifica um conjunto mais diversificado de genes envolvidos na biossíntese de metabólitos especializados, compostos responsáveis pelo desenvolvimento e pela sobrevivência das plantas. ;Essas moléculas fornecem proteção contra pragas e doenças, mas também têm aplicações farmacêuticas, como o óleo de eucalipto, que é usado em muitos medicamentos;, detalha Myburg.