postado em 07/07/2014 17:41
O filósofo francês Guy Debord enfatiza em seu livro ;A Sociedade do Espetáculo; que no sistema capitalista importa mais do que tudo a imagem, a aparência, a exibição. A ostentação do consumo vale mais que o próprio consumo. O reino do capital fictício atinge o máximo de amplitude ao exigir que a vida se torne ficção de vida. A alienação do ser toma o lugar do próprio ser. A aparência se impõe por cima da existência. Parecer é mais importante do que ser. Já Mario Vargas Losa em seu livro ;A Civilização do Espetáculo; considera que o progresso moderno, tem um custo destrutivo, por exemplo, em danos irreparáveis à natureza e a ecologia, e nem sempre contribui para reduzir a pobreza, e sim para ampliar o abismo de desigualdade entre países, classes e pessoas.Hoje, a chamada sociedade do espetáculo se apresenta como um mundo de imagens, que conta mais do que a própria realidade. A reprodução da cultura agora se dá pela proliferação de imagens, uma vez que vivemos todos numa espécie de ;escravidão midiática;, consumidos por mensagens insistentemente veiculadas pela TV, propaganda, marketing, redes sociais da internet, etc. Estamos tão impregnados e dominados pelo espetáculo da mídia que só damos crédito àquilo que foi noticiado.
A mídia faz parte do processo de comunicação que se apresenta em três elementos: o emissor, a mensagem e o receptor. Cada vez mais os grandes emissores representados pelos grandes conglomerados da comunicação ganham maior importância ao lado da diminuição de comunicação entre pais e filhos e entre o professor e o aluno. O estímulo ao consumo é explicito nas propagandas entre os filmes infantis na maioria dos canais de nossa televisão. É a primeira etapa para construir o Homo consumus que perde a sua racionalidade e a real consciência de suas necessidades básicas. O modelo de desenvolvimento, baseado em inovações tecnológicas, em busca do lucro precisa ser substituído por outro, que leve em consideração as necessidades básicas do ser humano e os limites suportáveis na natureza e da própria vida. Lamentavelmente, a cultura de massas procura oferecer ao público novidades que servem de entretenimento sem nenhuma formação e sem referenciais culturais. Se, porventura, a mídia não noticia alguma coisa, tendemos a achar que o fato não aconteceu, ou seja, a ;validade; da realidade somente se dá quando o acontecimento vira um ;espetáculo; da mídia. Tudo isso se presta às mais variadas manipulações: para vender produtos, para eleger políticos, para aumentar o consumo de coisas desnecessárias, para melhorar a imagem dos governos, etc. Nesse contexto a mídia fixa modelos e padrões de comportamento que acabam por minar a diversidade, a subjetividade e a vontade dos indivíduos.
Para que ocorra a abolição da ditadura midiática ou escravidão midiática, várias ações precisam ser implantadas. Em primeiro lugar o exercício contínuo do debate, da argumentação fundamentada, do espírito crítico em todo o processo educacional e que deve ser iniciado na primeira infância. Para que isso ocorra será necessária uma revolução pedagógica e uma interação de duas vias entre o aluno e o professor. Em segundo lugar é necessária a implantação de uma verdadeira democratização na área da comunicação. Nesse contexto é fundamental a implantação da pluralidade e diversidade na atual mídia. A legislação brasileira no setor de comunicações precisa se adequar aos padrões internacionais de liberdade de expressão contemplando e acompanhando as inovações tecnológicas e a convergência de mídias. Ela deverá respeitar a liberdade de expressão para todos de tal forma que as diferentes ideias, opiniões e pontos de vistas dos diferentes grupos sociais, culturais, étnico-raciais e políticos sejam assegurados e possam ser manifestados em igualdade de condições no espaço público midiático. O terceiro é o aproveitamento da excepcional qualidade técnica que já dominamos aliada a notável qualidade da dramaturgia brasileira para uma inflexão na qualidade de nossos programas televisivos. Nesse contexto as televisões universitárias, as educativas e as comunitárias terão um papel relevante e virtuoso.
A abolição da escravidão midiática fortalecerá a democracia permitindo que o campo midiático possa expressar as ideias, valores, sentidos que possam amalgamar a sociedade em torno de vontades coletivas mobilizadas por um projeto de construção nacional como pregava Celso Furtado.