Os professores da Universidade de Brasília (UnB) reafirmaram a decisão de por fim à greve que durou quase três meses. Em assembleia na manhã desta sexta-feira (24), 478 docentes votaram pela retorno às atividades e 445 contra. O local estava cercado, desde o início do encontro, para garantir que apenas os docentes votassem.
A votação teve início ao meio dia e dois encaminhamentos foram colocados em pauta, a retomada da paralisação e a volta às aulas. Durante a decisão do primeiro encaminhamento, um dos membros da mesa informou que havia 870 participantes presentes. Quando o número de professores a favor da retomada chegou a 445, alguns docentes comemoraram o retorno do movimento. O número total de participantes, no entanto, não estava correto. Foram contabilizados 923 votos no total e 478 professores votaram a favor da volta às aulas, o que confirmou o fim da greve.
Integrantes do comando local de greve, porém, levantaram a possibilidade de fraude. Segundo Thér;se Hofmann, primeira vice-presidente da Associação dos Docentes da UnB (AdUnB), a votação foi legítima, confirmando a decisão tomada na sexta-feira passada (17/8), que também foi contestada pelo comando local de greve.
Polêmicas do resultado
Após o resultado da assembleia, dois fatos causaram polêmica e discussões no local. O primeiro é o número de docentes que assinaram a lista de presença, que difere do número de professores que votaram, o que, de acordo com Thér;se, também não compromete a legitimidade da decisão.;Não fizemos a contagem dos presentes na lista, mas é claro que nem todos assinaram. O número de presentes que assinaram não é o mesmo dos que votaram. Isso não tira a legitimidade da maior assembleia da história da UnB;, explica.
O segundo fato polêmico foi a suposta movimentação de professores para votarem mais de uma vez. Na votação a favor da retomada da greve, o professor Rodrigo Dantas, do departamento de filosofia, fez a contagem de pessoa por pessoa dos que tinham levantado o cartão de votação. No segundo momento, Ebnezer Nogueira, ex-presidente da AdUnB, fez a contagem dos que votaram pela volta às aulas.
Depois que o número de professores que queriam o fim da greve alcançou 478, Rodrigo Dantas declarou que era uma fraude e que tinha visto professores se movimentando durante a contagem para poder votar duas vezes. Ele está inconformado com o resultado da assembleia: ;Não aceitamos esse resultado, esse é o segundo golpe em assembleia para que a greve termine. Queremos uma nova assembleia em que um dos pontos de pauta seja a destituição da diretoria da AdUnB;.
Thér;se Hofmann questiona a validade das declarações sobre fraude na votação. ;Duas assembleias já registraram a vontade da maioria dos professores de voltar às aulas. Não há golpe. Só questionam o resultado da assembleia quando ele não agrada;, afirmou.
[SAIBAMAIS]Fim da negociação
Pouco antes de a votação na UnB começar, o governo federal reafirmou que não vai reabrir as negociações com os docentes em greve. Os ministérios da Educação e do Planejamento informaram que o processo foi encerrado com a assinatura do acordo com a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes). O reajuste proposto varia de 25% a 40% e os níveis da carreira foram reduzidos de 17 para 13.
Na última quinta-feira (23) o Andes-SN protocolou uma contraproposta junto ao Ministério da Educação com algumas modificações com relação à proposta original. Segundo a entidade, a modificação preserva a natureza do trabalho acadêmico conforme a proposta de carreira docente do sindicato, mas reduz os valores da malha salarial, aceitando o piso e teto propostos pelo governo, além de reduzir os degraus entre níveis remuneratórios de 5% para 4%.
Entenda o caso
A paralisação dos docentes da UnB começou em 21 de maio e terminou na sexta-feira passada (17/8), em decisão polêmica. A instituição foi a primeira ligada ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) - responsável pela deflagração da greve nacional em 17 de maio - a deixar o movimento, além do câmpus de Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Desde de o fim do mês de julho o , pois a direção da AdUnB passou a apoiar a segunda proposta de reestruturação da carreira feita pelo governo, o que foi de encontro ao que defendia o comando local de greve (CLG), que queria a radicalização do movimento.
Para o CLG, o fim da greve na universidade foi um , que colocou em votação um ponto que não estava previsto na pauta da assembleia. No início da semana, o comando recolheu mais de 10% das assinaturas dos docentes associados à AdUnB e protocolou um pedido de assembleia auto-convocada para discutir a decisão e votar uma possível retomada da paralisação. Seguindo os prazos regimentais, a associação marcou a assembleia para esta sexta-feira (24).
Colaborou Roberta Abreu