"Estou muito feliz de estar vivo, estar bem e novamente com a minha família" Kent Brantly, ao lado da mulher, Amber Brantly |
Repatriados, no início deste mês, da Libéria para os Estados Unidos e internados no Hospital da Universidade de Emory, em Atlanta, onde receberam tratamento com um droga experimental contra o ebola, o médico Kent Brantly, 33 anos, e a missionária Nancy Writebol, 60 anos, receberam alta. Os norte-americanos, segundo Bruce Ribner, diretor da Unidade de Doenças Infecciosas da instituição, ;não representam qualquer ameaça para a saúde pública;. Resultado que reforça as esperanças de intervenções mais eficazes contra o vírus que matou, desde dezembro, 1.350 pessoas.
Segundo Ribner, tanto o médico quanto a missionária apresentam quadros de saúde estáveis, sem sinais da doença. ;Após uma etapa rigorosa de tratamentos e exames, a equipe do Emory avaliou que os pacientes haviam se recuperado do ebola e poderiam voltar para casa sem preocupação com a propagação da infecção.;
Ao lado da equipe médica e da mulher, Amber Brantly, Kent Brantly afirmou que sua melhora foi ;milagrosa;. ;Estou muito feliz de estar vivo, estar bem e novamente com a minha família.; O médico recebeu alta ontem. Nancy, na terça-feira. Ambos foram tratados com a droga ZMapp, produzida pela Mapp Biopharmaceutical, sediada em San Diego, e, até então, nunca testada em humanos. O padre espanhol Miguel Pajares recebeu o mesmo remédio, mas não resistiu à doença e morreu no último dia 12.
Oficiais de saúde na Libéria relataram à Organização Mundial da Saúde (OMS) que mais dois médicos e uma enfermeira também foram submetidos à terapia experimental. De acordo com agência de saúde ligada à ONU, ;a enfermeira e um dos médicos apresentam melhora acentuada. A condição do outro profissional de saúde, porém, é grave, ;mas melhorou um pouco;.
A OMS decidiu aprovar o uso de drogas experimentais contra o ebola também no último dia 12, com o intuito de conter o surto da doença na África Ocidental. Logo em seguida, doses de ZMapp foram enviadas à Libéria, que soma a maior quantidade de mortos (972). A OMS programou para hoje uma conferência em que deve se manifestar sobre o uso do medicamento não homologado no país africano.
Ontem, a fabricante do ZMapp mantinha em seu site a informação, publicada desde a aprovação do uso de terapias experimentais, de que os estoques do remédio estão esgotados. A OMS planeja realizar, de 4 a 5 de setembro, em Genebra, uma consulta com especialistas a respeito de outras terapias alternativas. ;Questões de segurança e eficácia serão discutidas em conjunto com modelos inovadores para acelerar os estudos clínicos. Possíveis formas de aumentar a produção dos produtos mais promissores também serão exploradas;, informou a agência, em comunicado.
Reforço
Coordenador da ONU para o ebola, David Nabarro iniciou ontem uma visita aos países atingidos pela epidemia, começando pela Libéria, onde, desde quarta-feira, vigora um toque de recolher das 21h às 6h e dois bairros da periferia da capital, Monróvia, estão em quarentena, decisão que resultou em confronto entre moradores e tropas do governo. Nabarro irá também a Serra Leoa, Guiné e Nigéria. A intenção é reforçar a presença da comunidade internacional no combate ao vírus.
Ao mesmo tempo, a África do Sul decidiu proibir o acesso de pessoas procedentes de Guiné, Libéria e Serra Leoa, ;salvo se a viagem for considerada absolutamente essencial; e recomendou aos seus cidadãos que adiem qualquer viagem aos três países. A Nigéria, onde quatro pessoas morreram da doença, de acordo com a OMS, está livre da medida porque é considerada uma região de ;risco médio;.
Companhias aéreas e de navegação têm suspendido os serviços para os países afetados, e a OMS pede que reconsiderem a decisão porque as regiões começam a enfrentar escassez de produtos, como combustível, alimentos e suprimentos básicos. ;A epidemia não é apenas de saúde pública, mas uma crise que afeta vários setores da economia;, alertou, em entrevista à agência France-Presse (AFP), o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Donald Kaberuka, que anunciou, nesta semana, um fundo de 60 milhões de dólares para as nações atingidas pelo vírus letal.
Crise alimentar
De acordo com Philippe Hugon, especializado em assuntos africanos e desenvolvimento internacional do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), com sede em Paris, a epidemia pode reforçar a ideia de que Guiné, Serra Leoa e Libéria são países em que é perigoso viver e, consequentemente, investir. ;A precaução terá como consequência uma queda da produção, já que as economias da África Ocidental são muito dependentes dos grandes grupos para exportar suas matérias-primas;, disse também à AFP.
Em regiões de Serra Leoa e Libéria, as plantações de cacau e de café estão desertas e há escassez de alimentos, principalmente de arroz, porque os vendedores evitam se deslocar. ;As pessoas se movimentarão cada vez menos. Por exemplo, quem costuma vender suas verduras no mercado local decidirá ficar em casa;, avalia Philippe De Vreyer, especialista em economia da África Ocidental, em entrevista à AFP.
Um estudo da agência de riscos Moody;s indica que ;a epidemia pode ter um impacto financeiro direto nos orçamentos dos governos com o aumento dos gastos de saúde;. ;Tudo depende se isso será uma crise conjuntural ou se a epidemia continuará crescendo com o tempo. Os empresários estrangeiros na região estão muito preocupados;, avalia Philippe Hugon.
Gastroenterite mata ao menos 70 no Congo
Um surto de gastroenterite hemorrágica resultou na morte de pelo menos 70 pessoas na República Democrática do Congo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não se trata do ebola. Um documento da agência de saúde obtido pela agência Reuters informa que 592 pessoas contraíram a doença. O surto começou na província do Equateur, onde o primeiro caso de ebola foi relatado em 1976, aumentando a especulação de que as mortes poderiam ser causadas pelo vírus devastador. Os sintomas das duas enfermidades são parecidos, incluindo vômitos, diarreia e hemorragia interna. A taxa de mortalidade da gastroenterite hemorrágica, porém, é muito menor do que a do ebola: 12% contra 90%.