Recado
"A única coisa autêntica no ser humano são suas interjeições."
Sofocleto
Adeus, Bento XVI
"Pra mim chega", decidiu o papa. Missão cumprida, Bento XVI sai de cena. Amanhã se recolhe a cela de convento no Vaticano. Vai rezar. Rezar muito. Enquanto ele conversa com Deus, os cardeais conversam entre si. Preparam-se para eleger o substituto do representante do Senhor na Terra. Que responsabilidade!
O encontro dos prelados que se reúnem para escolher o sucessor de São Pedro tem nome. É conclave. A palavra nasceu latina. Na língua dos Césares, designava parte da casa fechada a chave. Podia ser quarto, sala, biblioteca. No português nosso de todos os dias, o significado se mantém. E avançou.
Por extensão, nomeia a dependência do Vaticano que reúne Suas Eminências. Também seminário, encontro, reunião secreta. Em suma: a palavra caiu na boca do povo. Como diz o outro, a língua não é só viva. É vivíssima.
Filho de peixe
Sabia? Conchavo pertence à família de conclave. O filhote dá nome a acordos feitos em recintos fechados. Não importa que, depois, sejam escancarados, discutidos em público. Os conchavos políticos servem de exemplo, não?
Efeito demonstração
Nós adoramos salamaleques. A língua, flexível como água, se molda a nossos caprichos. Uma das demonstrações de solidariedade da puxa-saco são os pronomes de tratamento. Afinal, nem todos são iguais perante a gramática. Alguns são mais iguais. É o caso das autoridades.
Os poderosos não só têm poder. Precisam demonstrar o poder. O papa, por exemplo, é santidade. Os cardeais, eminências. Os patriarcas das igrejas ortodoxas, beatitudes. Os bispos, excelências reverendíssimas. Sacerdotes em geral, reverendíssimas.
É assim
Olho vivo, moçada. No emprego dos pronomes de tratamento, um cuidado se impõe ; distinguir a 2; e a 3; pessoa. A segunda é a criatura a quem nos dirigimos. Se falamos com o papa, o cardeal, o bispo & cia. abençoada, usamos Vossa. Se falamos sobre a autoridade, damos a vez ao Sua. Assim: Cardeal, Vossa Eminência sabe por que Sua Santidade renunciou?
Menor é melhor
Viva! A lei do menor esforço merece banda de música e tapete vermelho. Com razão. No corre-corre diário, o tempo ocupa o pódio dos bens preciosos. Daí o mandamento ; menor é melhor. Os pronomes, solidários, vão ao encontro das urgências do falante. Oferecem-se em forma de abreviatura. Para lançar mão da facilidade, não bobeie. Use-a como manda a gramática.
Deste jeitinho: papa: Vossa Santidade (V. S.), cardeal: Vossa Eminência (V. Em;), bispos: Vossa Excelência Reverendíssima (V. Ex; Revma.), Sacerdotes: Vossa Reverendíssima (V. Revma.), Padre (Pe.). Em endereçamento, pode ser usado Rvmo. Pe. Fulano de Tal.
Acertos que garantem vagas
Eta palavra manhosa! Próximo muda de time como banhista muda de camisa. Ora se refere a tempo. Aí, anuncia o futuro (na próxima semana, no próximo mês, no próximo ano, no próximo encontro, nos próximos 10 dias). Não abuse. Se tratar do dia da semana em curso, por favor, dê folga ao trissílabo: Maria se casa no sábado. (A ausência do próximo denuncia que é no próximo sábado.)
Ora próximo exprime localização. Se for adjetivo, concorda com o nome a que se refere: João e Rafa são parentes próximos. Maria e Bia ficaram mais próximas do altar. A loja fica próxima uma a outra.
Se locução adverbial, mantém-se invariável ; no masculino singular. Veja: Malu, Carmem e Paulo estavam próximo da mãe (perto). Vivíamos próximo do rio. Próximo ao teatro, havia uma livraria sortida.