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Mapa da vizinhança espacial

Astrônomos conseguem traçar os limites do superaglomerado de galáxias do qual fazemos parte. A Via Láctea está na periferia dele

Roberta Machado
postado em 04/09/2014 10:35
Imagem da Via Láctea, onde está localizado o Sistema Solar: segundo o novo estudo, o grupo de estrelas integra um assombroso conjunto de 100 mil galáxias
Imagem da Via Láctea, onde está localizado o Sistema Solar: segundo o novo estudo, o grupo de estrelas integra um assombroso conjunto de 100 mil galáxias

Astrônomos apresentaram o mapa mais detalhado já produzido de uma grande porção do Universo próximo. Em um estudo divulgado na revista Nature, cientistas do Havaí mostram como conseguiram definir a localização de um imenso grupo de galáxias vizinhas à nossa, a Via Láctea, e as forças que fazem esses conjuntos de sistemas interagirem e se moverem pelo espaço. A grande vizinhança estelar, batizada pelos pesquisadores de Laniakea, pode ajudar cientistas a entender melhor outros mistérios do Cosmos, como a energia escura e o modelo de formação e evolução das galáxias.

Para medir os limites do superaglomerado, os astrônomos usaram como referência um grande catálogo com as distâncias entre mais de 8 mil galáxias, medidas com seis técnicas. Os pesquisadores definiram que esse pedaço do Universo tem mais de 520 milhões de anos-luz de diâmetro, dimensão muito superior à imaginada pelos especialistas ; são 100 milhões de bilhões de estrelas, distribuídas por 100 mil galáxias. O tamanho da enorme vizinhança espacial é bem maior que outras estruturas similares próximas, mas menores do que outras localizadas em pontos distantes.

Traçar os limites de Laniakea é, para a humanidade, o mesmo que os moradores de uma cidade pequena descobrirem que fazem parte de um país e entenderem como essa nação faz fronteira com outras. ;Era sabido que a Via Láctea era parte de um superaglomerado local. O tamanho dele é muito menor que Laniakea. De acordo com esse estudo, esse superaglomerado local é parte de Laniakea;, ressalta Elmo Tempel, pesquisador do Observatório de Tartu, na Estônia.

Dinâmica
A Via Láctea, onde está localizada o Sistema Solar, tem um número estimado de 200 bilhões de estrelas. Mas ela é apenas uma das cerca de 40 galáxias que formam um pequeno conjunto de astros local. E essa estrutura é parte de um grupo ainda maior, o chamado superaglomerado. Compreender a dinâmica dessa imensidão era difícil até mesmo para astrônomos, que até então que não tinham nem mesmo uma definição quantitativa de um superaglomerado.

Para medir a vizinhança, os cientistas olharam para as forças que atuam no Universo. ;Superaglomerados estão em regiões densas, mas, embora eles contenham condensações de aglomerados e grupos, a densidade em geral não é alta o suficiente para superar a expansão cósmica;, explica Brent Tully, pesqusiador da Universidade do Havaí e autor do trabalho. ;O que vemos são perturbações na expansão que produzem um padrão de atração na expansão geral, observando assim uma concentração de galáxias.;

Algumas partes do Cosmos concentram bilhões de astros, enquanto outras são espaços desocupados, tal qual buracos em um tecido que é constantemente esticado. Como os conjuntos de galáxias se movem em direção a pontos diferentes, os pesquisadores definiram que o superaglomerado termina onde a atração em uma direção cessa e as forças da estrutura ao lado começam a agir para o outro lado. ;Se há duas regiões com muita massa, então há um cabo de guerra entre elas. Podemos encontrar duas galáxias que estão próximas uma à outra, mas cada uma atraída para a massa oposta. Com informação suficiente, podemos descrever os limites que marcam as influências relativas das duas massas;, resume Tully.

Incerteza
Na região mais densa de Laniakea está o que os pesquisadores chamam de ;o grande ponto de atração;. Ele é como o centro de uma grande área metropolitana, enquanto a Via Láctea está nos subúrbios, em um ponto periférico da estrutura. As galáxias são puxadas para o ponto de atração pela força da gravidade, mas também sofrem o efeito derradeiro da expansão do Universo.

Especialistas ainda não sabem prever qual será o efeito desse empurra-empurra na Via Láctea. Enquanto alguns acreditam que Laniakea eventualmente deve sucumbir a essa pressão e acelerar até desaparecer, outros são mais céticos em relação a esse cenário negativo. ;Essa expansão não afeta estruturas ligadas pela gravidade. Já que grupos e galáxias são sistemas unidos pela gravidade, eles não se expandem. Apenas distâncias entre galáxias e grupos aumentam no Universo em expansão;, acredita Elmo Tempel. ;Ainda está sob debate, no entanto, se superaglomerados são sistemas unidos pela gravidade ou não. Então, o destino de Laniakea ainda não é conhecido;, pondera o especialista.


Homenagem a navegadores
O nome do superaglomerado foi sugerido por um professor de língua havaiana de uma comunidade local. Laniakea significa ;céu infinito; em havaiano e é uma homenagem aos navegadores polinésios que usaram o conhecimento dos céus para viajar na imensidão do Oceano Pacífico.

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