Dad Squarisi
postado em 09/04/2014 14:00
Recado;Pra quem lê nunca falta assunto.;
Bienal de Brasília
Popozudas, boazudas e peitudas
Vamos combinar? Vida de professor não é mole. Salas cheias, alunos desinteressados, material didático fraco, competição com os games e a generosidade da internet tornam a tarefa do mestre missão quase impossível. Mas ele não desiste. Lança mão de criatividade e recursos disponíveis pra chamar a atenção da moçada.
Escola do Distrito Federal não deixou por menos. Aproveitou a popularidade da funkeira Valesca Popozuda e a levou pra sala de aula. Ela pintou em prova de filosofia. Eis o enunciado: ;Segundo a grande pensadora contemporânea Valesca Popozuda, se bater de frente;; A questão caiu na rede. E, claro, na boca do povo.
Em meio à tempestade de críticas, uma pergunta se impôs. De onde vem a palavra popozuda? O dicionário responde. Ela está no verbete popô. Forma informal de popa, quer dizer traseiro. O sufixo -uda entra em cartaz. Ele forma adjetivos derivados de substantivos com noção de provido ou cheio de.
Não existem aumentativos inocentes. Eles transmitem sentimentos de afeto, desprezo, ironia. Mulherão, por exemplo, é muito mais que mulher grande. O filhão não raro usa fraldas. Trapalhão desperta risos. Uda não foge à regra. Também transmite conotação pejorativa ou irônica. Exemplos pululam pela língua. É o caso de pernuda, beiçuda, cabeçuda, peituda, orelhudo, barrigudo, pontudo, narigudo, testudo.
Popozuda e boazuda tem um z intrometido. Por quê? Porque o sufixo não pôde se colar ao radical. Pediu a ajuda de uma consoante de ligação. O z funciona como ponte que junta as duas partes: popoZuda, boaZuda.
Sem plural
Há palavras que têm plural. Mas dispensam-no. Poderoso, o singular dá o recado. É o caso de material. Ao dizer material escolar, englobam-se livros, cadernos, lápis, estojos, mochilas. Material de construção remete a tijolo, madeira, areia, cal, tintas, pincéis. Material esportivo abarca uniforme, bola, rede, peteca, dominó etc. e tal.
Óbvio? Está na cara. É assim que falamos e nos entendemos. Mas, pra razão que nem Deus entende, jornais deram pra escrever materiais escolares, materiais esportivos, materiais de construção & cia. polivalente. Bobeiam. Melhor ficar com o singular. Ele, sozinho, fala e diz. Xô, plural!
Por falar em número...
Pobre língua! Ela apanha todos os dias, a toda hora. Jornais, rádios e tevês a espancam a torto e a direito. Vale o exemplo do comentário em que se falava do preço dos estádios construídos para a Copa. Um entrevistado escandalizou-se com uma cifra. Anunciou-a com todas as sílabas ; 1,9 bilhões. Insatisfeiro, repetiu-a. O apresentador não deixou por menos. Frisou-a ; 1,9 bilhões.
Tomados pela indignação, eles se descuidaram da concordância. Esqueceram-se de pormenor pra lá de ardiloso. Milhão, bilhão, trilhão & cia. ricaça ficam de olho no número que vem antes da vírgula. É ele que dita o singular ou plural. Assim: 1,9 bilhão, 9,5 bilhões, 1,4 milhão, 2,6 milhões, 1,3 trilhão, 2,4 trilhões.
Santidade e majestade
A rainha se encontrou com o papa. O fato mereceu fotos e comentários na mídia. O assunto de um deles era a lembrancinha que Francisco deu a Elizabeth. Lá estava: "A soberana recebeu um presente de lápis lázuli. Leitor atento, Temístocles Castro viu. Não deixou por menos. Encaminhou à coluna a correção. A pedra se chama lápis-lazúli.
Leitor pergunta
Qual o correto: alegoria do bom e do mau cavaleiro ou alegoria do bom e do mau cavaleiros.
Hamilton Junqueira, BH
O adjetivo concorda com o substantivo a que se refere: bom e mau cavalheiro, bons e maus cavalheiros.
Os juízes escrevem nas sentenças:
Homologo por sentença para que produza seus jurídicos e legais efeitos. O correto é produza ou produzam?
João Siqueira, lugar incerto
O verbo concorda com o sujeito. No exemplo, o sujeito oculto é sentença (para que a sentença produza). O singular, por isso, pede passagem. Abra-lhe alas.