Gustavo Aguiar
postado em 11/06/2013 11:18
Chega a 10.622 o total de atestados apresentados pelos professores da rede pública no Distrito Federal durante os cinco primeiros meses deste ano, número que preocupa o sindicato da categoria (Sinpro-DF). Segundo a Secretaria de Educação, cerca de 1,8 mil docentes temporários estão em sala de aula por causa de afastamento dos efetivos. Mesmo assim, o contingente não é capaz de impedir que os estudantes fiquem sem atividades curriculares, o que prejudica o bom andamento do ano letivo. No Centro de Ensino Médio Júlia Kubitschek, na Candangolândia, pelo menos cinco professores apresentaram atestado médico e não compareceram às aulas na semana passada. ;Teve turma que ficou um dia inteiro sem aula e não tinha o que fazer;, afirma o estudante Matheus Brandão, 15 anos.
Ontem, o colégio precisou manter o ritmo das aulas mesmo na ausência de dois docentes. Por causa das ausências frequentes, uma turma fez abaixo-assinado para conseguir ser liberada mais cedo nos dias em que não houver aula por falta de professores. Desde o início do ano, no entanto, a escola não permite que os estudantes saiam antes do horário devido aos casos de violência registrados na região.
Segundo a diretora da secretaria de saúde do Sinpro-DF, Gilza Camilo, os professores estão cada vez mais doentes. O estresse, em sua avaliação, é um dos maiores vilões da categoria. ;O bom professor se envolve com os alunos e não consegue separar a vida pessoal do trabalho. Mesmo depois de tanta dedicação, ele não se sente valorizado;, ressalta. Ela diz que a ajuda de custo mensal para a saúde do servidor da educação, de R$ 200, é insuficiente.
A professora de matemática Emiliana Guilherme, 49 anos, leciona há 16, cinco deles na escola da Candangolândia. Ela conta que está rouca e cansada, mas, ainda assim, procura motivar e incentivar os estudantes a participarem das aulas. O desinteresse deles, no entanto, frusta Emiliana. ;Na sala de aula, professor tem que ser pai e mãe. Somos ameaçados constantemente e vamos dar aula com medo;, desabafa. Ela chegou a enfrentar uma situação complicada na última semana, quando repreendeu um estudante falando que ele precisava de mais educação. O garoto quase a agrediu.
Por causa de situações como essa, a professora de ciências naturais Cláudia Ferreira, 47 anos, do mesmo colégio, chegou a ficar dois anos afastada por depressão. No fim de 2012, ela também precisou ficar fora de sala de aula para tratar de um outro problema de saúde. ;Estou dando aulas hoje sob efeito de remédios contra dor, mas esse sofrimento não vale à pena. Não temos preparo psicológico para lidar com os problemas de todo mundo.; A professora calcula que é responsável atualmente por cerca de 240 alunos em 16 turmas do 5; ao 9; ano. ;Hoje, ninguém quer ser professor, porque sabe que essa não é uma profissão valorizada;, critica.
Sem aulas
Os alunos reclamam da frequência com que ficam sem aulas por causa da ausência de professores . ;É normal faltar um ou dois por dia;, conta a estudante Joselita Barros, 14 anos. Para ela, o maior problema é o desperdício de tempo. ;A gente fica jogando, conversando. Melhor seria se fôssemos liberados mais cedo.; Cícero Silva, 61 anos e pai de uma aluna, discorda. ;Mesmo sem aula, é melhor que eles fiquem dentro da escola do que aprontando na rua;, argumenta.
Em nota, a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Educação informou que o adoecimento do professor ;não está restrito ao ambiente profissional;. A pasta destacou ainda que o Governo do DF criou a Subsecretaria de Atenção à Saúde do Trabalhador. Com isso, uniformizou as ações relativas à saúde dos servidores em todos os órgãos do Executivo. Além disso, descentralizou a gestão pedagógica e vem promovendo a humanização das relações entre os funcionários atendidos e os médicos da Coordenação de Saúde Ocupacional, responsável pela perícia médica na Secretaria de Educação.