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Dicas de português

postado em 25/10/2012 08:00

Recado
;Explica-se bastante quem cora e cala.;
Metastásio

Com a palavra, Sua Excelência o leitor

O mundo moderno tem novidades pra lá de legais. Entre elas, sobressai a interatividade. A tecnologia dá voz a quem era submetido à mudez. Leitores, num toque de teclas, se tornam autores. Comentam, criticam, aplaudem e, sobretudo, enriquecem a informação. A coluna recebe montões de e-mails. São todos bem-vindos. Hoje, o espaço é deles. Viva!

Raul de Araújo Carneiro

Li no jornal de domingo: ;Horário de verão inicia em 11 estados e no DF e vai até 17 de fevereiro.; Inicia o quê? A frase certa me parece esta: ;Horário de verão inicia-se em 11 estados e no DF e vai até 17 de fevereiro;. Não só. Passei 15 dias na Europa com uma senhora que soltou várias pérolas nesse sentido. A pior: ;Fulano? Eu dô muito bem com ele;.

Raul, de uns tempos pra cá, brasileiros decidiram economizar pronomes. Os verbos pronominais, coitados, ficaram no desamparo. Eles são transitivos diretos. Precisam do objeto. Mas, quando sujeito e complemento são a mesma criatura, a mão de vaca fala alto. Vale o exemplo do verbo demitir. Imagine o locutor dizer: ;Dilma demitiu;. A informação está incompleta. Demitiu quem? Demitiu o ministro. Ministro é o objeto direto.

Continuemos com o mesmo verbo. O ministro demitiu. Demitiu quem? A si mesmo. O ministro se demitiu. Eu me demiti. Nós nos demitimos. Eles se demitiram. A sua companheira de viagem deve jogar no time dos Tios Patinhas. Ela se dá muito bem com o fulano. Mas brigou com a língua.

Benedito De Rienzo

A expressão com certeza assola o país de norte a sul. É com certeza pra cá, com certeza pra lá. Outro dia, fui a um posto e perguntei: ;Moço, por favor, pode calibrar os pneus do meu carro?; E lá veio a resposta: ;Com certeza;. Qual o uso correto da expressão?

O problema, Benedito, não é a duplinha. É o modismo. A pessoa quer ser solícita, gentil. Mas se esquece do charme da diversidade. Então, cai no lugar-comum. Repete o que todo mundo repete. Dá no que deu.

Raimundo Rodrigues de Sousa

A imprensa tem o dever de usar a gramática corretamente. Ouvir na medida que em telejornal da manhã me azeda o humor do dia inteiro. Tenho ou não tenho razão?

É. Ninguém merece acordar com pancadas na língua. O repórter, no caso, misturou duas expressões. Uma: à medida que (à proporção que). A outra: na medida em que (tendo em vista): Melhoro a pronúncia à medida que pratico inglês. A dengue se alastra na medida em que faltaram medidas preventivas.

Viu? Na medida que não existe. Trata-se de cruzamento sintático. É como se casássemos elefante com girafa. O filhote? É o na medida que. Xô!

Hellena Leite

Já vi uma famosa frase de Gandhi escrita de duas formas. Uma é esta: ;Temos de nos tornar na mudança que queremos ver;. A outra: ;Temos de nos tornar a mudança que queremos ver;. Qual a correta?

Ops! Trata-se da regência verbal. O assunto é tão espinhoso que existem dicionários específicos para nos dar uma ajudinha. O do Francisco Fernandes diz que a forma nota 10 para a acepção de mudar-se converter-se, fazer-se é esta: Temos de nos tornar a mudança que queremos ver.

Ceica Athenas

Sempre que eu e meu marido damos bênção à nossa filha, dizemos que a amamos e ela responde: ;Amém, eu os amo também;. Tá certo ;eu os amo;?

Nota 10 pra sua mocinha. No caso, amar é transitivo direto. O pronome átono que exerce essa função é o: Eu amo vocês. (Eu os amo.) O pai ama os filhos. (O pai os ama.) Eu amo João. (Eu o amo.) João ama Maria. (João a ama.).

Maurício Borges

Bom dia, Paulo. Bom-dia, Paulo. Como devo escrever?

O cumprimento, Maurício, escreve-se com hífen. Compare: Bom-dia Paulo. Tenha um bom dia. Boa-tarde, Rafael. Tenha uma boa tarde. Boa-noite. Que todos tenham uma boa noite e sonhem com os anjos. Amém.

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