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Professor reiventa alfabetização para crianças carentes e leva o "Nobel"

Dad Squarisi
postado em 19/11/2012 10:53

Doha (Qatar) ; O mundo está em crise? Está. Estados, economias, instituições, modelos, crenças veem as bases ruírem. O desafio: buscar respostas capazes de apontar saídas e construir novos paradigmas. O maior deles é o da educação. Há que criar alternativas inovadoras aptas a oferecer formação de qualidade a baixo custo. No século 21, contingentes até há pouco marginalizados pedem inclusão. Para ultrapassar os obstáculos impostos pela exclusão, não basta oferecer-lhes alternativas. Impõem-se alternativas de qualidade.

Muitos se empenham na busca. O Prêmio Wise de Educação, considerado o Nobel do setor, seleciona o melhor projeto levado avante nos cinco continentes. O de 2012 foi concedido a Madhav Chavan. Com doutorado nos Estados Unidos, Chavan retornou à Índia em 1986 e lecionou química na Universidade de Mumbai. Ficou chocado com as dificuldades da população carente e se dispôs a fazer algo. Para educar e alfabetizar milhões de pessoas com custo mínimo, desenvolveu uma fórmula científica simples ; que inclui monitoramento e avaliação quantitativa e qualitativa (adesão, instalações e resultado do aprendizado). Uniu forças com o governo local e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Movia-o uma certeza: a educação era a maior barreira ao desenvolvimento do país. Para ultrapassá-la, urgia garantir o acesso a escola que oferecesse ensino de excelência.

Resultado: da combinação de três elementos; infraestrutura governamental, recursos corporativos e ações de voluntariado dos cidadãos;obtiveram-se respostas que ultrapassaram as expectativas na oferta de alfabetização a crianças das favelas deMumbai. Além disso, a fórmula foi bem-sucedida em testes de escalabilidade e replicabilidade. Com isso, difundiu-se rapidamente país afora. Hoje, 17 dos 28 estados indianos a aplicam com sucesso.Mais: o modelo atravessou fronteiras. Países da Ásia e da África o adotaram.

Programas

A Pratham, ONG que tem Chavan como cofundador e CEO, ganhou dimensão e importância surpreendentes. É a maior instituição não governamental destinada à alfabetização e ao desenvolvimento de habilidades matemáticas básicas para crianças carentes na Índia.Os programas vão da educação pré-escolar,passam pela alfabetização computacional e pelo apoio ao aprendizado para crianças que frequentam instituição de ensino e também para as que estão forada escola, echegam ao treinamento vocacional e programas especiais para meninos e meninas em situações vulneráveis ou que estão no mercado de trabalho.

Ao receber o Prêmio Wise, Madhav Chavan declarou: ;Há cerca de 25 anos, percebi que seria necessária nova forma de pensar para que pudéssemos melhorar a condição de vida de milhões de pessoas carentes no meu país.Muitos indivíduos e organizações contribuíram para que alcançássemos esse objetivo. Gostaria de compartilhar esta homenagem com eles. OWise busca uma missão similar em escala global, e gostaria também de parabenizar a cúpula por sua visão corajosa e enfoque inclusivo. Este prêmio é um grande marco que me faz lembrar do quanto ainda precisa ser feito. Para mim, é uma honra imensa ser reconhecido por esta comunidade única de inovadores. Espero realizar as tarefas que tenho pela frente como embaixador global para a educação da melhor forma possível;.

Direitos roubados

Sob a liderança da primeira-dama do Catar, sheikhaMoza bint Nasser, o Wise promove um encontro anual internacional que serve de plataforma única e local para a reunião de líderes e especialistas que compartilham as melhores práticas de educação. Na abertura da reunião deste ano, a sheikha denunciou que milhões de crianças estão sendo roubadas em seu direito fundamental de receber educação de qualidade. Pobreza, preconceitos, conflitos e desastres naturais expulsam 61 milhões de meninos e meninas da escola e lhes cassam, irremediavelmente, o acesso ao futuro. Eles estão sobretudo na África, na Ásia e no Oriente Médio.

Guerras desorganizam vidas organizadas. Crianças e adolescentes que frequentam normalmente as salas de aula se veem obrigados a abandonar os lares para buscar refúgios seguros. Privam-se, assim, de continuar os estudos. São, hoje, 28 milhões de pessoas. O programa global Educate a Child (EAC), lançado pela primeiradama do Catar, trabalha para subsidiar escolas e centros de ensino a fim de dar condições para a continuidade da educação longe de casa.

O EAC financia 25 projetos espalhados por África, Ásia e Oriente Médio. São 500 mil crianças ; pouco, considerado o contingente de excluídos. Daí a necessidade de parcerias. Governos, ONGs, instituições multilaterais, fundações, empresas e pessoas físicas contribuem para o projeto. Entre os apoiadores, estãoUnesco, UNHCR, Bharti Fondation e Global Partnership for Education.

Emoção marcou o anúncio do programa levado avante pela sheikaMoza. AlekWek, a modelo sudanesa que sofreu as violências da guerra e dos preconceitos, contou a própria história comoexemplo da importância da educação. O ex-primeiro-ministro inglês Gordon Brown lembrouMalala, garota paquistanesa que se tornou símbolo das crianças pelo direito à educação. Suad Mohamad, estudante e agora diretora da escola do campo de refugiados de Kakuma (Quênia), narrou a trajetória que a fez chegar ao lançamento do EAC. Oator Robert de Niro emprestou a voz para narrar o vídeo que apresentou beneficiários do programa. (DS)

Este prêmio é um grande marco que me faz lembrar do quanto ainda precisa ser feito;
Madhav Chavan, cofundador e CEO da ONG Pratham, vencedor do Prêmio Wise 2012

O desafio de ensinar
A entrega do Prêmio Wise foi feita na reunião da 4; edição do World Innovation Summit for Education (Wise), realizada esta semana em Doha, Catar. Em inglês, wise quer dizer sábio, sensato. Não é por acaso que a palavra dá nome a uma das mais importantes iniciativas mundiais no âmbito da educação. Criado em 2009 pela Qatar Foundation, o Wise se propõe desenvolver o futuro da educação por meio da inovação. Persegue três metas principais. Uma: abordar os desafios da educação no século 21. Outra: ampliar o diálogo sobre o tema nos cinco continentes. A última: implantar soluções práticas e sustentáveis aptas a responder as questões que se avolumam. Durante o ano, o projeto se dedica a alcançar locais distantes dos círculos tradicionais da comunidade educacional para promover a inovação e realizar ações concretas.

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