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Estudo aponta fatores que afetam desempenho de profissionais

Pesquisa desenvolvida na Universidade de Brasília ouviu funcionários que atuam em canais de inspeção de 18 aeroportos brasileiros

Baixos salários, condições de trabalho inadequadas e desvalorização da carreira podem interferir no desempenho de profissionais responsáveis pela segurança da aviação civil. A constatação é de pesquisa de dissertação do Mestrado em Transportes do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC), que ouviu 602 trabalhadores de 18 aeroportos. ;Essas informações são importantes para incluir o ambiente de trabalho dos agentes entre as políticas de segurança;, avalia a autora da pesquisa, Michelle Arcúrio.

Os dados da dissertação foram obtidos a partir de autoavaliação de Agentes de Proteção de Aviação Civil (APACs). São esses os responsáveis, entre outras atividades, pelo uso de equipamentos e abordagem de passageiros no canal de inspeção, área de acesso ao embarque onde estão instalados os aparelhos de Raios-X. Em questionários com 60 itens, eles apontaram erros ou fatores humanos que julgam interferir no trabalho. Entre os dez mais mencionados constam a alta rotatividade de funcionários, o desconforto térmico (calor ou frio) e o ruído nos locais de trabalho.

A pesquisa traz ainda análises sobre a percepção de aspectos técnicos e econômicos dos APACs. As respostas dos agentes apontam que funcionários com turnos fixos trabalham com mais atenção. Também revelam que profissionais com menos tempo de serviço tendem a sentir mais a rotatividade da carreira e são mais propensos a simplificar procedimentos de segurança. ;Alguns profissionais podem levar mais tempo para perceber a importância do trabalho deles para a segurança do sistema;, diz Michelle Arcúrio.

A certificação dos agentes é realizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Os trabalhadores seguem carreiras celetistas e estão vinculados aos aeroportos que trabalham. A segurança da aviação civil é dividida em dois eixos centrais: safety, a segurança operacional para evitar acidentes aéreos, e security, a busca da prevenção de atos intencionais e ilícitos contra a aviação. É no segundo eixo que atuam os APACs.

INEDITISMO ; Orientador da dissertação, o professor do ENC José Augusto Fortes ressalta a representatividade da pesquisa. ;Esse é um trabalho inédito e traz contribuições muito importantes. Ajuda a identificar as necessidades de aperfeiçoamento do setor;, afirma. ;Também tem um aspecto social relevante. Pode sensibilizar a sociedade no sentido de entender que os procedimentos exigidos são necessários para a segurança de todos;.
Pesquisadora Michelle Arcúrio encaminhou dados da dissertação à Anac

Michelle Arcúrio explica que a pesquisa não busca ranquear os aeroportos mais seguros. Por isso, o conteúdo dos questionários foi avaliado de forma conjunta. O estudo considera que erros e fatores humanos são inerentes a sistemas complexos, mas que é necessário minimizá-los. ;Os ensinamentos acerca da investigação do erro humano e a aplicabilidade das técnicas de controle podem restringir a probabilidade de sua incidência e, com isso, trazer maiores índices de segurança da aviação civil contra atos de interferência ilícita;, aponta trecho da dissertação de 318 páginas.

A pesquisadora concluiu o mestrado no mês de junho. Graduada em Pedagogia pela Universidade de Brasília, ela passou a se interessar por segurança na aviação após iniciar carreira na Anac, em 2007. O material defendido na UnB foi entregue à agência. ;A preocupação com a melhoria da segurança deve ser materializada por meio de ações concretas e não apenas externalizada e compartilhada por meio de ideais. Assim, é necessária a adoção de uma postura ativa que fomente medidas de segurança;, destaca o estudo.