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O Descobrimento do Brasil

O rock como sinal de vida em uma capital planejada e o momento histórico de um país

postado em 17/07/2009 09:00
Oh. Ele mesmo:Renato Russo, nosso conhecido, velho camarada. O poeta do rock, o punk da Colina,o trovador solitário do Planalto Central. Magia e meditação. O Renato da Legião Urbana. Não era pequeno o desafio do jornalista Carlos Marcelo ao escrever um livro sobre Renato Manfredini Júnior (1960-1996).Um sujeito que cada fã pensa conhecer como a um amigo,um vizinho.Como contar uma vez mais a história tantas vezes já contada? Quais são as palavras que nunca são ditas? Este Renato Russo %u2014 O filho da revolução, recém-lançado pela Editora Agir, parte de um dos mais famosos refrões do biografado %u2013 %u201CSomos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, nós somos o futuro da nação, geração coca-cola%u201D %u2014 para explicar Renato Russo como um homem de seu tempo, de seu espaço. Por que cada geração do rock gosta de se ver como a única, não é mesmo? Isto é punk: renegar o passado, matar os pais, dar as costas para as bandas que fazem sucesso, queimar antigos discos, tacar fogo no país. Reinventar a roda a cada 10, 15 anos. Faça você mesmo. Essa é a essência do rock. A arrogância de quem mete o pé na porta. Ao mesmo tempo, que viagem, o bacana é perceber como o rock é parte de um contexto. Não nasce por acaso, combustão espontânea, abiogênese, perdido no espaço. Explicar de onde veio e tentar pescar para onde vai esse tal de rock and roll é uma parte divertida do trampo de um jornalista de música. Foi o que o fez Carlos Marcelo, editor executivo do Correio Braziliense, ex-editor de cultura deste jornal e um dos criadores do mais roqueiro programa radiofônico de Brasília, o Cult 22, da Rádio Cultura FM. Em Renato Russo %u2013 O filho da revolução,Carlos Marcelo tenta analisar o objeto de seu afeto, do afeto de tanta gente. Percebe que havia aqui uma necessária perspectiva histórica, política, social e cultural que permitira o surgimento da Legião Urbana. Assim...O folclore brasiliense conta como jovens da cidade, no fim dos anos 1970, importaram para cá o punk de primeira hora que estava a estourar em Londres e Nova York. Eram filhos de diplomatas e filhos de professores da Universidade de Brasília que, em viagens ao exterior, traziam discos e mandavam para os amigos fitas cassetes com Sex Pistols, The Clash, Buzzcocks, Joy Division,Gang of Four. O tédio da cidade planejada também é elemento conhecido nesse processo de criação dos primeiros punks brasilienses. Mas o livro lembra e ilustra como eram Brasília e o Brasil no fim dos anos 1970, início dos 1980. Quando a ditadura militar enferrujava por dentro, vítima de uma economia que patinava e de um silêncio artificial imposto à sociedade. Artistas e políticos voltavam do exílio, as rádios tocavam as músicas vetadas. A censura caducava no patético das burocracias estatais. O espírito punk de revolta adolescente somado ao espírito coletivo de cansaço com a situação política do país. E os policiais da Asa Sul ainda encrencando com tua roupa rasgada, teus brincos na cara...Na capital federal, o fastio com a %u201Crevolução de 1964%u201D já não cabia mais nas linhas planejadas. Rock e democracia, percebemos aos poucos, se encaixando como dois movimentos do mesmo pensamento. Brasília, a cidade de papel, ganhava vida de verdade a cada fim de semana, a cada concerto de rock numa superquadra. E o Brasil então se reencontrava com seu destino. A leitura deste Renato Russo %u2014O filho da revolução, entre a política e o rock and roll, flui ligeira e natural. Vale como curso sobre a recente história brasileira. E a trilha sonora é de primeira. Lá pelas tantas, periga bater uma vontade de chamar os amigos para... você sabe o quê. Como cantava Manfredini em Os marcianos invadem a terra: %u201COra, se você quer se divertir, invente suas próprias canções%u201D.

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