Recado
;Uma boa risada
é um raio de sol
numa casa.;
Thackeray
Redação ota mil?
Que coisa! Nova polêmica do Enem. Redações nota 1.000 exibem tropeços primários. Erros de grafia, concordância, regência passam batido pela banca examinadora. Pode? O Ministério da Educação diz que sim. A sociedade esperneia.
Pais querem preparar os filhos para a vida real. No mundo competitivo, só há lugar no topo para os melhores. Os outros se acomodam nos degraus de baixo. Vale a pergunta: quem escreve ;enchergar;, ;trousse; e ;rasoavel; tem espaço no pódio? Não. Que tal recuperar o tempo perdido? Vamos lá.
A turma do en-
Ch ou x? Ops! A resposta é difícil. As regras são poucas; os desafios, sem fim. No caso, os olhos são o grande auxiliar. Eles fixam a grafia como a câmera grava a imagem. Daí a importância da leitura. No caso de ;enchergar; e ;rasoavel;, deu bobeira na moçada. Sabe por quê? Elas se enquadram em duas normas pra lá de conhecidas.
1. Depois do en-, o x pede passagem: enxada, enxoval, enxofre, enxaqueca, enxugar, enxame, enxerto. E, claro, enxergar.
2. Respeito incondicional à família. No reino das palavras, filho de peixe sabe nadar. Se o vocábulo primitivo se grafa com determinada letra, as derivadas vão atrás: armazém (armazenar, armazenamento, armazenzinho), casa (casinha, casebre, casar, casamento), paralisia (paralisar, paralisante, paralisação), atrás (atrasar, atraso, atrasado, traseiro), viajar (viaje, eles viajem), razão (razoável).
O ch não foge à regra: cheio (encher, enchente, encheção, enchimento), charco (encharcar, encharcado), chiqueiro (enchiqueirar), chocalho (enchocalhar), chafurdar (enchafurdar), chumaço (enchumaçar).
É singular sim, senhor
;É fundamental que hajam debates de modo que não hajam diferenças;, escreveu um dos candidatos a vaga na universidade. Entrou no time dos que dizem ;houveram;. Ambos se esquecem de pormenor pra lá de importante. O verbo haver, no sentido de ocorrer e existir, é impessoal. Sem sujeito, só se conjuga na 3; pessoa do singular: É fundamental que haja debates de modo que não haja diferenças. Houve reclamações depois da divulgação das notas do Enem. Havia 100 pessoas na sala.
Manhas da língua
A coluna de domingo respondeu a pergunta do leitor Carlos Matias. Ei-la: ;Francisco é jesuíta. Ao ser anunciado, lembrou a história da ordem no Brasil. Educadores, eles se destacaram na catequese dos índios. Minha pergunta: por que catequese se escreve com s e catequizar com z?; A resposta: ;O sufixo-isar, com s, não existe. Só existe -izar, com z.
Na formação de verbos, o sufixo -ar pede passagem. Se a palavra tem s no radical, as duas letrinhas se colam a ele. Assim: análise (analisar), pesquisa (pesquisar), atraso (atrasar), represa (represar), bis (bisar). Na ausência do s, a saída é abrir alas para o -z. Às vezes, a lanterninha do alfabeto está presente no radical. O -ar cola-se a ela (cicatriz, cicatrizar; cruz, cruzar). Sem o z, aparece o glorioso -izar: canal (canalizar), aval (avalizar), catequese (catequizar);.
Leitores ficaram com o pé atrás. O xis da confusão foi o substantivo catequese. Se o danadinho tem s no radical, por que o verbo é catequizar, com z? A história tem tudo a ver com a localização do s. O sufixo -ar não se cola a ele. Caso se colasse, o verbo seria catequesar. Mas não é catequesar. É catequizar. Reparou? O e virou i. O s bateu asas e voou. Vá com Deus. O mesmo ocorre com ênfase, enfatizar.
Leitor pergunta
É correto dizer as micros na frase: as micros e pequenas empresas? Se correto, é facultativo ou é obrigatório? Para mim,
o correto é micro.
Dionne, lugar incerto
O dicionário, Dione, registra micro em duas categorias. Uma: substantivo (o micro, os micros, no sentido de microcomputador, microcomputadores). A outra: elemento de composição (prefixo): micro-história, microempresas, microsseleção. O dissílabo não aparece como adjetivo. Daí por que se considera prefixo o emprego em micro e pequenas empresas.